Manaus, AM — Assustadores monstros de livros de fantasia e simpáticos personagens de histórias infantis foram a inspiração de pesquisadores do Instituto Butantan para batizar sete novas espécies de aranha, descobertas nas cavernas no Floresta Nacional de Carajás, no Pará.
A descrição das novas espécies é resultado de um trabalho de 5 anos, com a coleta de cerca de 2 mil espécimes. O resultado foi publicado nesta quarta-feira (10) no jornal científico de acesso aberto Zookeys.
As sete espécies pertencem ao gênero Ochycera, encontrado nas regiões tropicais do continente americano, desde o México até o Peru, incluindo a Amazônia. O gênero está incluído em um grupo de minúsculas aranhas de seis olhos, que chegam a pouco mais de dois milímetros de comprimento.
Apesar de viverem no subsolo, essas aranhas não possuem adaptações exclusivas das espécies que vivem nas sombras, com perda de pigmentação ou redução e até ausência de olhos. São chamadas de espécies troglófilas edáficas, ou seja, podem viver longe do sol, mas não nas áreas mais profundas. Elas vão ao subsolo, porém têm condições de chegar à superfície. Entre as novas espécies, duas foram coletadas já fora das cavernas.
Conheça as espécies:
Ochyrocera varys
Teve o nome inspirado no Lorde Varys, da série Game of Thrones, adaptação da coleção de livros As Crônicas do Gelo e do Fogo, de George R. R. Maring. Lorde Varys é conhecido na série como “O Aranha”, devido a sua capacidade de manipular pessoas e habilidade de criar e comandar redes de espiões em dois continentes. “Lorde Varys é um personagem com espírito venenoso, conhecido como uma aranha no enredo”, justificam os autores no artigo.
Ochyrocera atlachnacha
Referência ao Deus Aranha Atlach-Nacha, do universo criado pelo autor de livros de terror H.P. Lovecraft. Atlach-Nacha, conforme os pesquisadores definem no artigo, “é uma entidade sobrenatural da mitologia de Cthulhu (criada pelo escritor) que se assemelha a uma enorme aranha com um rosto quase humano”. Ela vive em cavernas sob montanhas e tece uma teia que, segundo a ficção, liga o mundo real à Terra dos Sonhos.
Ochyrocera laracna
Uma das duas espécies que receberam nome inspirado na obra de J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis. Laracna era aquele aracnídeo gigante que ataca Sam e Frodo quando eles estão nas cavernas a caminho de Mordor, em O retorno do rei, o terceiro livro, e filme, da série O Senhor dos Anéis.
Ochyrocera ungoliant
Nome tirado de outra obra de Tolkien, O Silmarillion, um apanhado de escritos deixados pelo autor, publicados após sua morte, pelo filho. Recebeu o nome retirado na mãe da Laracna, que aparece em outro livro, o Silmarillion, que conta eventos ocorridos antes dos descritos em O Senhor dos Anéis. Segundo a história, ungoliant significa Aranha Negra, em élfico.
Ochyrocera aragogue
Esta foi inspirada em Harry Potter, série de livros escrita por J.K. Rowling que ganhou adaptação para o cinema. O nome é uma referência a Aragog, uma aranha gigante de oito olhos, capaz de comer e se comunicar com seres humanos. No segundo volume da série, Harry Potter e a Câmara dos Segredos, ele confronta o herói e o amigo Ron Weasley.
Ochyrocera misspider
Depois de tantos monstros, um personagem inocente de obras feitas realmente para crianças. O nome dessa aranha foi inspirado na personagem de livros infantis Miss Spider, criada por David Kirk. Miss Spider é lembrada pela frase, “Seja bom para os insetos, todos eles”.
Ochyrocera charlote
Outro nome que veio de obras para crianças. Charlote é personagem do livro A Aranha e o Porquinho, de E.B.White. É uma grande amiga do porquinho chamado Wilbur.
Saiba Mais
Leia Também
Leia também
Aranhas, escorpiões e insetos da Amazônia em fotos
Veja imagens de insetos e artrópodes impressionantes encontrados durante a expedição Cicloamazônia, travessia de bicicleta pela Transamazônica. →
Uma aranha gigante brasileira
A homenageada do ((o))eco esta semana é a caranguejeira-rosa-salmão-brasileira, a segunda maior tarântula do mundo. Foto: George Chernilevsky →
Organizando os armários de tarântulas
Pesquisadores do Instituto Butantan, de São Paulo (SP) propõe nova classificação para tarântulas do grupo Avicularia, descrita pela primeira vez no século XVIII por Carl Linnaeus →
Myrmecophaga tridactyla = comedor de formiga com 3 dedos! Isso sim é um nome científico perfeito, ilustrativo do animal em questão…não ficar botando nominho de personagem de filme e gibi
Excelente!!!! Ciência é algo divertido e deve continuar assim. Os mal-humorados é que dão um nome ruim à empreitada da descoberta
Palhaçada! Os nomes científicos deveriam estar relacionadas as características (morfológicas, geográficas, etc…) da espécies, e não servir pra homenagens, auto-ostentação ou outras baboseiras. Taxonomia tá virando selfie!
Nomes científicos são usados para homenagem desde a época de Lineus. São uma primazia de quem descobre a espécie, e isso pode desagradar quem não descobriu nada, mas \_(ツ)_/¯
Qualquer poça d'agua tem uma espécie endêmica de rivulídeo…
Desde o século 18 espécies recebem nomes científicos que fazem referência não apenas a características morfológicas, mas à localidade onde foram descobertas, homenageiam colegas/familiares do descobridor, personalidades contemporâneas, ou personagens/divindades dos mais diversos panteões, especialmente o greco-romano. Com o tempo, nomes em referência a personagens da literatura/cinema foram surgindo. Além disso mostrar um pouco da personalidade do(s) taxonomista(s), atrai atenção para o estudo em questão e pode até mesmo fazer com que jovens se interessem pela taxonomia/sistemática.
E o que importa à ciência a tal "personalidade do taxonomista"? Francamente…
À ciência em si não importa nada. O nome científico é apenas um nome, um rótulo. Muitas vezes dá-se um nome em referência à localidade de descoberta ou a uma característica da espécie e tempos depois a mesma é descoberta em outras regiões, outro estado, outro país… descobrem-se outras espécies próximas que possuem a mesma característica que deu nome à primeira. Poder criar nomes que façam referência a qualquer outra coisa (até mesmo baseados em combinações aleatórias de letras) é um ponto muito positivo do Código Internacional de Nomenclatura Zoológica. E, como eu disse anteriormente, nomes diferentes, chamativos, podem atrair a atenção de possíveis futuros taxonomistas, uma ciência que, apesar da importância, é até hoje bastante desprezada.