Pesquisadores descobriram uma nova espécie de peixe no interior da Paraíba. O batismo da espécie foi feito ao som de forró e samba, com uma homenagem a Jackson do Pandeiro [1919-1982], compositor brasileiro natural do município de Alagoa Grande, situada na bacia do rio Mamanguape, uma das localidades onde o Parotocinclus jacksoni foi encontrado.
O pequeno peixe pertence ao grupo dos cascudos, também chamados de limpa-vidros, devido a sua bocarra em formato de ventosa. Um indivíduo adulto pode medir até 4,1 centímetros, menor que a palma da mão humana. O peixe, de coloração acinzentada, possui características singulares, como a ausência de manchas arredondadas, típicas em outras espécies da região, e a presença das pontas da nadadeira caudal transparentes.
Além da coleta feita em Alagoa Grande que rendeu o batismo científico-musical, o P. jacksoni também foi coletado em outros seis municípios paraibanos na bacia do rio Mamanguape, com uma área de ocorrência que os pesquisadores calculam em 118km². Curiosamente, apesar da bacia estar localizada na área de transição entre biomas, com uma porção em domínio da Caatinga e outra na Mata Atlântica, o pequeno jacksoni aparenta ser um típico catingueiro, uma vez que a espécie foi encontrada apenas do lado da Caatinga da bacia. Além disso, ocorre sempre em áreas de correnteza, que são o habitat típico deste tipo de peixe.
“Esses peixes são chamados de cascudos, chupa-pedras ou limpa-vidros porque têm a boca ventral que forma uma ventosa e normalmente esses peixes são encontrados só em áreas de correnteza, onde tem muita pedra, nas quais eles conseguem se fixar com a boca e ali mesmo eles vão se alimentando do lodo das pedras. Por isso que uma ameaça ao grupo desses peixes são, por exemplo, as barragens, porque são estruturas que fazem a água deixar de correr e a água parada pode afetar as populações destes peixes, que são adaptados às áreas de correnteza”, explica Telton Ramos, um dos pesquisadores por trás da descoberta do P. jacksoni e um dos autores do artigo que descreve a espécie, publicado no periódico científico Journal of Fish Biology na última sexta-feira (16).
Apesar da potencial ameaça citada por Telton, os próprios pesquisadores reconhecem que o atual estado de conservação do P. jacksoni não parece preocupante. Tanto pela sua ampla distribuição e abundância na bacia do rio Mamanguape, quanto pela sua presença em áreas protegidas, como a Área de Proteção Ambiental do Roncador e o Parque Estadual da Mata do Pau Ferro.
O gênero Parotocinclus, ao qual pertence o jacksoni, é o mais diverso da família dos cascudos (Loricariidae), com 14 espécies descritas apenas na última década. Apenas nos cursos de água doce da região nordeste há 21 espécies do gênero reconhecidas pela ciência.
Leia também
Governo cria grupo interministerial para discutir lista vermelha de espécies de peixes
Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura vão avaliar e recomendar ações de conservação e uso sustentável para espécies de peixes ameaçados. Composição do colegiado será definido por Salles →
Transposição do São Francisco leva peixe invasor à bacia do rio Paraíba do Norte
Pesquisadores identificaram uma espécie invasora no primeiro açude da bacia do rio Paraíba do Norte a receber águas do rio São Francisco e alertam pros riscos de desequilíbrio ecológico →
Ampliação de rodovia pode extinguir peixe endêmico do Ceará
A duplicação da CE-452 (Av. Torres de Melo) aterrou parte das lagoas que são o único habitat conhecido de um peixe das nuvens ameaçado. Após denúncia, obra foi embargada e aguarda novos estudos →
Essas energias renováveis…