Na última sexta-feira, 16, Dia Mundial da Alimentação, o podcast Vozes do Planeta trouxe como temas centrais a conquista do Prêmio Nobel da Paz para a Agência de Alimentação das Nações Unidas e a lei que autoriza estabelecimentos doarem alimentos não comercializados. A apresentadora Paulina Chamorro conversou sobre esses assuntos com Dani Leite, idealizadora da plataforma Comida Invisível. A edição n° 154 ainda trouxe como pauta a reportagem de ((o))eco sobre um artigo que apontou como condição para a preservação de 71% das espécies ameaçadas de extinção a restauração de 30% de áreas prioritárias.
De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), divulgado em 2019, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo por ano. Como reconhecimento dos esforços para reduzir este dado, o Nobel da Paz foi entregue para o programa da ONU que atua na distribuição de alimentos em países onde há maiores riscos de desnutrição por conta de conflitos ou emergência.
A entrevistada Dani Leite considera que a premiação da agência transmite uma importante mensagem sobre a alimentação para países em situação de conflitos. “É de suma importância esse reconhecimento, especialmente a ênfase que foi dada para esse prêmio quando falaram que é para a gente não usar fome como arma de guerra. E é justamente essa razão de existir a agência da ONU”, afirmou.
Dani é fundadora do Comida Invisível, um hub de soluções inovadoras para a redução do desperdício e da má distribuição de alimentos. Dentre as atividades da iniciativa estão a conscientização da sociedade sobre o tema, o trabalho de políticas públicas e legislação no combate ao desperdício de alimentos e a plataforma virtual de doação alimentar. “A plataforma do Comida Invisível foi chamada por muitos de ‘tinder do combate ao desperdício’, pois conecta quem tem alimentos bons e próprios com quem precisa deles e dá match. Então junta a fome com a vontade de comer”, contou.
A criadora da iniciativa considera que os altos números de desperdício de alimentos refletem a falta de conhecimento da sociedade sobre todo o processo e recursos envolvidos na produção alimentar. “Florestas podem ser dizimadas se a gente não tem uma adequação na questão da produção e do escoamento desses alimentos. A gente acaba comprometendo áreas muito maiores do que as áreas que a gente deveria comprometer. Esse desperdício está em toda a cadeia. E quando a gente joga um alimento no lixo a gente precisa prestar muita atenção nisso e honrar todo aquele trabalho que foi feito, um trabalho gigante para que o alimento estivesse em nossa mesa”, explicou a entrevistada.
“Desperdício é um hábito. Nós todos somos, em maior ou menor grau, desperdiçadores. E a gente precisa entender os impactos desses nossos desperdícios no planeta para as outras pessoas.”
O Brasil possui um guia alimentar que incentiva o consumo mínimo de alimentos ultraprocessados. De acordo com a cartilha do Ministério da Saúde, publicada em 2014, a população deve priorizar alimentos in natura, de pequenos produtores. Essa recomendação contrariou representantes da indústria alimentícia que criticaram a ausência de preocupações com o setor privado. Em uma nota técnica, o Ministério da Agricultura se posicionou contra diversos pontos do guia e solicitou a retirada de menções aos alimentos ultraprocessados. Com a repercussão da nota, um grupo de cientistas de países como Estados Unidos, Canadá e África do Sul – dentre outros – enviou uma carta em defesa do documento para o órgão que cuida da agricultura nacional, ressaltando que as críticas não têm fundamentos válidos.
“Se a gente for olhar toda a área de plantio do Brasil só apenas 30% é área destinada à alimentação humana. Os outros 70% são destinados à alimentação animal, com plantios de milho e de soja que serve para alimentar gado. Dessa faixa de 30%, a grande maioria é de pequenas propriedades, é do pequeno agricultor. Então fomentar esse tipo de agricultura é fomentar alimentos in natura, que são os principais alimentos de uma dieta equilibrada e balanceada.”
Outro ponto abordado no programa foi a criação da lei n°14016, de 2020, sancionada em junho, que autoriza comércios a doarem alimentos e refeições não comercializados e próprios para o consumo. Dani, que também é advogada, avalia que a mudança da legislação vai diminuir o medo de comerciantes doarem alimentos. “Essa lei traz de uma forma bastante clara essa questão (da responsabilidade civil) e permite a doação em todas as etapas de produção”, contou.
Planejamento para evitar a extinção
No segundo bloco, Paula comentou sobre a reportagem de ((o)) eco, publicada na última semana, sobre um artigo que apontou a restauração de 30% de áreas prioritárias como sendo condição fundamental para a preservação de 71% das espécies terrestres ameaçadas de extinção. Publicado na revista Nature, o estudo foi assinado por 27 pesquisadores de 12 países. A restauração também absorveria o 465 bilhões de toneladas do carbono na atmosfera, o que equivale a quase metade (49%) do acumulado nos dois últimos séculos.
A reportagem, produzida pela jornalista e mestre em ciências biológicas Carolina Lisboa, ouviu o autor principal do estudo, Bernardo Strassburg. O professor considera que apontar planos e metas, como a apresentada no artigo, é uma medida necessária para conter crises climáticas e as ameaças à biodiversidade.
Confira aqui na íntegra a última edição do podcast Vozes do Planeta:
*((o))eco é parceiro do podcast Vozes do Planeta e faz participações regulares no programa
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Nao é Dani Lima. É Dani Leite 🙂
Ta errado o nome da fundadora do Comida Invisivel, é Daniela Leite.