Reportagens

Refúgio cinco estrelas

Um complexo para animais silvestres às margens do reservatório de Itaipu (PR) dá exemplo de como cuidar da fauna com procedimentos limpos e sustentáveis.

Romeu de Bruns Neto ·
4 de março de 2005 · 20 anos atrás


O médico-veterinário Wanderlei de Moraes, que trabalha desde 1988 no local, é o responsável técnico pelo complexo e não disfarça o orgulho quando conta como tudo foi planejado. “O refúgio não tem similar no país”, garante. Segundo ele, a própria construção procurou reduzir ao máximo os impactos ambientais. A luz natural é aproveitada, um aquecedor solar foi instalado no hospital, a água da chuva é coletada para o uso nos banheiros e um gerador eólico toca a bomba d’água, entre outros detalhes ecologicamente corretos. “Procuramos empregar técnicas sustentáveis para fazer do refúgio um grande exemplo de educação ambiental”, diz Moraes.


Uma ilha de edição controla quatro sinais de vídeo que vêm da sala de cirurgia (uma câmera no alto, uma câmera móvel, o ultrasom e a videolaparoscopia, que fornece imagens do abdome) e permite aos estudantes e pesquisadores acompanhar em detalhes toda a operação.

Além de atender as áreas de criadouro e de mostra, o hospital presta socorro a animais do Parque Nacional do Iguaçu, mais comumente em casos de atropelamento. Atua também em parceria com instituições como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, a Associação Mata Ciliar, de Jundiaí (SP), e o Zôo de São Paulo. Todos eles, em projetos de monitoramento de animais em vida selvagem e reprodução em cativeiro.


Wanderlei de Moraes explica que uma das idéias do hospital é trabalhar com tecnologias economicamente viáveis. Por isso, os procedimentos se concentram em diagnóstico e técnicas de reprodução. Um transplante de órgãos, por exemplo, exigiria transfusão completa de sangue e não há equipamentos para isso.


Também no zoológico é visível a preocupação com o fluxo de atividades. “Os zôos, em geral, montam primeiro o seu plantel e depois pensam no que fazer com ele. Aqui, nós refletimos antes sobre o que queremos transmitir em termos de educação ambiental para, então, construir os recintos”, explica Moraes. A trilha que corta o zôo é organizada de forma didática. Os animais estão dispostos ora de acordo com a cadeia alimentar, ora de acordo com hábitos. “Em uma área posso transmitir o conceito de caça, em outra de como é a vida de animais noturnos”, exemplifica.

Além do médico-veterinário, Itaipu mantém no refúgio dois biólogos, um técnico, um auxiliar e mais três estagiários. A equipe é completada pelo pessoal terceirizado, incluindo 22 funcionários da empresa Ecocity, de Santa Terezinha de Itaipu (PR), especializados no tratamento e limpeza dos animais, e um veterinário que cuida do “cardápio” dos bichos.

Com 1.920 hectares, o refúgio recebeu investimentos de US$ 2 milhões nos últimos três anos. O complexo é resultado de ações que começaram praticamente com a construção de Itaipu, em 1978, com o resgate dos animais da área a ser inundada pelo reservatório. Moraes conta que, em 1988, veio de São Paulo para participar da reestruturação dos projetos de fauna da binacional e acabou ficando. “O que me levou a aceitar trabalhar aqui foi a possibilidade de começar um projeto com a conservação e criação de animais silvestres praticamente desde sua concepção”.


* Romeu de Bruns Neto é jornalista formado pela UFPR. Trabalhou como repórter especial da Gazeta do Povo. Vencedor do Prêmio Esso Regional Sul 2000, atualmente colabora com reportagens para as revistas Amanhã (do Rio Grande do Sul) e Idéias (do Paraná). O repórter viajou a convite da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

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