Às vésperas da sanção da Lei de Biossegurança, que libera o plantio de transgênicos, o Brasil sobe para o segundo lugar no ranking mundial de produtos orgânicos. A agricultura orgânica ocupa 6,5 milhões de hectares no país, ficando atrás apenas da Austrália, segundo levantamento realizado entre janeiro e fevereiro deste ano pela Coordenação de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Da área total dos orgânicos, 5,7 milhões de hectares são ocupados pelo extrativismo sustentável, com produtos como castanha, açaí, pupunha, látex, frutas e outras espécies das matas tropicais, principalmente da Amazônia.
São cerca de 20 mil produtores de orgânicos — a maioria agricultores familiares — produzindo abacaxi, banana, café, mel, leite, carnes, soja, palmito, açúcar, frango e hortaliças de forma sustentável e livre de agrotóxicos, com um lucro de 30% a 40% maior do que o obtido pela agricultura tradicional. Além de ambientalmente corretos, esses produtos passaram a ser um bom negócio. Dados da Biofach 2005 – maior feira de produtos orgânicos do mundo – realizada em Nuremberg, Alemanha, no mês passado, confirmam isso. De acordo com a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex), a Biofach 2005 movimentou US$ 31,4 milhões, valor duas vezes maior do que o negociado na edição de 2004. Tema da feira este ano, o Brasil levou 87 empresas produtoras de orgânicos ao evento.
Em março do ano passado, o governo criou a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgânica para impulsionar o crescimento dos orgânicos no país que rejeitaria os transgênicos. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, também tratou de criar o Pró-Orgânico – Programa de Desenvolvimento da Agricultura Orgânica, que prevê a capacitação de cooperativas, fomento à produção, promoção comercial e venda destes produtos. Mas falta o essencial: o reconhecimento internacional ao sistema brasileiro de certificação e sua equivalência com países importadores, princípio básico para a garantia de acesso dos produtos brasileiros ao exterior. A certificação garantiria ao comprador que o produto orgânico adquirido possui as características indicadas, trazendo um selo de qualidade oficial de orgânicos.
O promissor segmento orgânico alcançou até o grão símbolo dos transgênicos. No Mato Grosso, há fazendas com 700 hectares de soja orgânica plantada. O risco de perder parte da produção por não ter usado uma gota de veneno não traz medo ao agricultor. Ele sabe que vai ser recompensado. Antes mesmo do selo brasileiro de qualidade existir, seu produto tem saída garantida no mercado internacional por um preço até 40% superior ao do fazendeiro que borrifou agrotóxico sobre a lavoura.
Roberto Rodrigues, que ainda comemora a vitória histórica sobre o Ministério do Meio Ambiente com a liberação dos transgênicos, agora também quer colher os louros dos orgânicos. O crescente interesse por este tipo de produto, porém, não se deve somente ao esforço do Ministério da Agricultura. A enorme rejeição aos transgênicos é a resposta do consumidor que vem buscando garantias de não estar consumindo organismos geneticamente modificados e agrotóxicos. Uma resposta dada bem antes da aprovação da Lei de Biossegurança.
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