Reportagens

Saúde urbana

Conferência realizada em São Paulo na semana passada discutiu a questão da qualidade de vida em metrópoles em crescimento. As perspectivas não são nada boas.

Aline Ribeiro ·
18 de novembro de 2005 · 19 anos atrás

A relação que existe entre o excessivo crescimento das cidades e a piora na qualidade de vida acarretada por essas mudanças é a chama de uma discussão permanente entre ambientalistas brasileiros que, desde meados da década de 90, se dedicam a questionar os efeitos da urbanização. Depois de muitos anos de encontros e debates, eles acreditam ter dado mais um passo nesta luta.

A Conferência Internacional Metrópoles Saudáveis, realizada em São Paulo na última semana, teve como objetivo traçar estratégias para conquistar a chamada “saúde” urbana para os grandes centros.

Durante o evento foram discutidos sistemas de gestão ambiental apropriados para diferentes cidades, baseados em experiências bem-sucedidas. “É difícil que uma cidade cresça demais e, ao mesmo tempo, continue sendo saudável. Não estamos aqui para sermos utópicos, mas para discutir indicadores e escalas que possibilitem os melhores resultados”, ressalta o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy.

Segundo ele, o Proam é uma organização pioneira no debate de questões relacionadas à qualidade de vida em grandes centros. Ao criar o Programa Metrópoles Saudáveis, que vem sendo articulado desde 2003, o órgão se dispôs a traçar indicadores de saúde urbana e trazer à tona assuntos de desenvolvimento sustentável. Bocuhy, apesar de não priorizar alguns indicadores em detrimento de outros, lista itens imprescindíveis para o bom funcionamento de megacidades. “Água suficiente para a sobrevivência da população, níveis moderados de poluição atmosférica, uso adequado e qualidade dos solos, áreas verdes para evitar as ilhas de calor e controle da violência urbana.”

Bocuhy ressalta que, cada vez mais, a saúde urbana tem de ser discutida, porque as metrópoles estão constantemente em processo de crescimento. “Nos anos 50, apenas uma cidade no mundo (Nova York) tinha mais de 5 milhões de habitantes. A expectativa é que, em 2015, existam 37 com mais de 10 milhões de habitantes”, conta, referindo-se aos dados de uma pesquisa realizada pela revista National Geografic em 2002, com base em informações da Organização das Nações Unidas (ONU). “Isto é mais do que suficiente para darmos atenção à questão da qualidade de vida em grandes centros”.

Desde a implementação do programa, o Metrópoles Saudáveis foi dividido em duas fases. A primeira contou com o levantamento de dados baseados na opinião de cerca de cem cientistas de diversas áreas. “A consulta foi feita durante as outras edições da conferência, em Buenos Aires e São Paulo. Ouvimos uma variedade de especialistas, para obter uma visão multidisciplinar da questão”, destaca o presidente do Proam. Durante a segunda etapa, será elaborado um Termo de Referência para Metrópoles Saudáveis por uma equipe multidisciplinar.

As conclusões do estudo deverão apontar para políticas de prevenção e correção, necessárias para a reversão do quadro que caótico que vem sendo instalado nas grandes cidades. “Nosso deadline é agosto do ano que vem. Até lá, esperamos fechar o relatório e entregá-lo para nossos parceiros”, afirma Bocuhy, lembrando que o documento será encaminhado para a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA), Organização dos Estados Americanos (OEA) e UNESCO. Durante o seminário, cidades estrangeiras e brasileiras apresentaram experiências de sucesso. “A questão é transnacional”.

Leia também

Notícias
20 de dezembro de 2024

COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas

Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial

Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia

Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.