Santa Catarina, que graças à presença das baleias francas no seu litoral entre agosto e outubro deu aos turistas uma razão para irem à praia no inverno, tem tudo para fazer as pessoas descobrirem que cenário de montanha com neblina e temperatura média entre 15 e 17 graus pode ser uma ótima opção turística no verão. É uma pena, no entanto, que nesta época do ano esse espetacular destino de viagem, o Planalto Catarinense, uma formação a 1 mil e 500 metros de altitude, vire um ilustre desconhecido. Dele, os brasileiros só costumam se lembrar em junho e julho, porque além de ser o lugar mais gélido do país é também o único onde a neve aparece com alguma regularidade. Azar o nosso. Não temos idéia do que estamos perdendo nos outros meses do ano.
É muita coisa. A começar pela região, ainda de baixa densidade demográfica e cheia de monumentos naturais, como canyons espetaculares. Só que no verão, pela multiplicidade de flores e plantas silvestres que brotam sobre seus campos naturais entre outubro e início de março, tudo isso fica visualmente muito mais movimentado (foto). Elas dão à natureza um toque de exuberância de encher os olhos. “No inverno, a região de fato fica linda”, concorda o biólogo João de Deus Medeiros. “Mas a biodiversidade do local salta à vista mesmo durante a primavera e o verão”. Essa flora atrai para o local pássaros e insetos em profusão, que juntos contribuem para criar um gradiente de cores para pintor nenhum botar defeito.
“A maioria dessas plantas é pouco conhecida. Conta-se nos dedos as que foram descritas”, diz Medeiros. “Deve haver uma quantidade significativa de plantas endêmicas”. É tanta flor, que nem mesmo os locais se preocuparam em criar vulgos para todas elas. Além da sua beleza e biodiversidade, a flora do Planalto tem uma importância histórica. Ela é um dos ecossistemas mais antigos do Brasil. Trata-se de uma sobra dos campos naturais que começaram a colonizar o que hoje é território brasileiro quando o clima da Terra começou a ficar mais ameno, há cerca de 200 milhões de anos.
“Eles mostram como a nossa flora evoluiu da vegetação de campo para a florestal”, ensina Medeiros, lembrando dos capões de mata (foto) que se erguem subitamente no horizonte. Dentro deles, no Planalto, predomina uma árvore belíssima que infelizmente nós brasileiros praticamente varremos do nosso mapa: a araucária. Essa vegetação cresceu em condições adversas. No Planalto, o solo no qual brotam é raso e o frio é intenso. E resistiu bravamente aos 300 últimos anos de ocupação na região, levada a cabo principalmente por pecuaristas e madeireiros. Chega a ser impressionante que num campo onde existe gado, por exemplo, ainda haja espaço suficiente para que brotem tantas flores.
“É lamentável que este ambiente tenha sido tão dilapidado nos último anos”, diz Medeiros, dando mais uma razão para se ir logo fazer uma visita ao Planalto durante o verão. O vilão desse processo é o pinus, espécie exótica que vem sendo plantada na região sem qualquer tipo de ordenação. Ele alimenta as indústrias de madeira e celulose e, onde brota, acaba tomando conta do local. “No Planalto, mesmo com o solo raso, a experiência não tem sido diferente”, diz Medeiros. Portanto, é melhor correr para ver uma natureza rara, que tem de árvores imensas a flores minúsculas (foto) e que está sob sério risco de desaparecer nos próximos anos.
A infra-estrutura turística no Planalto é boa e a maior parte dos hotéis e pousadas está aberta o ano todo. Tem para todos os tipos de orçamento e gosto. Eu passei o natal e o réveillon no Hotel Fazenda Rio do Rastro, onde fui tratado como um príncipe. Mas na Internet, é possível se achar várias outras indicações para pouso na região. Nessa época do ano, ao contrário do que acontece no litoral, é sopa achar lugar para ficar por lá. Não há a menor necessidade de se fazer reserva. Pouca gente visita o local nessa época do ano, sinal de que os brasileiros ainda não sabem que, longe das praias catarinenses, o estado oferece um lugar de primeira para se veranear.
Clique aqui para ver o slide show com 23 flores silvestres (arquivo swf, com 710Kb).
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