Luís da Câmara Cascudo, em 1947, escreveu para o Diário de Natal que o Príncipe Maurício de Nassau, governador do Brasil Holandês no século XVII, adorava replantar árvores adultas. Chegou a transplantar dois mil coqueiros, de 60 e 70 pés de altura, para o parque do Palácio das Torres, no Recife. Em toda a vida ele replantou pelo menos 150 mil árvores. Um visionário que não podia imaginar que seu hobby se tornaria um grande negócio no futuro.
Hoje, tem gente plantando árvore só para vendê-las vivas, daqui a 15 ou 20 anos. A poupança não é de se jogar fora: uma árvore adulta pode valer até 10 mil reais.
Mas o que leva uma pessoa a pagar até 10 mil reais por uma árvore viva? “Tivemos de adquirir em dezembro passado duas tamareiras adultas para o Jardim Bíblico, só com espécies citadas na Bíblia. Essa planta é muito demorada, leva 25 anos para atingir 10 metros. Como somos um museu vivo mas as árvores não vivem para sempre, precisamos fazer algumas reposições de vez em quando. Assim o público sente menos a perda de um exemplar”, diz Carlos Henrique Corrêa da Silva, coordenador de Conservação de Área Verde do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Menos pela coisa pública e mais pela ostentação, também há os que compram pares de palmeiras da altura das imensas fachadas de mansões particulares em Brasília, e pagam até 20 mil a unidade, incluindo toda a logística e operação de replantio, mão-de-obra, e claro, consultoria. Quanto mais rara e cara, melhor para o cliente, que às vezes nem sabe o tesouro que está adquirindo. É o novo rico saindo da sala de estar e invadindo os jardins de luxo, em projetos assinados de Brasília.
Em todo o Brasil, muitas empresas fazem o plantio de espécies de palmeiras de toda variedade. Elas passam por ciclos de 10, 15 ou 20 anos crescendo antes de serem vendidas. O Horto Florestal do Rio vende todas as variedades de palmeiras. A Palmeira Azul (foto), raríssima Bismarkia nobilis, com 4m de altura por 4m de largura, aos 12 anos custa 8 mil reais. “Nessa idade ela fica linda, prestes a alçar vôo”, referindo-se à maturidade da folhagem. “A Wodietia bifurcata, ou rabo-de-raposa, da Austrália, com 12 metros e 15 anos em seu esplendor, vale até 10 mil reais. Isso aqui é arte”, resume Moyses Abtibol, diretor do Horto. Ele explica que os compradores das espécies mais caras são empresas, que constroem sedes faraônicas e verdadeiros jardins da babilônia para impressionar e atrair mais clientes. “É um movimento lento, mas ascendente”, confima Moyses.
Como os orquidófilos, que conhecem o valor botânico de cada espécie de orquídea, quem conhece e é apaixonado por palmeiras garante que o preço é justo. “No sentido plástico é um grupo muito importante pela singularidade de suas formas que a fazem diferir de qualquer outro grupo vegetal, tornando-a inconfundível e muito procurada para uso paisagístico e por cultivadores amadores”, atesta Harri Lorenzi, maior autoridade brasileira no assunto.
Tesouro no quintal
Para Rosalba Matta Machado, engenheira agrônoma e paisagista de Brasília, o grande filé no comércio de árvores adultas é o mercado familiar de frutíferas ou floríferas. “Seja qual for a espécie, cortar a velha árvore do quintal representa descartar uma boa poupança. Muitos clientes fazem questão de encontrar um velho pé de sirigüela ou de jabuticaba para um projeto mais intimista. Meu trabalho inclui investigar até encontrar o exemplar perfeito, dar o lance e comprá-lo, retirá-lo e plantá-lo de novo com sucesso. O desejo do meu cliente é parte do projeto”.
Rosalba também compara o mercado de árvores adultas, escondidas nos velhos quintais, com o mercado de arte. “Encontrar a árvore, única em sua forma, beleza, função e tamanho, é como encontrar um quadro valioso em um barracão abandonado”. Segundo a paisagista, uma jabuticabeira de 30 anos – “jovem mas altamente produtiva”, pode custar 4 mil reais. Um exemplar centenário pode alcançar os 7 mil.
Palmeiras do imperador, goiabeira da vovó, não importa. Os preços ficam por conta da lei da oferta e da procura, e podem variar pela antigüidade, demora no amadurecimento, saúde e raridade da espécie. O negócio é não cortar. Maurício de Nassau já sabia: árvore nasce para morrer de pé.
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