No relatório recém-lançado pelo Greenpeace sobre o avanço da soja sobre a floresta amazônica, há uma informação que, aparentemente, passou despercebida pela maioria dos brasileiros. Dez por cento da soja que hoje cresce em solos desmatados no Mato Grosso já é transgênica. E dentro da ilegalidade que marca a produção do grão no Brasil, uma parte deste percentual está sendo plantada em solo próximo à áreas de preservação permanente ou onde há a possibilidade de serem criadas Unidades de Conservação, o que pelo menos em tese não é permitido por lei.
Mas como o Ministério do Meio Ambiente (MMA) ainda não mapeou essas áreas, seu “primo” de governo, o Ministério da Agricultura, anda distribuindo autorizações para o plantio de soja transgênica no Mato Grosso, inclusive em áreas dentro de regiões no estado que fazem parte de ecossistemas de floresta amazônica. Mas o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anda fazendo em prol da soja transgênica bem mais que autorizar que suas sementes sejam colocadas no solo de fazendas mato-grossenses.
Ele intermediou um acordo entre a Monsanto, o gigante agroquímico que é um dos principais produtores de sementes transgênicas do mundo, para desenvolver uma semente geneticamente modificada específica para brotar na região amazônica. O trabalho está sendo levado à cabo num laboratório de pesquisa aberto no início de 2003 pela Monsanto no município de Sorriso, Norte do Mato Grosso, que tem servido de ponta de lança para a penetração do grão na região Norte do país.
Soja geneticamente modificada vem sendo plantada no estado desde antes da inauguração do laboratório da Monsanto. Mas ela se expandiu depois de sua instalação. Entre 2003 e 2004, diz o relatório do Greenpeace, 1 mil e 800 hectares de terra espalhados por 19 municípios do Mato Grosso foram plantados com sementes de soja trasngênica. Nove deles se encontravam total ou parcialmente dentro de áreas que pertencem ao ecossistema amazônico. Nos dois anos seguintes, a presença da soja transgênica se estendia por 500 mil hectares no estado.
Passivos futuros
Talvez ainda seja cedo para se dar um veredito definitivo sobre a presença de plantas geneticamente modificadas no meio ambiente. Há evidências, entretanto, que o seu plantio descontrolado pode gerar passivos ambientais graves. Na Argentina, onde o plantio de soja trasngênica se faz sem quase nenhum tipo de monitoramento pelas autoridades, segundo o relatório do Greenpeace, há evidências de que o uso intensivo de agroquímicos que acompanha a plantação de sementes modificadas está causando danos aos micro-organismos naturais do solo, tornando-o improdutivo, e incentivando o surgimento de pragas resistentes aos herbicidas.
Diante de fatos como esse, era de se supor que o governo brasileiro adotasse comportamento mais cauteloso em relação à expansão no uso de transgênicos. Mas, como mostra o avanço da soja transgênica no Mato Grosso, tudo indica que o país resolveu mandar o princípio universal de precaução na introdução de novos componentes no meio ambiente às favas.
Leia também
STF encerra sustentações e adia decisão sobre ações que contestam o Marco Temporal
Após dois dias de manifestações de partes e terceiros interessados, o julgamento foi suspenso. Data para retorno ainda não foi definida →
Site da Agência ambiental dos EUA minimiza relação entre ação humana e mudanças climáticas
EPA disse que a agência não está mais focada em proteger "agendas políticas de esquerda" e que “não aceita mais ordens do culto climático" →
Uma nova e rara espécie de bromélia que pode estar condenada pela mineração
Recém-descoberta, a minúscula planta é encontrada apenas na Serra do Pires, em Congonhas, Minas Gerais, e pode desaparecer junto com apetite da exploração mineral →


