Reportagens

Esforço conjunto

Redação ((o))eco ·
19 de março de 2008 · 17 anos atrás

Depois de 20 dias navegando pelos rios Juruena, Teles Pires e Tapajós, a maioria dos pesquisadores envolvidos no diagnóstico de biodiversidade para o plano de manejo do Parque Nacional do Juruena já voltou para casa. A socióloga Maria Elizabeth Ramos ficou por lá, no norte de Mato Grosso para terminar seus trabalhos de levantamento sócio-econômico nos municípios do entorno da unidade de conservação. A equipe de logística, responsável pelo transporte de suprimentos, materiais de pesquisa e literalmente tudo mais, retornou a bordo das cinco voadeiras que auxiliaram no transporte de pesquisadores, gestores do Instituto Chico Mendes e imprensa até os pontos de estudo. Para os piloteiros, foram cinco dias de deslocamento rio acima, desde o último acampamento, no Tapajós, até Alta Floresta. E com uma missão complicada no meio do caminho: tentar recuperar uma voadeira que naufragou numa corredeira traiçoeira no Teles Pires, no início da expedição, não à toa conhecida como Rasteira. Fora este percalço, na opinião dos participantes o saldo da expedição foi muito positivo. Graças à organização executiva da empreitada, a cargo do Instituto Centro de Vida (ICV) e dos recursos financeiros provenientes do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) e do WWF-Brasil, orçados em 640 mil reais, foi possível reunir o maior número de pesquisadores numa das mais desconhecidas regiões da Amazônia meridional – uma novidade para um parque nacional tão novo, que desde já começou a sair do papel. Os 1,9 milhões de hectares do parque foram divididos em dois grandes setores. O mais ao sul, englobando as áreas próximas ao Salto Augusto, foi percorrido em novembro do ano passado, na primeira etapa dos levantamentos de biodiversidade. A segunda expedição, realizada entre os dias 24 de fevereiro e 14 de março, abrangeu uma área maior através da navegação pelo Juruena, Teles Pires e Tapajós, e em quatro paradas estratégicas. Nesses locais, as equipes de apoio abriram trilhas para que em três ou quatro dias os pesquisadores pudessem conhecer o máximo de cada ponto previamente identificado como unidade de paisagem dentro e no entorno do parque. Mas sem um barco-apoio, como ocorreu em novembro, a resistência dos participantes às adversidades da floresta e dos rios teria sido bem mais difícil. “Juntamos dois tipos de logística. A típica de Mato Grosso, com uso de voadeiras, e a tradicional amazonense, com um barcão, que no final nos deu uma maior agilidade”, considera Gustavo Irgang, coordenador da expedição. Mais agilidade e relativamente mais conforto. Metade da equipe pôde dormir em redes dentro do Miritituba III, que se deslocou desde Porto de Moz, no Pará, para participar da expedição a um custo de 30 mil reais, bancados pelo Instituto Chico Mendes. A outra metade tentava descansar em barracas montadas próximas ao local de atracação, na medida em que os mosquitos permitiam. Mas todos usufruíam da estrutura disponível no barco, equipado com televisão e gerador de energia. Graças a isso deu para melhorar também a qualidade da alimentação em relação à primeira expedição no Juruena. Marlene Batista, a cozinheira, é quem sabe. Suprimentos em números Num cálculo superficial, ela estima que tenha consumido pelo menos cinco quilos de arroz, dois de feijão, sete de carne e meio quilo de café por dia na expedição. Para alimentar o grupo, que beirou 40 pessoas, preparou ainda 8 fornadas de seis pães e 12 bolos, fora todo gasto com óleo de soja, leite e outros suprimentos básicos. “Quem dera se eu só cozinhasse”, suspira a Marlene, que gostou dessa rotina animada das expedições. “Todos os dias eu lavo a roupa aí de umas 15 pessoas”, lembra. De acordo com o biólogo Rosalvo Duarte Rosa, responsável por toda logística na viagem, as voadeiras consumiram quatro mil litros de gasolina, 4,5 litros de diesel, fora as dezenas de embalagens de óleo para motor. Cada pesquisador também voltou carregado para os laboratórios. Além de amostras de animais e plantas coletados, gastaram pelo menos 150 litros de álcool para conservá-los durante os deslocamentos, além dos incontáveis potinhos de vidro e plástico usados para reservá-los separadamente. A comunicação entre as equipes de campo e o pessoal em terra, em Alta Floresta, foi feita através de telefone e internet via satélite, diferentemente das outras expedições. “Usávamos rádio, mas era constrangedor você falar e a Amazônia inteira poder ouvir se estiver naquela freqüência”, explica Irgang. Depois de muito garimpar atrás de equipamentos confiáveis de comunicação via satélite para aquela região da Amazônia, encontrou um sistema usado para rastreamento de caminhões que lhe pareceu bastante adequado, o Inmarsat. Graças a esses equipamentos, foi providencial solicitar mais mantimentos para a expedição a uma semana do fim, e agendar precisamente horários e locais dos vôos que levavam e buscavam pesquisadores do campo. Todos esses esforços visavam unicamente cuidar para que houvesse estrutura básica para a realização do trabalho dos pesquisadores. Mas para quem penou para organizar tudo nos mínimos detalhes, só a presença de todas as equipes dentro do parque já era uma satisfação. “O pior já passou”, disse Irgang, no último acampamento da expedição. Para os participantes, no entanto, esse foi apenas o primeiro passo. Os pesquisadores deverão entregar os resultados de seus levantamentos até julho deste ano, quando o contrato do ICV se encerra junto ao Instituto Chico Mendes. Ficará a cargo dos analistas ambientais gestores do Parque Nacional do Juruena a promoção de reuniões abertas com os moradores dos municípios no entorno da unidade de conservação, até agosto, para explicar-lhes sobre a implantação da unidade de conservação.

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