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Cena Final

COBERTURA DO FICA 2008 O documentário “Jaglavak, O príncipe dos insetos”, de Jerôme Raynaud, foi o vencedor do 10° Festival Internacional de Cinema Ambiental, que acabou domingo, na Cidade de Goiás.

Cristiane Prizibisczki ·
17 de junho de 2008 · 17 anos atrás

O documentário francês “Jaglavak, O príncipe dos insetos”, de Jerôme Raynaud, foi o grande vencedor do 10° Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), que acabou no último domingo, na Cidade de Goiás.

O média-metragem fala da população Mofu, que vive nas montanhas do norte da República dos Camarões, e sua singular relação com os insetos, com os quais compartilham suas moradias e colheitas. Em um ano de seca, no entanto, a invasão da casa de um dos membros da tribo por cupins se torna incontrolável e, a visita que antes era tratada com naturalidade, se torna um problema, já que os insetos passam, literalmente, a devorar a casa de pau-a-pique e teto de sapê.

Para evitar o pior, a tribo invoca Jaglavak, uma formiga-de-correição, vista como o príncipe dos insetos. Apesar do tom poético com que a relação entre o povo Mofu e os invertebrados é tratada, o filme também pode ser visto como uma boa aula sobre o comportamento de certas espécies, já que o diretor consegue infiltrar micro-câmeras nos labirintos subterrâneos dos cupins para retratar sua briga com as formigas Jaglavak.

Também foram vencedores no 10° FICA outros filmes de denúncia contra “vilões” do meio ambiente, como o grego “Delta, o jogo sujo do petróleo”, que fala das guerras que ocorrem no delta do rio Níger, na Nigéria, e dos problemas ambientais causados pelos constantes vazamentos de petróleo, e “Semidouro”, que mostra o processo de migração de duas comunidades alagadas pela construção da usina hidrelétrica de Irapé, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Ambos dividiram o prêmio de Melhor Longa Metragem.

Ainda estão na lista de vencedores os filmes “Batida na Floresta” (Melhor Média Metragem), “Zona de Diluição Inicial” (Melhor Curta Metragem), “Lições Tardias para avisos antecipados”, que mostra os efeitos da indústria tabagista na saúde humana e no meio ambiente (Melhor Série de TV), “Subpapéis” e “Benzeduras”, que ganharam os dois prêmios voltados para a Melhor Produção Goiana. “Veludo Vermelho” ficou com o Prêmio Especial do Júri.

Identidade indefinida

Durante os dias em que o 10° FICA foi realizado, não foram poucas as discussões sobre em que grau deveria se dar a intersecção entre cinema e meio ambiente. Para alguns, o Festival ainda não encontrou sua identidade e as discussões que saíram da esfera do cinema foram feitas de forma muito superficial. Para outros, o evento guarda muita identidade com o movimento ambientalista, com seu viés contestador e denunciatório.

Para o escritor e crítico de cinema Jean-Claude Bernadet, um dos sinais de que o Festival privilegia o cinema foi que, em nenhum momento, a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente ou as mudanças no quadro da política ambiental brasileira foram citados. Segundo Bernadet, o evento poderia ser mais combativo, ter mais mesas-redondas e discussões voltadas às questões ambientais – somente 10% da programação foi voltada exclusivamente para o tema.

“O filme ‘Benzeduras’, por exemplo, é a tradução do cinema mais antropológico, descrito por Leonardo Boff [teólogo, escritor e professor brasileiro, criador da Teologia da Libertação]. Mas há problemas tão mais urgentes para se tratar, há uma série de informações que seriam importantes de se discutir em um espaço como este e que não foram discutidas”, disse, em entrevista à reportagem de O Eco.

Já para o jornalista e ambientalista André Trigueiros, o fato de o Festival ter este “viés antropológico” não representa demérito. “Ficaria muito chato um festival que só falasse de natureza porque ela não é só bichinho, somente fauna e flora. Temos que nos incluir mais no debate”, defende. Segundo ele, o cinema ambiental é uma janela que dá visibilidade a certas contestações e denúncias que não encontrariam espaço em outras mídias.

“O FICA tem um viés político, sim, e é um espaço rico e singular, em que linguagens contundentes e reveladoras têm espaço. Em que outro lugar aqui no Brasil será exibida uma produção tão crítica e que traz a logomarca da Shell como o filme Delta?”, questiona Trigueiros, em referência ao longa metragem “Delta, o jogo sujo do petróleo”.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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