Em época de Páscoa, os coelhos se tornam populares no Brasil. Mas quem aparece sempre na foto é uma linhagem domesticada que não vive na natureza. Aquele coelhinho branco, de nariz rosado e orelhas compridas, só em cativeiro. O que salta em nossas matas é pardo, tem orelhas curtas, finas e nome tropical: Tapiti.
O Tapiti é uma espécie nativa, mas não exclusiva do território nacional. Pode ser encontrada na América do Sul e Central, do México ao Brasil. Por aqui, existe em pelo menos nove estados – Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Também conhecido como coelho-do-mato, faz parte da espécie Sylvilagus brasiliensis e existe apenas na forma selvagem.
Portanto, quem espera ver este mamífero de porte pequeno, que pesa não mais de um um quilo e tem pêlo cinza-castanho saltitando por aí, é bom treinar o olho. O Tapiti não gosta muito da luz do dia, prefere se esconder em buracos cavados em baixo de raízes. . O bicho que mede entre 35 e 40 cm tem hábitos noturnos e basta se sentir ameaçado para usar com habilidade os membros inferiores que a natureza lhe deu para saltar e sumir.
O seu modo de vida está relacionado à preferência por climas amenos, por volta dos 18 graus. Mas até aceitam temperaturas mais elevadas dependendo da época do ano. “Eles toleram até 35ºC, mas com prejuízo para a reprodução. A primavera é a melhor época (para a reprodução). No entanto, em boas instalações, podem reproduzir o ano todo”, afirma Edson Gonçalves, professor do departamento de zootecnia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Os pesquisadores confirmam a fama de que os coelhos são grandes reprodutores. Esta característica os transformou em sinônimo de fertilidade e acredita-se que por isso se tornaram o símbolo da Páscoa, comemoração católica que relembra a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Mas Gonçalves tem também um outro palpite. “Acho que eles são lembrados nesta época do ano por terem o hábito de viver em tocas, o que gera surpresa quando surgem”, diz.
Surpresa boa para bichos como o gavião de penacho, a águia cinzenta, a onça parda, os lobos guarás, entre outros que apreciam a carne do coelho. Afinal, ele faz parte da cadeia alimentar da floresta. Já o Tapiti é vegetariano, como todas as outras 40 espécies de coelho existentes na Terra. “São animais herbívoros que se alimentam de folhas de gramíneas, raízes, frutos e brotos de diversas plantas”, diz Tomas Walfrido, pesquisador da Embrapa Cerrados.
Para isso eles nascem com dentes que crescem por toda a vida, que pode se estender por até 12 anos. Isso não significa, porém, que roam tudo o que vêem pela frente. “Eles não são assim “aloprados”, já que selecionam o que comem, em certa medida. Mas são capazes de causar impacto em plantações, em certas situações”, lembra Walfrido. Esta afirmação se baseia, em parte, em uma outra espécie de coelho que foi introduzida na Argentina e invadiu o Brasil nos últimos anos, a Lepus europaeus, mais conhecida como lebre européia. Por ter um porte maior, o lebrão (como também é lembrada) tem causado alguns estragos em áreas agrícolas do Sul do Brasil.
Não se sabe precisamente a origem dos coelhos. Alguns pesquisadores acreditam ser a Espanha. Mas hoje eles são encontrados em praticamente todas as regiões do planeta. Sua carne também é apreciada por diversas culturas e os tapitis não são diferentes. Tem caçador que gosta mais de tapiti que de chocolate.
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