Ninguém duvida que o Amazonas seja mesmo o maior rio do mundo em volume, mas pesquisadores ainda se debruçam sobre de onde vem tanta água. Ou melhor, a localização exata da principal nascente de tão grandioso rio. Oficialmente considera-se que ela fique no córrego Carhuasanta, no Peru. Mas, não tão certos disso, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Agência Nacional de Águas (ANA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Geográfico Nacional do Peru (IGN), partiram em uma expedição à Cordilheira dos Andes no final do mês de maio. No dia 2 de junho, voltaram mais convencidos do que nunca: a nascente mais provável é outra, conhecida como Apacheta.
Os cientistas ainda não podem jurar que a Apacheta seja realmente a nascente verdadeira antes de realizar medições diárias, ano a ano, para oficializar a constatação. Mas para eles, a dúvida está quase encerrada. “As imagens de satélite já comprovaram o que vimos ali”, relata Oton Barros, engenheiro do Inpe e integrante da expedição.
Desde a década de 80 o Inpe realiza pesquisas de mapeamento do Amazonas via satélite. E as imagens mostram que as nascentes são, de fato, muito parecidas. Conforme constatado na expedição, tanto a vegetação como a dinâmica das águas é a mesma em todos os córregos da região, também chamados de quebradas.
O IBGE esteve na região para instalação de dois marcos geodésicos, importantes como pontos de referência para cálculo de distâncias. E a tarefa da ANA foi realizar novas medições, mas nenhum resultado ainda foi apresentado. Eles são esperados para esclarecer uma outra questão. O Amazonas, que com sua vazão de 209 mil metros cúbicos por segundo é o mais volumoso do mundo, pode também ser o mais longo do planeta.
De acordo com dados oficiais, é o rio Nilo o mais extenso do mundo, com 6.670 quilômetros. O Amazonas vem em seguida, com 6.570 quilômetros de extensão. O trecho da nascente de Carhuasanta, localizada no monte Mismi, tem dez quilômetros, contra 54 do córrego Apacheta, no monte Queuisha. Assim, uma vez que a Apacheta seja comprovada como a mais distante da foz, a medida, sugerida pelo Inpe, ficará em 6.992 quilômetros.
Expedição perigosa
Com o objetivo de alcançar os mais de 5.500 metros no monte Queuisha, a expedição foi feita em três etapas. Nos dois primeiros dias, em processo de adaptação ao clima, os nove brasileiros e dois peruanos que integraram a viagem, entre eles o diretor de Cartografia do IGN, major Ciro Sierra, e mais uma equipe de motoristas e guias formada por cerca de 15 pessoas, subiram até aproximadamente 3.800 metros. Alguns passaram mal e ficaram no meio do caminho. Além de ter um caráter científico, a ida aos Andes foi documentada pela equipe da produtora Paula Saldanha, que esteve anteriormente na região, uma das organizadoras da expedição, patrocinada pela Petrobras. Na segunda etapa subiram um pouco mais e ficaram um dia no local, até chegarem à altitude de 5.400 metros no dia seguinte, onde começa o rio Amazonas.
A região, apesar de inabitada, é acessível a qualquer turista que esteja disposto a enfrentar a altitude, consciente de que pode ter os sintomas regionalmente conhecidos como soroche: embriaguez, confusão mental, dor de cabeça e mal estar geral, conforme conta Barros. “No primeiro dia levei seis minutos para trocar a pilha do GPS”. Como representante do Inpe, sua função foi a de registrar imagens dos locais por onde passaram, com a finalidade de formar um banco de dados que sirva de base para futuras pesquisas. “Existem poucos estudos sobre o assunto e, com essa expedição, mostramos que temos alta capacidade de produção científica no Brasil, apesar das dificuldades para conseguir apoio”, afirma o pesquisador. Esta foi a primeira vez que pesquisadores brasileiros estiveram na região e também a primeira expedição binacional que, devido ao sucesso nos resultados obtidos, pode abrir precedentes para outras.
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