Reportagens

Eficiência à prova

Avaliação comprova baixa efetividade nos processos de gestão das unidades de conservação federais. As áreas de uso sustentável apresentam os maiores sinais de degradação.

Redação ((o))eco ·
19 de junho de 2007 · 18 anos atrás


Leia
também
a cobertura completa do CBUC e baixe as palestras



Um processo para analisar as dificuldades na implementação de unidades de conservação na Amazônia, que começou timidamente em 2005, encabeçado pelas diretorias de Ecossistemas (Direc), de Desenvolvimento Sócio-Ambiental (Disam) e de Florestas (Diref) do Ibama, foi ampliado para uma escala nacional e aplicado nos demais biomas brasileiros. Os resultados foram apresentados na publicação Efetividades de Gestão das Unidades de Conservação do Brasil, lançada pelo Ibama e pelo WWF-Brasil no V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação.

Foram analisadas 246 unidades de conservação federais, que correspondem a 85% do total dessas áreas no país. O panorama geral constatou o que já se imaginava: 125 delas, ou 51% do grupo estudado, apresentaram baixa efetividade de gestão. Tiveram média efetividade 89 unidades e 32 apresentaram alto desempenho.

As análises, divididas em cinco categorias, mostraram que Áreas de Proteção Ambiental (APAs), Áreas de Relevante Interesse Ecológico (Aires), Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reservas Extrativistas (Resex) são as que mais sofrem pressões e ameaças devido a caça, influências externas e impactos negativos da presença humana. E a tendência para os próximos anos é de aumento de degradação na maioria das unidades pesquisadas. Constatou-se ainda que o fácil acesso para a prática de atividades ilegais, a dificuldade na contratação e manutenção de pessoal e a pouca aplicação das leis deixam as áreas protegidas mais vulneráveis.

O documento ressalta que a baixa efetividade não se deve à ineficiência dos administradores, mas à deficiência de insumos – recursos humanos e financeiros insuficientes, falta de comunicação com a gerência, com outras unidades e com comunidades locais, e falta de manutenção na infraestrutura. Um exemplo é a Floresta Nacional de Anauá , em Roraima. Para cuidar de seus 259 mil hectares, existe um único funcionário: o chefe da unidade, Geomar Carneiro.

Para Marcelo Françozo, diretor de Unidades de Conservação de Proteção Integral do recém criado Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade, a importância da publicação é inquestionável. “Foi um processo que nos fez rever e alterar outros processos. Queremos refazê-lo de tempos em tempos para que haja a curva ascendente dos processos de gestão”. Ao comentar os resultados da pesquisa, Françozo afirmou que para a melhoria das infra-estruturas e contratação de pessoal, o principal limitador não é a falta de dinheiro, mas a incapacidade em fazer o dinheiro chegar aonde precisa. Falta, também, gerenciamento da verba pública.

Segundo o coordenador do Programa Áreas Protegidas do WWF-Brasil, Cláudio Maretti, uma das principais conclusões do relatório é a necessidade de avaliar o que é feito nas unidades de conservação. Aprender que o fundamental é passar por um ciclo de gestão, que segue a ordem de planejar, implementar e avaliar. Continuamente. “Não basta entendermos quais são as categorias de unidades de conservação. Temos que discutir o sistema de gestão e a efetividade dela. Temos que monitorar o nosso próprio processo de gestão”, afirma. A avaliação atende ao Programa de Trabalho para as Áreas Protegidas da Convenção sobre a Diversidade Biológica. Desde 2004, os países signatários devem avaliar o manejo de seus sistemas de áreas protegidas até 2010.

O método utilizado na pesquisa foi o de Avaliação Rápida e Priorização da Gestão de Unidades de Conservação (RAPPAM, sigla em inglês). As informações foram obtidas por meio de oficinas e questionários dirigidos a cada chefe das unidades. “As respostas, analisadas por equipe técnica, resultaram na visualização e sistematização dos pontos fortes e dos pontos a serem melhorados na gestão do sistema” descreve a WWF, idealizadora da metodologia.

Por fim, foram feitas recomendações para auxiliar os órgãos responsáveis na gestão das unidades de conservação. Entre elas, investimento em infraestrutura, equipamentos e manutenção para melhorar as condições de trabalho, estabelecimento de políticas de recursos humanos que estimulem a permanência dos servidores em locais remotos, rodízio de funcionários e a determinação do número mínimo de pessoas para a gestão dessas unidades. A regularização fundiária e a elaboração de planos de manejo também foram colocadas como prioridades.

Segundo Valmir Ortega, hoje secretário de Meio Ambiente do Pará e na época da implantação da pesquisa diretor de Ecossistemas do IBAMA, inicialmente os chefes das unidades não receberam bem a idéia por acreditar que sua gestão seria avaliada. Mas que, ao entender que suas fragilidades seriam expostas e isso serviria de subsídio para requerer recursos e atenção, colaboraram para a elaboração do documento que resultou em recomendações que serão usadas para auxiliar na melhoria dos processos de gestão e na efetividade destes. As informações serão colocadas em um banco de dados do Ibama.


Leia
também
a cobertura completa do CBUC e baixe as palestras

Leia também

Notícias
20 de dezembro de 2024

COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas

Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial

Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia

Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.