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Um novo espião para o carbono

Nasa lançará satélite capaz de monitorar de onde vem e para onde vai o gás carbônico emitido pela humanidade. Sorvedouros naturais do poluente podem estar saturados.

Redação ((o))eco ·
16 de fevereiro de 2009 · 16 anos atrás

Esboço do novo satélite observador de carbono. Clique na imagem e confira animação sobre o funcionamento do aparelho. (Imagem: Nasa/JPL)
Esboço do novo satélite observador de carbono. Clique na imagem e confira animação sobre o funcionamento do aparelho. (Imagem: Nasa/JPL)

No dia 23, a Administração Nacional Espacial e Aeronáutica (Nasa, sigla em inglês), lançará uma missão que mudará o entendimento que cientistas possuem sobre o ciclo do Dióxido de Carbono (CO2) na Terra. A empreitada consiste em colocar em órbita um satélite que “enxergará do espaço” as fontes emissoras de carbono, principal responsável por ampliar o efeito estufa e provocar o aquecimento global. Entretanto, o aparelho não vai apenas determinar com precisão de onde vem toda essa poluição. Também vai monitorar quanto desse gás permanece na atmosfera e quanto está sendo retirado do ar por sorvedouros naturais, como oceanos e florestas.

Esta é a primeira vez em que cientistas conseguirão medir as concentrações de carbono utilizando um satélite. Até então, as medições de CO2 na atmosfera eram feitas por estações terrestres. A mais antiga e confiável é a de Mauna Loa, no Havaí. Com o lançamento do Orbiting Carbon Observatory (OCO, Observatório Orbital de Carbono), se terá um quadro global da dinâmica do carbono. A máquina fará 8 milhões de medições a cada 16 dias, cobrindo o globo inteiro.

Todo ano, seja pela queima de combustíveis fósseis, como a gasolina e o carvão mineral, ou pela destruição de florestas, cerca de 8 bilhões de toneladas do poluente são lançadas na atmosfera. Com emissões tão elevadas, a concentração de carbono elevou-se, desde a década de 1960, de 320 para 385 partes por milhão, o que gerou uma elevação na temperatura média global de 0,4 ºC. O cenário poderia ser bem pior, se a natureza não fosse uma gulosa devoradora de carbono. O total existente hoje na atmosfera representa 45% de tudo o que foi emitido nos últimos 150 anos, desde a Revolução Industrial.

Oceanos e florestas conseguem, em média, absorver 55% de todo carbono liberado pelas atividades humanas a cada ano. O problema que intriga cientistas do clima em todo mundo é que não é possível saber os locais exatos onde o poluente é absorvido Por exemplo, se isso ocorre mais na Floresta Amazônica ou no Mar do Norte; se nas matas de Sumatra ou qualquer outro sumidouro natural. Além da dúvida sobre a localização, diversas pesquisas mostram que a dinâmica destes depósitos de carbono tem variado ao longo dos anos. Há períodos em que eles absorvem quase tudo o que foi lançado na atmosfera. Em outros, quase nada é retirado.  

Entender, portanto, para onde exatamente está indo o carbono será importante para prever a dimensão do aquecimento global, explica o cientista-chefe da missão da Nasa, David Crisp. “É essencial que nós entendamos os processos que controlam o gás carbônico na atmosfera para que possamos prever quão rápido ele vai acumular no futuro e quão rápido nós teremos que nos adaptar às mudanças climáticas causadas por estas concentrações do gás”, ele explica.  Em outras palavras, se estes sorvedouros parassem, por exemplo, de absorver CO2 da atmosfera, certamente a Terra estaria em maus lençóis.

Oceanos saturados

Foto: Divulgação/UEA

“Oceanos não estão absorvendo carbono como se espera”, diz Corinne Le Quéré, da Universidade East Anglia.

Confira entrevista completa com a pesquisadora (em inglês).

Dados científicos indicam que o colapso de alguns sorvedouros naturais pode estar a caminho. Uma redução significativa na capacidade de absorção em todo o oceano do Hemisfério Sul foi demonstrada (2007) em um artigo publicado na revista Science. O documento (clique aqui para conferir), de um grupo de cientistas de diversas universidades ao redor do mundo, foi considerado um divisor de águas por mostrar que, ao contrário do que se imaginava, as altas concentrações de carbono na atmosfera não estão se traduzindo em mais carbono nos oceanos. Pelo contrário, a cada ano, durante 1981 e 2005, os mares do Sul perderam um pouco de sua capacidade de absorver o poluente.

Uma das autoras do artigo, a professora Corinne Le Quéré, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), afirma que a razão para isso é uma mudança na circulação das correntes oceânicas. Segundo ela, o aumento das temperaturas globais elevou em 15% a velocidade dos ventos nos oceanos do Hemisfério Sul. Isso está ajudando a trazer água rica em carbono do fundo do mar para a superfície. Isso impede uma maior absorção do carbono atmosférico pela água.

“Os sumidouros de carbono têm papel central no equilíbrio climático e, se houver mudanças significativas na sua eficiência, teremos impactos imediatos no nível do carbono que permanece na atmosfera”, alerta Corinne.

Tão ou mais complicado do que entender o que está ocorrendo nos oceanos é perceber como estão se comportando os sorvedouros terrestres de carbono. Muito desse esforço representa conduzir longas e complexas pesquisas em florestas tropicais ao redor do mundo. O pesquisador da Universidade de Leeds (Reino Unido) Tim Baker, faz parte do Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor), um grupo de pesquisadores que trabalha para entender o crescimento da biomassa na Amazônia. Desde os anos 1980, cem áreas com um hectare foram escolhidas na floresta e se descobriu que elas estão absorvendo mais carbono, ano a ano. Com isso, as árvores crescem e morrem mais rápido.

“Essa fertilização por carbono não vai acontecer para sempre. Em algum ponto, a floresta vai atingir um equilíbrio”, diz Baker.

Quando isso ocorrer, a Amazônia poderá deixar de capturar carbono. As medições do gás nos campos amazônicos de pesquisa sugerem que o bioma como um todo absorve algo como 2,5 vezes o total de emissões do Reino Unido. De acordo com Baker existem muitas incertezas sobre quando a Amazônia poderia parar de absorver carbono, mas modelos atuais indicam que isto poderia ocorrer entre 100 ou 150 anos. “Até lá temos que nos preocupar com pressões como desmatamento ou a savanização da Amazônia que poderiam acabar com este sumidouro de forma muito mais rápida”, pondera .

Atalhos
Missão OCO da Nasa
Página da Rainfor
Pagina de Corinne Le Quéré

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