Reportagens

Movidos a 100% biodiesel

Em experiência única no país, Curitiba terá ônibus totalmente alimentados por biocombustível. Emissões de CO2 cairão 30%, mas dúvidas pairam sobre a matéria-prima do carburante, a soja.

Chico Boeing ·
6 de outubro de 2009 · 15 anos atrás

A cidade de Curitiba, famosa por suas políticas urbanas de meio ambiente, está mais uma vez inovando. Desta vez a aposta é mais arriscada, ainda sim arrojada. Desde o final de agosto, a prefeitura colocou para rodar seis ônibus que usam biocombustível puro, ou seja sem qualquer mistura de óleo diesel. Esta é a primeira experiência nacional de transporte público movido unicamente com biodiesel. Além disso, o carburante é feito a partir do processamento do polêmico grão de soja, cujo teor de óleo é notoriamente baixo e o preço está diretamente atrelado ao mercado de alimentos.

foto: Divulgação/Prefeitura de Curitiba
Ônibus curitibano: primeiros a rodar 100% com biodiesel. Soja é a matéria-prima

O combustível reduz em 30% as emissões de dióxido de carbono (principal gás causador do efeito estufa) e em 70% o material particulado (fumaça). No entanto, o custo é maior, em média 20% superior ao do diesel comum. A prefeitura irá bancar a diferença para as empresas concessionárias. Assim, não haverá impacto nas tarifas (hoje R$ 2,20).

A experiência vai durar 18 meses, período no qual se espera redução de 50% na poluição do ar, informa a empresa que gerencia o transporte coletivo de Curitiba, a Urbs. . “Estamos abrindo uma nova etapa na história do transporte e da conservação do meio ambiente no país”, diz o presidente da Urbs, Urbanização de Curitiba S/A, Marcos Isfer.

O combustível feito à base de soja é definido pelos técnicos como B100 por não ter mistura de óleo mineral. Curitiba já testou misturas de 5% e 20% em anos anteriores. Desde 2007, a mistura de 4% óleo vegetal no diesel comum se tornou obrigatória. A experiência curitibana com o biocombustível prevê que os seis ônibus consumirão 20 mil litros por mês do B100, ao percorrerem em média 200 quilômetros por dia.

Os ônibus atendem à chamada Linha Verde (bairro Pinheirinho à praça Carlos Gomes, no centro), novo xodó da administração municipal na estratégia para coibir o engarrafamentos na cidade.

A escolha pela soja

Elcio Karas, gestor da área de Vistoria e Cadastro do Transporte Coletivo na Urbs e que coordena a implantação do projeto, diz que a idéia é ter progressivamente mais ônibus rodando com o biocombustível. Isto, obviamente, depois da avaliação dos resultados, o que inclui troca de óleo a cada cinco mil quilômetros, com monitoramento dos efeitos do B100 em peças como pistão, anéis, bicos injetores e tubulação bem como a emissão de poluentes.. O consumo do B100 é 8% maior que o diesel utilizado normalmente.

A óleo de soja será fornecido por empresas localizadas no Rio Grande do Sul, em Passo Fundo, e em Araucária, no Paraná. Embora diversos estudo já tenham apontado que usar do grão como principal matéria prima para a produção de biocombustíveis não é a escolha mais inteligente (apenas 18% é óleo), a qualidade e a disponibilidade do suprimento explicam a escolha. A biodiesel à base de soja é até o momento o que melhor conserva os equipamentos do veículo.

Vale lembrar, contudo, que a soja pode ocasionar uma nova corrida para expansão de fronteiras agrícolas, com a consequentemente derrubada de florestas nativas, assim como competird com a oferta da soja como alimento, levando ao encarecimento tanto da proteína como do combustível.

Marília Burgo, bióloga e integrante da Sociedade para Pesquisa e Proteção à Vida Selvagem (SPVS), em Curitiba, diz que a experência é válida especialmente para incentivar novos projetos de redução da poluição urbana. “Não é aquilo que precisamos para diminuir a carga de emissão de poluentes, uma questão para lá de preocupante. Mas é válido porque coloca o tema em discussão pública, e forçar a busca por soluções”,diz.

Ela esteve em julho deste ano num congresso na China sobre o uso biocombustível. Disse que o Brasil foi mencionado positivamente. “Os simpósios dos quais participei relataram que o país está mais avançado na discussão do assunto e não representa, de forma imediata, uma ameaça à derrubada de florestas nativas para produzir biocombustível, fato que vem acontecendo na Indonésia e nas Filipinas”, informou.  

*Chico Boeing é jornalista em Curitiba

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