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Aquecimento global em reai$

Estudo revela que as mudanças climáticas causarão prejuízo de até 3,6 trilhões de reais na economia brasileira nos próximos 50 anos. Boa notícia é que salvar a Amazônia não é tão caro.

Felipe Lobo ·
26 de novembro de 2009 · 15 anos atrás
Minc comanda reunião no BNDES
(foto Felipe Lobo)

Qual o preço do aquecimento global? Para a nação comandada por Lula, até metade do século, provavelmente 3,65 trilhões de reais. Em outras palavras, significa crescer economicamente durante quarenta anos, mas aproveitar o PIB de apenas 39. Esta é a principal conclusão do estudo “Economia da Mudança do Clima no Brasil: custos e oportunidades”, lançado oficialmente durante reunião na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Rio de Janeiro, nesta quarta-feira. Os números, apesar de chamativos, podem estar subestimados: o trabalho não levou em conta gastos de infra-estrutura por falta de informações disponíveis.

Elaborado por um grupo de instituições e financiado pela Embaixada Britânica, o documento é direto ao afirmar que o país pode cortar 70% do desmatamento na Amazônia caso consiga financiadores (nacionais ou estrangeiros) dispostos a pagar três dólares por cada tonelada de carbono. No mercado, hoje, a mesma quantidade custa, em média, 50 dólares. Caso este último valor seja o escolhido, porém, torna-se possível manter 95% das florestas de pé que antes seriam derrubadas para dar lugar à pecuária e outras atividades degradantes.

“Quero apenas deixar claro que acabamos de ter o menor desflorestamento da história e, nem por isso, o dano econômico para a Amazônia foi grande. Isso porque as atividades são ilegais e a margem de lucro, portanto, pequena. Eles lucram, sim, quando não pagam pelas terras ou multas”, disse o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, durante o seu discurso de uma hora. Por mais que não tenha participado do trabalho de pesquisa, foi ele quem mais falou durante a apresentação – e, como de costume, usou o tempo diante do microfone para elogiar os próprios feitos.

Mas não foi apenas na maior floresta tropical do planeta que o estudo se baseou. Na verdade, o grupo de pesquisadores de 11 diferentes instituições elaborou previsões detalhadas para diferentes setores da economia, divididos por todas as regiões do país. Para tanto, foram utilizados dois cenários estabelecidos no âmbito do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) que traçam o possível comportamento do clima no futuro. Entre os conjuntos analisados por esta metodologia, que é apenas uma no universo de outras dezenas existentes, estão tópicos como temperatura, precipitação e fluxo hidrológico.

Os resultados obtidos a partir destas possibilidades geram termos econômicos relacionados à adaptação para os impactos imaginados. Embora o IPCC use a perspectiva do setor financeiro global, o estudo brasileiro tentou compatibilizar a realidade de seu território com as previsões elaboradas pelo painel. Levando isto em consideração, chega-se ao quanto cada brasileiro deve perder em 2050 com os efeitos do aquecimento: algo entre 534 reais/ano e 1.603 reais/ano – quase quatro vezes um salário mínimo.

Concebido em cinco blocos (cenários futuros do clima no Brasil; impactos ambientais, sociais e econômicos esperados; adaptação; análise macroeconômica e oportunidades para o país a partir da redução de emissões) o estudo prevê que o Norte e o Nordeste serão as regiões mais afetadas pelas alterações no clima. Isto apenas ressalta que as populações mais afetadas no globo serão, ao menos no princípio, as mais pobres. “Elas ficarão mais quentes e verão seus índices pluviométricos reduzirem. A confiabilidade no sistema energético cairá em cerca de 30% em virtude da queda no volume de água das hidrelétricas. Será preciso pensar em alternativas”, avaliou Sérgio Margulis, economista e coordenador técnico do projeto.

Veja entrevista com o economista Sérgio Margulis (texto continua abaixo)
 




Oportunidades

Em números, o governo federal precisará investir algo em torno de 58 bilhões de reais ao ano na fabricação de novos parques energéticos, sejam eles movidos pelo sol, vento ou carvão. Este medo, no entanto, foi rebatido por Luiz Pinguelli, da Coppe-UFRJ. Segundo ele, ainda não existe certeza de que irá chover menos no Nordeste brasileiro. “São muitos os cenários, e cada um diz algo diferente. Para este estudo foi usado apenas um, então não se pode afirmar nada”. Seu argumento foi contestado por Carolina Dubeux, da Coppe e coordenadora técnica do trabalho ao lado de Margulis. “Como sabíamos desta dificuldade, usamos outros 15 modelos para o Nordeste, e todos convergiram”, garantiu.

A agricultura também será muito afetada pelas conseqüências do acúmulo de carbono na atmosfera. Praticamente todos os cultivos vão sofrer. A cada grau centígrado a mais na temperatura global, menores os terrenos nos quais o café vai prosperar em Minas Gerais. Caso haja um acréscimo de seis graus, por exemplo, a cultura do grão desparecerá do estado. Entre as soluções apontadas está o investimento em pesquisas para alterar geneticamente as sementes, o que permitiria a adaptação a novos ambientes. Os únicos que podem celebrar são os produtores da cana de açúcar, já que ela receberá muito bem a nova ordem climática. Margulis, porém, acredita que a pressão mundial pelo etanol não é um risco para as matas.

Dificuldades à parte, os pesquisadores envolvidos analisaram oportunidades para o Brasil. A substituição dos combustíveis fósseis por fontes limpas pode evitar o lançamento de 92 a 203 milhões de toneladas de carbono equivalente até 2035. Para isso, o relatório deixa claro que a mudança no clima deve constar nas políticas públicas e é urgente aumentar o conhecimento técnico acerca do tema. Imediatamente, entretanto, a dica parece simples: estancar o corte ilegal de árvores na Amazônia. “Este é o seu trabalho, ministro”, cutucou Margulis, durante a sua fala.

Convidado a discursar, Minc apenas esboçou um sorriso após o puxão de orelha amigável do colega. Mas, logo em seguida, desandou a fazer propaganda oficial e, de vez em quando, lembrava que era preciso mencionar o estudo responsável por levar todos àquela sala. Para o manda-chuva da pasta ambiental no Brasil, o esforço das instituições envolvidas é muito importante porque mostra aos cidadãos, pela primeira vez, que as mudanças climáticas acontecem de verdade e precisam ser levadas a sério.

“Estamos falando de custos para a adaptação. Isso significa que, se o planeta parar de lançar carbono hoje para a atmosfera, teremos de arcar com o resultado das ações que já fizemos. Mas acho que está um pouco alarmista porque não vamos deixar para agir em 2050. Já temos diversas frentes no governo e estas análises por regiões ajudarão ainda mais”, explicou. Independente de discursos, o fato é que o aquecimento global nunca foi tão palpável.

Saiba mais
Caminho para o corte das emissões
A hora da virada
Mapa dos impactos
Agricultura às avessas

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RESUMO EXECUTIVO DO ESTUDO A ECONOMIA DO CLIMA


  • Felipe Lobo

    Sócio da Na Boca do Lobo, especialista em comunicação, sustentabilidade e mudanças climáticas, e criador da exposição O Dia Seguinte

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