O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acabou de fazer o mais aguardado discurso na 15ª Conferência do Clima, em Copenhague, e silenciou os recintos do centro de convenções. Todos esperaram, até a última palavra do presidente, que Obama trouxesse uma carta na manga que representasse avanços no compromisso da maior economia do mundo no combate ao aquecimento global. Mas ficou só na vontade. “Eu vim aqui para agir, não para falar”, disse Obama. Mas acabou repetindo o que todos já sabiam. Que os Estados Unidos já estão fazendo muito ao se comprometerem com uma redução de gases estufa de 17% até 2020 com base nas emissões de 2005, o que significa na verdade um corte real de apenas 4% em relação ao que os americanos emitiam em 1990, ano de referência para os países desenvolvidos comprometidos com o Protocolo de Kyoto.
A União Européia, por exemplo, propôs em Copenhague que a sua diminuição fosse de 20% sobre 1990, mas já se sabe que em conversa na madrugada de ontem o bloco resolveu aumentar a meta para 30%. Obama considerou suficiente a contribuição americana de dar US$ 10 bilhões de dólares por ano até 2012 para um fundo de curto prazo destinado à ajudar as nações mais pobres a combater a mudança do clima. Disse ainda que os EUA aceitam participar de um esforço mais abrangente de reunir US$100 bilhões até 2020, como anunciado um dia antes por Hillary Clinton, secretária americana de Estado. A expectativa era de que se os Estados Unidos continuassem irredutíveis em relação às metas de mitigação, pelo menos comprometeriam-se com mais recursos financeiros.
Obama entrou na plenária quando as mãos dos outros líderes ainda estavam aquecidas pela quantidade de aplausos dados ao presidente Lula, que discursou logo antes, de improviso. Ele foi interrompido cinco vezes pela platéia, e ainda no começo de sua fala disse que durante a reunião que entrou pela madrugada de ontem para hoje com outros presidentes, se sentiu como um líder sindical tentando negociar com empresários. Depois de mencionar os compromissos domésticos do Brasil na redução as emissões por desmatamento em 80% até 2020, de investimentos na matriz energética renovável brasileira e na previsão de gastos da ordem de 166 bilhões de dólares para realizar todas as ações, Lula avisou que anunciaria algo novo: contribuir voluntariamente com um fundo climático para ajudar as economias mais pobres, algo que durante a última semana a ministra-chefe da casa civil, Dilma Rousseff, desconsiderava em Copenhague.
A intenção de Lula foi claramente mostrar que ele sim, ao contrário do que faria Obama minutos depois, tinha uma carta nova na manga para tentar estimular mais ousadia por parte dos países ricos no fechamento de um acordo climático que chegue pelo menos perto do que a Ciência recomenda. Até agora, no entanto, com os compromissos postos na mesa, cientistas dizem que a temperatura do planeta vai chegar a 3ºC e a concentração de gás carbônico ficará em 550 partes por milhão (ppm) na atmosfera. Para que os países mais vulneráveis, como os insulares e africanos, tenham alguma chance de não serem varridos do mapa por catástrofes climáticas, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) considera que a temperatura não deveria subir mais do que 1.5ºC e a concentração de gases não poderia superar os 350ppm.
Enquanto os discursos continuaram, as negociações corriam em paralelo entre os diplomatas. Estava marcada para as às 15 horas nova plenária com os líderes em Copenhague, mas as discussões seguem a portas fechadas. Espera-se para qualquer momento o anúncio de um acordo político – e não legal, como seria, caso fosse lançado um novo protocolo – mostrando o compromisso dos países em negociar um novo documento que tenha os seguintes pontos:
1 – Meta de 80% de redução de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos até 2050
2 – Meta de 50% de redução nas emissões globais até 2050
3 – Um limite de aumento da temperatura de 2oC
4 – Compromisso financeiro de US$ 30 bilhões até 2012
5 – Compromisso financeiro de US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020
(colaborou Gustavo Faleiros)
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