Recife – Uma onda de empreendimentos de energia eólica está chegando ao Porto de Suape, em Pernambuco. Em maio, a RM Eólica foi inaugurada e vai produzir até mil torres de aerogeradores por ano. Na cerimônia, além do tradicional corte da fitinha para simbolizar o início dos trabalhos, foi feito o anúncio de novos investimentos. A Gonvarri, empresa espanhola que controla a RM Eólica, vai construir até 2011 nova unidade para fabricação de flanges e um centro de montagem de turbinas. Os flanges são os anéis que fazem a união dos grandes cilindros que formam as torres. A indústria começa suas atividades com encomendas de 300 torres para entrega.
Antes da RM Eólica, a Impsa investiu ali R$ 150 milhões. A unidade em Suape desta multinacional argentina produz aerogeradores. A empresa tem interesses em conquistar três parques de energia eólica que produziriam 100 megawatts (MW) e que fazem parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) da Eletrobrás.
A Eólica Tecnologia é outra empresa que está dentro desse filão de energia limpa. A empresa é liderada pelo professor Everaldo Feitosa, responsável por um dos poucos mestrados de energia eólica no país, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Também vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica, ele conta que uma das razões para os investimentos no setor crescer no país está no fato de que o Brasil encontra-se em um estágio anterior em relação a outros países no uso da energia eólica.
Juan Carlos Fernandes, diretor da Impsa, afirma que existem excelentes condições de crescimento. “O Brasil tem um potencial eólico de 150 mil MW”, avalia. O Nordeste, região que concentra as melhores jazidas de ventos do país, é carente de outras fontes de energia. A perspectiva nacional citada por Fernandes é praticamente a mesma utilizada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE): 143 mil MW – mais ou menos 13 usinas de Belo Monte.
De acordo com uma análise feita pelo professor Heitor Scalambrini Costa, do departamento de Engenharia da UFPE, no Plano Decenal de Expansão de Energia da EPE a participação das usinas eólicas passará de 0,3 para 0,9% da potência instalada no país. A biomassa (bioeletricidade) passará a responder por 2,7% (hoje, 1%)e as usinas térmicas aumentarão sua participação de 0,95 para 5,7% (mais de 500%). “A expansão pífia prevista para a energia eólica contrasta com a as informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que afirma que os ventos poderiam atender a pelo menos 60% de todo o consumo nacional de energia, já que em mais de 71 mil quilômetros quadrados do território nacional a velocidade dos ventos é adequada”.
Comparação desfavorável
O leilão para compra de energia eólica no Brasil realizado em dezembro de 2009 contratou cerca de 6 mil MW. No mesmo ano, a China implantou 14 mil MW e os Estados Unidos 10 mil MW, sendo que os dois países já utilizam mais de 15% da geração de energia através dos ventos. O Brasil não gera 1% do total que consome. “As perspectivas são imensas, pois além de limpa, a energia eólica se tornou competitiva e confiável”, argumenta Everaldo Feitosa, garantindo que o preço do MW gerado pelo do vento (R$ 148 o MW/h, no último leilão) é menor do que qualquer outra fonte, a exceção das grandes hidroelétricas.
A tendência é global. Na Dinamarca, 20% de toda energia consumida no país tem origem nos ventos. Os planos do país é que até 2020, a participação da energia eólica chegue a 50%. Pensa-se da mesma forma na Espanha e em Portugal.
Para Feitosa, o Brasil poderá se destacar no cenário mundial em breve. “A rapidez com que nossos projetos foram construídos mostra a viabilidade da energia eólica. Entre 2012 e 2015, vamos ter uma geração superior a 3 mil MW. Com isso, o país ficará entre os dez maiores produtores do mundo”, prevê. Hoje, o país ocupa a 21ª posição com uma produção de 600 MW.
Tecnologia
A tecnologia espanhola está presente nos empreendimentos em Pernambuco. A Gonvarri é a controladora da RM e tem negócios com a Eólica Tecnologia, através da Gestamp Wind. Os portugueses da MPG Shipyards, que vão instalar um estaleiro de R$ 255 milhões em Suape, afirmaram deter uma tecnologia vantajosa para plataformas marítimas para instalação de turbinas eólicas.
Além dos estrangeiros, a Máquinas Piratininga resolveu explorar o filão na construção de torres. A indústria pernambucana com tradição no fornecimento de máquinas para indústrias de cana, cimento e siderurgia está no Parque Rosa dos Ventos, em Aracati, Ceará, como fornecedora das torres com 88 metros de altura.
A entrada da Piratininga é o primeiro passo do que pode vir a ser uma trilha aberta pelas empresas brasileiras na busca por matriz energética limpa e desenvolvimento de tecnologia nacional para tanto. O professor Everaldo defende a busca por mais informações e novos estudos que possam qualificar o Brasil no setor. Juan Carlos Fernandez, da Impsa, compara a indústria de energia eólica com a indústria automobilística. “Somos indutores de desenvolvimento, porque além de gerarmos energia, o setor precisa de diferentes tipos de fábricas, cada uma fazendo uma parte para transformarmos a força dos ventos em energia elétrica”.
A questão da logística também tem seu peso. Uma rápida observação no mapa do Centro de Referência para Energia Solar e Eólica revela as grandes jazidas de ventos estão na região Nordeste. Suape está estrategicamente bem posicionado entre o Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e o interior de Pernambuco. Na região estão mais de 70% dos projetos instalados. A previsão é que nos próximos dois anos, R$ 7,2 bilhões sejam investidos em parques de geração de energia eólica. Números que devem se repetir entre os mais de 300 projetos que irão a leilão para contratação de 10 mil MW em outubro.
São projetos modernos que venceram defeitos presentes na geração da energia eólica dos modelos com mais de 10 anos. Antes havia produção de ruído com a rotação de hélices de 10 a 20 metros de diâmetro. Com a utilização de hélices de 100 metros de diâmetro e giro mais lento, o barulho acabou. A nova tecnologia trouxe o silêncio e segurança para os pássaros, que tombavam atingidos pelas hélices do passado. “Ainda não conseguimos criar torres invisíveis”, brinca Everaldo Feitosa, como que se desculpando pelo único defeitos não solucionado nos projetos que juntam os aerogeradores: o estético.
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