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Parques urbanos ganham reconhecimento como importantes para estratégia global de conservação e, por isso, o paradigma da gestão começa a mudar.

Pedro da Cunha e Menezes ·
14 de setembro de 2010 · 14 anos atrás

Há cerca de 10 anos, a Comissão de Áreas Protegidas da União para a Conservação da Natureza (UICN) marcou uma de suas reuniões no Brasil. Cláudio Maretti, então único brasileiro com assento naquela instância do órgão, decidiu fazê-la no Parque Nacional da Tijuca.

Foram quatro dias de discussões e deliberações importantes sobre o estado das unidades de conservação mundo afora. Mais significante ainda foi o legado que ficou para a excessão no mundo das áreas protegidas: as áreas protegidas urbanas.

A noção de que os Parques Nacionais urbanos são diferentes, não apenas por serem menos relevantes para a conservação in situ, mas sobretudo porque representam a porta de entrada aos conceitos ambientalistas para os mais de 50% da população mundial que vivem nas cidades saiu de lá solidificada. A partir de então, a UICN incorporou em seus objetivos estratégicos a necessidade de que o manejo das unidades de conservação urbanas contemple uma tolerância maior aos impactos da visitação em troca de funcionarem como gigantescas ferramentas de educação ambiental, com o objetivo de construir um grupo de apoio à preservação cada vez maior e mais influente politicamente (nas cidades estão os grandes formadores de opinião e os principais tomadores de decisões).

Em 2001 criou no âmbito da Comissão de Áreas Protegidas um Comitê especialmente dedicado ao tema. De lá para cá esse grupo tem trabalhado para levar a mensagem “conhecer para conservar” a um público cada vez maior. Ironicamente, contudo, os primeiros que precisam compreender essa mensagem são os próprios gestores dos Parques Nacionais urbanos, muitos dos quais insistem em querer administrar suas unidades de conservação como se estivessem em ambientes rurais ou afastados das cidades.

Nessa luta muitos aliados têm sido recrutados. Alguns deles com contribuições inestimáveis. È o caso da pesquisadora franco-brasileira Louise Bruno e do professor americano Glen Hyman. Entre os dias 4 e 8 de setembro corrente juntos os dois organizaram na Escola de Ciências Políticas de Paris, com apoio de setores da Academia e do Instituto Libertas, o Colóquio BiodiverCities 2010 (www.BiodiverCities.net/presentations), que reuniu gestores de algumas das principais áreas protegidas urbanas do planeta para um debate amplo e substantivo, sobre como tais parques devem ser manejados e como devem interagir com as metrópoles que os envolvem.

Mais que isso, Louise e Glen trouxeram a Paris funcionários das Prefeituras em questão. Assim a interface Parque-planejamento urbano foi a grande protagonista no auditório da Escola de Ciências Políticas. Pode parecer pouco mas não é. No Rio de Janeiro, por exemplo, Parque Nacional da Tijuca e Prefeitura da Cidade começaram a se coordenar para valer apenas no ano 2000; na Cidade do Cabo este relacionamento é só um pouco mais antigo, vem de 1998. Em outros lugares ainda nem começou. O diretor do Parque Nacional de Nairobi somente conheceu sua contraparte nos quadros funcionais da capital queniana a bordo do avião que os levou ao Charles de Gaulle. O caso de Mumbai, na Índia é ainda mais impressionne. Segundo o diretor do Parque Nacional Sanjay Gandhi, não deve haver diferenças de manejo entre aquela área no coração da maior metrópole da Índia ou uma situada, por exemplo, no Himalaia. Por isso preferiu não vir a Paris. Pena, perdeu uma excelente chance de ver que, se a cidade é uma fonte de problemas, também pode representar uma miríade de soluções, entre as quais se destacam aporte de recursos humanos e financeiros, acesso mais fácil a pesquisadores e tomadores de decisão, proximidade com potenciais patrocinadores etc

Celso Junius, Louise Bruno (com o simpático Samuca no colo), Loreto Figueira, Wilson Korir (Nairobi) e Stephen Granger (Cabo) (foto: Pedro Cunha e Menezes)
Celso Junius, Louise Bruno (com o simpático Samuca no colo), Loreto Figueira, Wilson Korir (Nairobi) e Stephen Granger (Cabo) (foto: Pedro Cunha e Menezes)

As diversas apresentações feitas na BiodiverCities 2010 por gente de lugares tão variados como Nairobi, Cabo, Paris, Agadir, Los Angeles, Sydney, Mumbai e Rio de Janeiro apontaram para uma realidade futura em que as vantagens da localização urbana poderão vir a suplementar os problemas impostos por essa mesma realidade.

Nesse sentido as conferências feitas pelos representantes do Parque Nacional da Tijuca Loreto Figueira (ICMbio) e Celso Junius (Prefeitura) destacaram-se por mostrar uma moldura institucional de parceria que pode servir de exemplo mundo afora. Também cabe comentar a conferência do urbanista Luiz Carlos Madeira Domingues sobre o Campus que a Fiocruz está implantando na Colônia Juliano Moreira, contígua ao Parque Estadual da Pedra Branca. Entre outras coisas, chama atenção o fato de que o Campus pode servir para implementar uma futura escola nacional de guardas-parques. Sua localização é ímpar nesse sentido, pois está entre um Parque Estadual e outro Federal que podem funcionar como Parques-escola, com a vantagem de ensinar como um mosaico pode ser gerido. Ademais, sua localização permite o recrutamento de professores de alto nível nas universidades federais e estaduais da cidade do Rio de Janeiro (UFRJ, UFRRJ, UFF, UNI Rio, UERJ e outras) bem como na Embrapa, Jardim Botânico, Corpo de Bombeiros etc.

Enfim, seria ver um sonho virar realidade. No momento, contudo, só o fato de que o paradigma da gestão das UCs urbanas começa a mudar já é sonhar acordado. Fica aqui um aplauso para a dupla Louise Bruno e Glen Hyman.

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