Reportagens

Andar de bicicleta é 6 vezes mais barato do que de carro

Estudo da Coppe/UFRJ afirma que uso de bicicletas é mais barato e rápido em centros urbanos como Rio de Janeiro e Porto Alegre. Além disso não há poluição.

Flávia Moraes ·
26 de outubro de 2011 · 13 anos atrás
Bicicletas versus carro. Quem ganha a batalha do custo e da sustentabilidade?Foto: Creative Commons
Bicicletas versus carro. Quem ganha a batalha do custo e da sustentabilidade?Foto: Creative Commons
Utilizar a bicicleta como meio de transporte pode ser até seis vezes mais econômico do que andar de carro e três vezes mais barato que o ônibus. Essa foi uma das constatações da pesquisa realizada pelo engenheiro Marcelo Daniel Coelho do Coppe – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O estudo foi realizado com dois usuários diários da bicicleta como meio de transporte entre casa-trabalho-casa, um residente no Rio de Janeiro e o outro de Porto Alegre. O valor médio do custo, por quilômetro, no deslocamento diário de bicicleta foi estimado em R$0,121/km, enquanto um automóvel movido a gasolina gasta R$0,763/km, o deslocamento de ônibus custa R$0,324/km e de moto fica em R$0,481/km.

Tabela 2 - Perfil dos ciclistas. Fonte: Estudo Custo por quilômetro da bicicleta como transporte diário - Coppe-UFRJ | Clique para ampliar
Tabela 2 – Perfil dos ciclistas. Fonte: Estudo Custo por quilômetro da bicicleta como transporte diário – Coppe-UFRJ | Clique para ampliar
Além de estimar o custo do deslocamento, a pesquisa calculou a velocidade média operacional por modo, quesito no qual as magrelas também saíram na frente. “Essa velocidade comparativa foi feita pelos ciclistas, fazendo o mesmo trajeto com diferentes modos – bicicleta, automóvel e ônibus. Pudemos comprovar que a viajem realizada de bicicleta era sempre mais rápida do que a por ônibus ou por carros, devido aos congestionamentos e retenções nas vias”, afirma Coelho.

Vantagens que vão além da agilidade são destacadas pelo pesquisador: a bike não contribui para a poluição atmosférica e agravamento do efeito estufa, tem uma estrutura física de pequena envergadura, que consome pouco material e espaço, podendo ser considerada o veículo mais acessível para a população de baixa renda. O custo de aquisição de uma bicileta de uso urbano, aro 26 (marcas Caloi, Ox Bike ou Sundown Sun) e dos acessórios obrigatórios que devem ser utilizados no deslocamento, chegou a valores que não ultrapassam os 650 reais.

Custos com o carro

Outros custos estimados pelo engenheiro foram a depreciação do veículo, mostrando que após quatro anos de uso a bicileta desvaloriza apenas cerca de 200 reais para a revenda; o consumo, resultado negativo já que a magrela não exige qualquer tipo de combustível, bem como os custos sociais e de impostos, também negativos pelo fato de não haver cobranças oficiais e de não haver emissão de poluentes ou qualquer tipo de impacto para a sociedade com esse meio de transporte.

Tabela 4 - Aquisição e manutenção da bike. Fonte: Estudo Custo por quilômetro da bicicleta como transporte diário / Coppe-UFRJ | Clique para ampliar
Tabela 4 – Aquisição e manutenção da bike. Fonte: Estudo Custo por quilômetro da bicicleta como transporte diário / Coppe-UFRJ | Clique para ampliar
No entanto, todas essas vantagens são diminuídas quando analisamos a falta de estrutura viária para ciclistas da maioria das cidades brasileiras, principalmente as capitais. “A escassez de infra-estrutura cicloviária, necessária para facilitar o deslocamento, proteger a vulnerabilidade dos ciclistas com relação aos outros veículos e, principalmente, reduzir a eventualidade de acidentes, torna-se o grande empecilho para utilização da bicicleta como meio de transporte urbano”, lamenta Coelho.

A esperança do pesquisador é que o seu estudo possa contribuir para que outros centros urbanos realizem o mesmo levantamento e possam estimar os custos e vantagens do uso da magrela como meio de transporte. Talvez, assim, os administradores públicos percebam a importância de investir na estrutura urbana para estimular e possibilitar o uso da bicicleta.

 A realidade de um apaixonado por bicicletas

“Uso a bicicleta desde criança. Nasci e morei numa cidade do interior de Santa Catarina, Rio do Sul, que é relativamente plana e andar de bicicleta era comum entre os habitantes. Ao mudar para Joinville, uma cidade maior, segui o meu hábito, pois era ótimo e viável andar por lá. O povo tem a cultura do ciclismo, não anda na contramão ou em cima da calçada, pára na faixa de segurança para os pedrestes. Além disso, shopping centers têm local para estacionar as bicicletas, o que facilita muito. Em Florianópolis, onde fiquei por cinco anos, tive que deixar a bici mais para lazer, assim como em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde vivo atualmente. Aqui encontro dificuldades para o ciclismo, pois não há ciclovias, o trânsito é bastante agressivo e grande parte dos ciclistas não têm a conduta correta: não param na faixa de segurança, andam pela calçada, não usam os acessórios necessários etc. Assim, costumo utlizar a bicileta em trajetos curtos, nos quais levo poucos minutos, que variam entre 3 km a 4 km, mais trajetos de bairro mesmo. Outro agravante é o tempo, pois aqui chove muito e faz bastante frio, o que desestimula sair ao ar livre. Contudo, percebo uma melhora gradual na capital gaúcha, com oferta de empréstimo de bicicletas em alguns shoppings e estacionamento próprio no Mercado Público, por exemplo. Se a prefeitura realizar as obras prometidas, com mais de 40 km de ciclovia até 2017, com certeza mais porto-alegrenses vão deixar seus carros em casa. O prazer e a qualidade de vida proporcionada por esse transporte são inigualáveis”.

Luis Ventura – fotógrafo


  • Flávia Moraes

    Jornalista, geógrafa e pesquisadora especializada em climatologia.

Leia também

Notícias
14 de novembro de 2024

Sombra de conflitos armados se avizinha da COP29 e ameaça negociações

Manifestantes ucranianos são impedidos de usar bandeira de organização ambientalista por não estar em inglês

Podcast
14 de novembro de 2024

Entrando no Clima#34 – Conflitos dentro e fora das salas de negociações comprometem COP29

Podcast de ((o))eco fala da manifestação silenciosa da Ucrânia e tensões diplomáticas que marcaram o quarto dia da 29ª Conferência do Clima da ONU

Salada Verde
14 de novembro de 2024

Parlamento europeu adia por um ano acordo para livrar importações de desflorestamento

Decisão mantém desprotegidas florestas no mundo todo, como a quase totalidade da Amazônia sul-americana e outros biomas

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 1

  1. todos deveriam adotar o uso da bicicleta ! muito bom e faz bem a saúde