Reportagens

É possível falar de mudanças do clima com diversão

Uma das novidades da programação do Climate Communication Day foi o painel sobre como os jogos podem ajudar na compreensão do aquecimento global.

Flávia Moraes ·
2 de dezembro de 2011 · 13 anos atrás
Pablo Juarez explica regras de jogo que leva participantes a tomar decisões sobre investimentos e riscos em um mundo afetado pelas mudanças climáticas. Foto: Teddy Ruges
Pablo Juarez explica regras de jogo que leva participantes a tomar decisões sobre investimentos e riscos em um mundo afetado pelas mudanças climáticas. Foto: Teddy Ruges
Durante todo o dia de hoje grande parte dos jornalistas trocaram as salas de negociações do International Conference Centre (ICC) pelas salas do Southern Sun Elegani Hotel. O objetivo: discutir os desafios de informar a população sobre as mudanças do clima. O evento, chamado Climate Communications Day, foi realizado pela Internews Earth Journalism Network e faz parte da programação da COP17.

Para minha felicidade, um dos palestrantes da primeira apresentação era o jornalista Sérgio Abranches, um dos fundadores do ((o))eco. Não havia recebido a programação previamente, então foi uma surpresa boa vê-lo. Com ele, estavam presentes: Haili Cao (Caixin Media, China), Obinna Anyadike (Irin News, África do Sul), Joydeep Gupta (IANS/Third Pole Project, Índia), Yolandi Groenewald (City Press, África do Sul) e, por teleconferência, Randy Olson (cientista, cineasta e autor do livro Don’t Be Such a Scientist).

Cada um dos comunicadores destacou pontos que considera importante para inovar e informar sobre mudanças do clima.

 

Ouça aqui algumas dicas sobre como melhorar a cobertura ambiental e científica, por Sérgio Abranches.

“Games” e Mudanças Climáticas

Foto: Teddy Ruges
Foto: Teddy Ruges
Uma das novidades da programação foi o painel sobre como os jogos podem ajudar na compreensão das mudanças do clima, inclusive em comunidades rurais que não contam com a mídia ou outro tipo de informação sobre o assunto. Pablo Suarez e Janot Suarez aplicaram a brincadeira em alguns locais do Malawi e, no Climate Communications Day, fizeram os jornalistas experimentar o jogo ‘Pagando pelo despreparo: riscos de desastre com um clima em transformação’.

Fomos divididos em duas equipes. Havia um dado, grãos vermelhos e duas linhas azuis que representavam as margens de um rio. Cada um recebeu 10 grãos e a cada rodada éramos questionados por Pablo sobre riscos de eventos extremos. Ele explicava que havia uma chance em seis de acontecer seca ou enchente, por exemplo, e pedia para agirmos como administradores públicos e pensar em qual desses eventos extremos a gente iria investir o dinheiro. Após tocar o dado, quem havia colocado o evento oposto, perdia quatro grãos, prejuízo. Quem tivesse optado pela neutralidade, não perdia nada, assim como quem havia optado pelo evento certo. Quem tivesse mais grãos no final era o vencedor.

Minha equipe venceu e eu venci, individualmente, como a melhor administradora de eventos extremos, pois perdi menos grãos vermelhos, ou seja, investi o dinheiro na prevenção dos eventos corretos. E ainda ganhei alfajores Havanna por isso! Foi uma experiência interessante, pois além de brincar percebemos a dificuldade em projetar ações ligadas às mudanças do clima.

Ceticismo

Ao final, houve um painel sobre a relação entre os céticos do clima e a imprensa. Ministrada por James Painter, coordenador do Programa de Pesquisa em Jornalismo da Universidade de Oxford (Reino Unido), a palestra destacou os jornais do mundo que menos dão espaço à comunidade contrária ao aquecimento global.

A América do Sul e a África são os continentes que menos abrem espaço para uma visão contrária às mudanças do clima. O Brasil destaca-se nesse grupo, já que no ano de 2007 e na segunda metade de 2009 (após o Climategate) e 2010 menos de 5% de suas matérias climáticas deram voz aos céticos. “Por ter uma matriz energética pouco dependente dos combustíveis fósseis e muito ligada à hidroeletricidade, parece que a imprensa brasileira sofre menos pressão das grandes empresas petrolíferas quando se trata de aquecimento global. Além disso, percebemos uma grande ligação entre os comunicadores e os cientistas no país, o que os torna mais aptos a avaliar a informação antes de publicar”, justifica Painter.

 

  • Flávia Moraes

    Jornalista, geógrafa e pesquisadora especializada em climatologia.

Leia também

Notícias
20 de dezembro de 2024

COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas

Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial

Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia

Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.