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Chegada a Sinop: a cidade que um dia foi floresta

((o))eco chega a Sinop, no arco do desmatamento, para acompanhar a operação Soberania Nacional de repressão, do Ibama e Polícia Federal.

Fábio Pellegrini ·
29 de outubro de 2012 · 12 anos atrás
O pequeno aeroporto de Sinop visto do pátio de aeronaves. (Fotos: Fabio Pellegrini)
O pequeno aeroporto de Sinop visto do pátio de aeronaves. (Fotos: Fabio Pellegrini)

Sinop-MT – A reportagem de ((o))eco chega ao município de Sinop, localizado na região Norte de Mato Grosso, na Amazônia Legal, para acompanhar a Operação Soberania Nacional, realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com o objetivo de combater o surto de desmatamento ilegal na Amazônia, ocorrido em agosto, principalmente no Mato Grosso e Pará.


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De Campo Grande, ponto de partida da viagem, a Sinop foram quase 1.200km, com escala em Cuiabá, capital mato-grossense. Na sala de embarque do Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Cuiabá, uma placa de propaganda da empresa colonizadora Sinop chama atenção, divulgando seus méritos por ter criado 9 cidades ao longo de 65 anos.

Explica-se: o município de Sinop foi criado a partir de um projeto dessa empresa, cujo nome é abreviação de Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná. Incentivada pelo governo federal, durante a gestão Médici, fomentou a ocupação da região amazônica com o lema “Integrar para não entregar”. Receoso de intenções norte-americanas em “internacionalizar” a Amazônia, Médici aproveitou a ocasião para aliviar tensões sociais no Sul e Nordeste do Brasil e incentivou a migração dessas regiões para a nova fronteira agrícola de terras fartas e baratas.

Placa de propaganda da empresa colonizadora que planejou a cidade de Sinop
Placa de propaganda da empresa colonizadora que planejou a cidade de Sinop

Fundado em 1974, o município é hoje a 4ª população do estado, com uma economia baseada na agropecuária. No início, a indústria madeireira dominava. Após vasto desmatamento, o gado bovino e a soja imperam. Porém o negócio madeireiro resiste, ainda que ilegalmente. Essa é a razão que motivou ((o))eco a se lançar nessa cobertura jornalística exclusiva: o “Nortão de Mato Grosso” tem altos índices de desmatamento e é um dos arcos de maior pressão sobre a Amazônia Legal.

Depois do repique de agosto, o Ibama está empenhado em conter essa onde desmatamento. Com o apoio de outros órgãos, como a Polícia Federal, utiliza-se de duas estratégias: a primeira é a vistoria de 100% das áreas com indicação de degradação ambiental. São os chamados polígonos, revelados pelo satélite, através do sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), mantido pelo INPE, sediado em São José dos Campos (SP). Recebidos os alertas produzidos pela análise de imagens de satélite, o Ibama parte para o campo, usando helicópteros e veículos adaptados ao solo amazônico.

A segunda estratégia do Ibama é atacar o bolso dos infratores. Apreende todo maquinário utilizado para o desmatamento ilegal. Isso incomoda, pois existe até a possibilidades dos equipamentos serem destruídos no local de apreensão. E mais: áreas abertas ilegalmente e seus produtos, incluindo seu gado, podem ser doados aos programas sociais do Governo Federal. Por fim, o comerciante ou empresa que vender produtos de áreas embargadas será corresponsabilizado nos processos administrativo e criminal.

A aprazível cidade tem ruas largas e muitas bicicletas devido ao terreno
A aprazível cidade tem ruas largas e muitas bicicletas devido ao terreno

Voltando à chegada em Sinop, ninguém melhor que um taxista para divagar, de forma sincera, sobre a cidade. Waldecir da Silva nasceu em Colíder, também em Mato Grosso, mas vive em Sinop há 22 anos. Os pais vieram do Paraná, como a maioria dos colonizadores. Tiveram um sítio na região por alguns anos, mas para uma família tipicamente rural, apenas três homens (os filhos e o pai), brinca o taxista, não são suficientes para sustentar uma família com 6 mulheres (5 filhas e a mãe). Por isso os pais resolveram vender a pequena propriedade rural e se enveredar no comércio da cidade.

Segundo o censo 2010 do IBGE, Sinop tem pouco mais de 110 mil habitantes em uma área de 3.942 km2. O taxista Waldecir conta que a cidade é ordeira, limpa, com duas grandes áreas verdes, universidades públicas e alto giro de capitais. “Vez em quando aparecem uns bandidos pra tentar a sorte, mas logo são presos”, conta. O primeiro shopping da cidade está em construção e o edifício mais alto, dos 5 existentes, tem 12 andares.

O prédio mais alto da cidade mostra a pujança gerada pela agricultura da região
O prédio mais alto da cidade mostra a pujança gerada pela agricultura da região

Hoje, segunda (29) começa nossa jornada com a equipe do Ibama. No mês passado, foi sabotado um helicóptero do órgão, utilizado na fiscalização contra o desmatamento. A Polícia Federal investiga o caso. Indagamos a um funcionário do aeroporto se o helicóptero estava lá, e a resposta foi negativa: “Mas quando vem, fica aqui!”, disse o receptivo senhor.

A cidade causa boa impressão, mas também uma pergunta: onde está a floresta que um dia já tomou essa região?

 

 

Próximo relato dessa reportagem
Dia 1 – A primeira operação de apreensão a gente nunca esquece

Todos os relatos
Chegada a Sinop – a cidade que um dia foi floresta
Dia 1 – A primeira operação de apreensão a gente nunca esquece
Dia 2 – Sobrevoando a maior floresta do mundo
Dia 3 – O desafio da extração legal
Dia 4 – Uma conversa com o novo prefeito de Feliz Natal
Dia 5 – A relação das pessoas com a madeira
Dia 6 – Em busca de soluções para o desmatamento

 

 

 

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