O Circuito Interno do Parque Nacional da Tijuca é uma das trilhas já consagradas que irão fazer parte do circuito maior da Transcarioca. Um passeio para ser saboreado, que começa na calma Estrada do Excelsior. Cercada de árvores imponentes que esbanjam verde é impossível não pensar nos reflorestamentos do passado que impediram que esse templo da natureza sumisse.
A caminhada leva até a Caveira, uma antiga construção cercada de lendas quanto à origem de seu nome. A mais popular delas conta que a pedra do Andaraí Maior, perto de onde está a ruína, tem o formato de uma caveira (mais visível na época do reflorestamento quando havia menos árvores encobrindo o morro). De lá, pela Serrilha da Caveira, em 40 minutos se chega no único ponto onde é permitido banho em todo o Parque. Enquanto o nome da Caveira permanece um mistério, a Cachoeira das Almas traz a certeza de que ali é um local onde se lava a alma e não só o corpo.
Belezas naturais e sítios históricos se revezam no Circuito e o passado ganha cores, formas e paredes no restaurante “A Floresta”. O lugar onde hoje são servidas refeições, antes era o lugar dos que serviam. A senzala dos escravos do cafeicultor Midosi e do Major Archer – o primeiro administrador da Floresta da Tijuca – foi reconstruída em 1944 e hoje é um dos restaurantes do Parque, assim como “Os esquilos”. Os dois revezam os dias de funcionamento.
Uma curta caminhada de 15 minutos e os atrativos ganham uma profundidade diferente com as grutas: Belmiro, Archer, Bernardo Oliveira, Morcegos, Paulo e Virgínia, e Gabriela; a sequência de cavernas com nome próprio tem também seus encantos particulares. Na Belmiro, após uma leve escalada até a entrada da gruta, é possível sentir o ar gelado que emana lá de dentro. A inesperada surpresa gelada – muito bem vinda em pleno verão carioca – tem explicação: a temperatura interior da caverna é estável e se regula de acordo com as correntes de ar que entra pelas aberturas. Graças a topografia da caverna, com apenas uma abertura, o ar frio, que é mais pesado que o quente do lado de fora, impede-o de entrar.
A gruta do Archer tem uma formação diferente e o que chama atenção é o enorme monólito que paira imponente sob nossas cabeças. Diante desse gigante silencioso que vigia a floresta, os macacos-prego – comuns na região – brincam nas árvores, e o homem é quase um intruso naquele lugar sacro. Como boa visitante, apenas assisto a esse espetáculo que a natureza nos proporciona.
A última grande caverna é a dos Morcegos. A entrada estreita despista o enorme salão dessa que é a segunda maior caverna de gnaisse (espécie de rocha) do Brasil. Lá o fenômeno do “ar condicionado” é ainda mais forte e o vapor d’água gera uma cortina de névoa que dá um ar esotérico à escuridão. Morcegos, só no nome.
Na próxima parada, um pouco de história: as Ruínas do Humaitá. O sítio era de propriedade do Barão do Bom Retiro que perdeu seu filho durante a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), na Batalha do Humaitá, e resolveu homenageá-lo. Ainda nesse mergulho de volta ao passado colonial do Parque, a Fazenda marca uma época em que a monocultura de café dominava (e desmatava) a Floresta. Desmatamento que foi combatido com o plano de reflorestamento, iniciado por Archer e continuado pelo Barão d’Escragnolle. O Barão tinha um especial amor pela região e construiu sua casa ali, onde hoje funciona o Restaurante “Os esquilos”.
Não é difícil entender a paixão do Barão pelo Parque. A própria Imperatriz Leopoldina também tinha seu recanto predileto na Floresta, o Jardim dos Manacás. No centro do jardim, em equilíbrio harmônico, está a Fonte Wallace, do francês Charles Lebourg.
Trinta minutos de caminhada leve e o percurso revela outro nome importante da sua história: Castro Maya. Sua antiga residência de verão agora é o Museu do Açude da Solidão. Para os que pretendem visitá-lo agora, fica o aviso que o Açude está em obras e as escavadeiras no lugar do conhecido lago do Açude podem frustrar muitos visitantes. A obra deve terminar até o final de janeiro.
Para continuar a viagem no tempo a trilha segue para a antiga Hípica do Parque. A casa habitada por herdeiros dos antigos donos não pode ser visitada, mas na entrada podemos vislumbrar a rampa para carruagens. Hoje não há mais cavalos, apenas lagartos teiús que fogem ligeiros à aproximação de passos. Para não perturbá-los em seu banho de sol, seguimos para nosso último destino: a Capela Mayrink. Uma construção do homem que parece estar ali para reforçar a admiração por todo o entorno e a fé de que verdadeiros santuários, como o Parque Nacional da Tijuca, sejam sempre cuidados para que nunca desapareçam.
O primeiro caminho oficial da Transcarioca
((o))eco Palmilhando: “Parabéns prá você”
O retorno dos caminhos coloniais
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