Quem vê as imponentes árvores na Floresta da Tijuca, enquanto faz trilhas pelo Parque, pode não imaginar que 151 anos atrás a floresta era dominada por monoculturas, que capinavam abaixo todas as árvores para abrir espaço para plantações de cana e café, principalmente. O verde que hoje é tão comum no Parque Nacional da Tijuca é fruto de uma iniciativa pioneira de reflorestamento, por Dom Pedro II, em 1861.
Engenhos, sítios e fazendas preenchiam as enconstas arborizadas dos morros da Floresta da Tijuca. Os inúmeros rios e fontes d’água eram providenciais para irrigar as plantações. Eram terras muito valorizadas e que interessou até gente do outro lado do mundo: chineses vieram plantar chá, numa iniciativa malsucedida que não durou muito. O que foi um sucesso foi um pequeno fruto vermelho, introduzido no Brasil no século XVIII, o café.
A Floresta foi o ambiente perfeito para recepcionar essa plantação no Rio de Janeiro. Pois a cultura de café precisava de solos que não fossem secos nem úmidos em excesso, e de temperaturas mais amenas. Os cafezais subiram o Maciço da Tijuca e as árvores vieram à baixo. A marcha do café consumia à exaustão as terras até empobrecê-las totalmente e então desmatava novas áreas de mata para recomeçar o plantio. Não havia consciência ecológica, porém como causa direta do desmatamento contínuo, houve uma crise no abastecimento de água que deixou a cidade do Rio de Janeiro na seca em 1843.
A falta d’água foi associada à derrubada das árvores e Dom Pedro II baixou um decreto para tentar contornar a situação. Estava ordenado o plantio de novas mudas a partir das margens das nascentes dos rios e a preservação das já existentes na Floresta da Tijuca. Vale mencionar que seu avô, Dom João VI já havia tido uma iniciativa de conservação da natureza, com um decreto que protegia as bacias do Rio Carioca. A preocupação com o abastecimento de água da cidade, que crescia e consumia cada vez mais, foi o que motivou uma consciência de necessidade de conservação da floresta.
O processo de reflorestamento foi comandado pelo Major Manuel Gomes Archer, nome que hoje está eternizado no Morro do Archer, uma homenagem a esse grande personagem na história da Floresta. Há quem diga que apenas ele com a ajuda de seis escravos fizeram todo o trabalho de plantação de mudas, mas é mais provável que essa tenha sido apenas sua equipe inicial, pois 22 trabalhadores assalariados foram contratados para auxiliá-lo. A desapropriação de terras e o replantio de mudas nativas da Mata Atlântica durou 13 anos nas mãos do Archer, período em que cerca de 100 mil mudas – não há um número preciso – foram plantadas.
A tarefa depois foi assumida pelo Barão d’Escragnolle, segundo administrador da Floresta e pouco lembrado na história do reflorestamento da Floresta da Tijuca, em 1874. Além de seguir com o plantio de mudas até 1888, ele se preocupou em transformá-la em área de lazer, como o Lago das Fadas, que concebeu ao lado do paisagista francês Augusto Glaziou.
A partir desses 27 anos de trabalho de preservação iniciado pelo homem, o bastão foi passado para a própria natureza assumiu a missão de se regenerar e consolidar a recuperação da floresta que quase perdeu seu status de Floresta, com F maiúsculo. Hoje uma mistura de áreas replantadas e de outras recuperadas naturalmente, cada árvore tem uma história para contar. Ou melhor, o homem é que pode contar com esse espaço preservado de beleza sacra onde a natureza ensinou, talvez pela primeira vez aos cariocas, a importância da sua conservação.
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