Reportagens

Porque é possível fazer mais pelas energias alternativas

Greenpeace e WWF defendem mais investimento em energias alternativas e um plano de transição para a chamada revolução energética.

Fabíola Ortiz ·
12 de março de 2013 · 12 anos atrás
Ricardo Baitelo. Crédito: André Pinnola/Funbio
Ricardo Baitelo. Crédito: André Pinnola/Funbio

Segundo ele, “se a gente analisar o quanto as empresas investem em alternativas descobre que é comparativamente pouco em relação ao que destinam à exploração de petróleo. Esta é uma forma de dar uma cara mais sustentável, embora há empresas que já atentem para a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa”.

De acordo com o Greenpeace, cerca de 80% da oferta de energia primária hoje no mundo advém de combustíveis fósseis e 7% de energia nuclear. O restante, a fatia das fontes de energia renováveis, representa 13% da produção mundial de energia primária. Em geração de energia elétrica, a parcela das renováveis sobe para 18%.

Para Baitelo, é possível investir em energias alternativas para suprir a demanda energética. “Na chamada revolução energética é possível fazer uma transição, não é da noite para o dia e não é uma resposta simples. É múltipla e precisa de um plano de transição”, disse ao defender as fontes eólica e solar.

Criação de empregos no setor de alternativas

Baitelo destaca que a solar é a fonte que mais cresce hoje no Brasil, cerca de 50% ao ano. O histórico mostra que a escala reduz os seus custos. À medida que o uso da energia solar dobra, é possível reduzir em 20% o seu preço. “Isto significa que o preço da energia solar cai 10% ao ano e, em 10 anos, poderemos ter uma energia solar acessível”, diz.

Países como Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Japão já investem há um bom tempo na solar, mas é no Brasil e no continente africano que ainda existe um grande potencial para essa tecnologia. “No Brasil, a solar tem um grande potencial. Em segundo lugar está a eólica e, em seguida, a biomassa a partir de resíduos agrícolas, industriais e florestais. Existe ainda uma fonte pouco falada, a energia oceânica”, diz Baitelo.

Segundo ele, pela grande extensão da costa brasileira, o país pode aproveitar o movimento mecânico das ondas do mar e transformá-lo em energia. “Esta ainda é a mais cara de todas, mas já existem pesquisas no Brasil sobre isso. Não podemos apenas confiar na chuva e no vento que são inconstantes para gerar energia. Não basta ser limpa, a fonte tem que ser constante”.

A visão da WWF

No estudo publicado em 2012, “Além de grandes hidrelétricas: políticas para fontes renováveis de energia elétrica no Brasil”, a WWF (World Wildlife Fund) garante que o país tem capacidade para aumentar em, pelo menos, 40% a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis alternativas, sobretudo se investir na geração de energia eólica e biomassa.

No caso da eletricidade gerada a partir do vento, por exemplo, a WWF revela que o Brasil é capaz de produzir 300 milhões de quilowatts por ano (o equivalente a mais de usinas de Itaipu). Atualmente, não produzimos nem a metade, 114 milhões de quilowatts/ano.

Na Biomassa, o potencial de geração de eletricidade é calculado a partir da disponibilidade de bagaço de cana-de-açúcar, principal fonte desta modalidade no país. Existem 440 usinas de cana-de-açúcar em atividade no Brasil, mas a maioria delas produz energia somente para suprir as necessidades energéticas das próprias unidades de processamento do setor sucroalcooleiro. Apenas 100 usinas produzem eletricidade para o sistema elétrico nacional. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA), o potencial de geração de eletricidade dessa fonte é de 1,5 milhão de quilowatts/ano. Segundo o Instituto Acende Brasil, os canaviais existentes no Brasil poderiam gerar cerca de 14 milhões de quilowatts/ano.

Além da cana-de-açúcar, os resíduos sólidos também têm grande potencial, por meio de energia retirada do biogás. A previsão é que as tecnologias de gaseificação de biomassa tornem-se competitivas apenas em 2020, segundo o Plano Nacional de Energia 2030, elaborado pelo Conselho Nacional de Política Energética. O plano prevê a entrada em operação de sistemas de gaseificação de biomassa no setor sucroalcooleiro que gerarão 5% da energia do país. Já a previsão para 2030 é que essa participação cresça para 13%.

Ainda segundo a WWF, a energia solar pode produzir o dobro da energia que Itaipu usando uma área equivalente ao lago desta usina hidrelétrica. Se o espelho do lago de Itaipu fosse totalmente coberto com painéis fotovoltaicos seria possível produzir 183 milhões de quilowatts/ano contra cerca de 90 milhões que Itaipu produziu em 2011.

Por fim, o balanço econômico está mudando em favor das energias alternativas.É cada vez mais caro produzir energia hidrelétrica no Brasil, pois os melhores pontos para construir usinas já foram usados. Em contrapartida, a medida que a tecnologia avança, o preço das alternativas cai.

  • Fabíola Ortiz

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

Leia também

Notícias
20 de dezembro de 2024

COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas

Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial

Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia

Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.