Ontem, depois da captura do cachorro-do-mato, seguimos para a área apelidada de Serengeti. Qual foi a surpresa de Fred quando viu ‘quem’ tinha cedido à tentação das iscas na armadilha? A raposa ‘Flávia’, capturada no ano passado e já com rádio-colar. Não poderia ter sido melhor tal coincidência, já que a recaptura dos animais para troca dos antigos radiocolares é uma das intenções desta campanha. Além disso, ao longo dos últimos seis meses, a equipe permanente de campo do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado (PCMC) observou que Flavia vem cuidando de 2 filhotes, e se ao longo destes dias eles forem capturados, será possível acompanhar o processo de dispersão de indivíduos de uma mesma família.
A “dócil” raposinha, pois Flávia está familiarizada com a armadilha, não deu trabalho e conseguimos retornar para base ainda no inicio da tarde, quando a equipe ‘Vet’ deu inicio aos trabalhos no laboratório.
Amanhece…
O dia está novamente enevoado, imerso num vento frio que, creio, está prenunciando um inverno gelado. Aliás, o tempo tem estado estranho nos últimos tempos, com árvores florindo fora de época, chuvas repentinas e assim vai. Acordamos no mesmo horário e seguimos para Serengeti.
Ontem à noite eu e Fred ficamos durante várias horas procurando pelos filhotes de Flavia. Encontramos um deles saindo da toca em direção a uma das armadilhas. Hoje, assim que chegamos no campo, vimos uma pequena raposa juvenil de olhar assustado. Tal mãe, tal filha! Justamente para não estressá-la demais, o procedimento de anestesia foi bem rápido.
Sem desmerecer os outros mamíferos, a raposinha é certamente a ‘menina dos olhos’ do Fred, que começou a estudá-las em 2003. De lá pra cá, foram cerca de 40 indivíduos capturados, mas ainda assim o desconhecimento geral sobre a espécie ainda é grande. Apesar de ser um carnívoro, seu principal alimento é cupim, e, por isso, seu habitat natural preferido é justamente campos abertos de Cerrado.
Com a perda de espaço deste bioma para os pastos de braquiária, a espécie tem tentado se adaptar a estas novas condições. Pesa em média de 2 a 4 kg e, da mesma forma que o cachorro-do-mato, consta na lista de espécies brasileiras ameaçadas na categoria ‘menor preocupação’. Mas considerando que se trata de um dos 7 carnívoros menos estudados do mundo, e a altíssima taxa de mortes principalmente por atropelamento e perda de habitat, Fred sugere com insistência que a espécie adquira o papel de ‘vulnerável’. Obviamente isto não é nada bom para a espécie em si, mas levanta uma bandeira para que seja olhada com mais cuidado pelos órgãos governamentais e instituições financiadoras de projetos de conservação.
O trabalho da equipe é rápida; a raposinha é nitidamente mais frágil do que o cachorro-do-mato e, portanto, atenção redobrada! Hoje se uniu ao grupo mais um veterinário da Fiocruz, André Roque. Com esta frente de profissionais, o Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado quer capturar e colocar rádio-colar no maior número de raposinhas possível. Elas serão intensamente monitoradas.
Desta forma, conseguem compilar informações suficientes sobre ecologia, comportamento, dados epidemiológicos e de saúde, cuidado parental, dispersão, reprodução, etc. Findado o trabalho de biometria e veterinária, vou aguardar a recuperação da raposinha, batizada como “Miss Root”, em homenagem à famosa produtora de documentários na África, Joane Root.
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Dia 1 – No rastro dos mamíferos que sobrevivem no Cerrado
Dia 2 – Começa a rotina das capturas e medições
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Bom dia! Sou Policial Militar Ambiental.. Recolhemis uma raposinha ferida na Qi 7 do Lago Sul, no DF.