Reportagens

Um olhar para o futuro dos mamíferos do Cerrado

A situação dos animais que sobrevivem nessa área já tomada pelo homem é frágil. Mas eles conseguem, e por eles não podemos desistir.

Adriano Gambarini ·
29 de abril de 2013 · 12 anos atrás
Uma raposinha solta por Fred. Fotos: Adriano Gambarini
Uma raposinha solta por Fred. Fotos: Adriano Gambarini

Hoje finda minha participação por aqui; pegarei a estrada para percorrer 1.100 quilômetros de retorno. Levo a certeza de que nos próximos 40 dias a equipe de campo do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado avançará no seu trabalho e percorrerá, entre idas e vindas aos campos da região do Limoeiro, uma distância talvez maior do que a distância que trilharei para casa. Seus membros continuarão buscando as respostas de como conservar o que ainda resta dos carnívoros viventes nesta região.

Até o presente momento, foram capturadas 6 raposas, sendo uma nova (Miss Root, filha de Flávia) e 5 recapturadas com troca de rádio-colar. Para os cachorros-do-mato, foram 7 novas capturas e 2 deles tiveram rádio-colar instalados. Um dos 2 lobos ainda resistentes aos problemas criados pela pressão humana, descrita no último artigo, foi também recapturado.

Não é de hoje que falo: o que me motiva a documentar pesquisas de campo e a crença dos pesquisadores no seu trabalho. O Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado tem como alicerce pessoas que carregam uma das virtudes que mais admiro: ideologia. Fred e Fernanda tem isto de sobra, assim como outros pesquisadores com quem tenho a honra de trabalhar e ser parceiro.

Só é possível entrar de cabeça em empreitadas como esta, se a ideologia for a base de todas as atitudes.

E se todas as perdas da biodiversidade para o ‘mundo incoerente dos homens’ não tiverem mais jeito, temos que resistir. Temos que usar nossa máquina intelectual para criar estratégias de transformação.

A recriação, reconstrução, renascimento é possível. Basta acreditar e fazer com que os outros também acreditem. Não é fácil, eu sei.

Mas a vida da raposinha Flávia com seus filhotes também não deve ser nada simples. Eles sobrevivem escapando da agressividade dos cachorros domésticos e vivendo numa toca embaixo de um campo de braquiária onde dezenas de nelores caminham pesadamente. As raposinhas estão lá, lutando pela sobrevivência. E conseguindo.

 

 

  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

Leia também

Salada Verde
21 de março de 2025

Parque Nacional do Itatiaia inaugura primeira cachoeira acessível do RJ

Atrativo recém-inaugurado conta com trilha adaptada, corrimãos e plataforma de madeira que dá acesso direto ao poço da Cachoeira Camapuã, na parte baixa do parque

Notícias
21 de março de 2025

STF põe fim definitivo na presunção de boa-fé no comércio de ouro

Julgamento em plenária virtual deve acabar nesta sexta-feira (21) e já tem maioria de votos para decisão que aperta o cerco sobre comercialização de ouro proveniente de garimpos ilegais

Reportagens
21 de março de 2025

Áreas marinhas de proteção integral do Brasil estão contaminadas por microplásticos

Pesquisadores usaram ostras e mexilhões para avaliar a ocorrência desses poluentes. Resultados indicam que mesmo os locais mais restritivos à presença humana apresentam contaminação relevante

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.