Não importa que língua você fale, de que país você venha ou a sua idade, existem nações que vão além de limites territoriais. Assim é com os amantes das bicicletas. A cidade de Vancouver, na costa oeste do Canadá, é um exemplo de onde esses apaixonados das mais diversas origens podem se sentir em casa. Toda a região da Grande Vancouver, que inclui as cidades vizinhas de Burnaby, North Vancouver, West Vancouver e Richmond, é conectada por vias dedicadas às bikes, e soma um total de 527 quilômetros de ciclovias.
Na província da Colúmbia Britânica, onde está Vancouver, as bicicletas são reconhecidas como meio de transporte oficial e tem regulamentação própria. O uso de capacete, por exemplo, é obrigatório, e quem descumprir a lei está sujeito a uma multa de cem dólares. Pedalar na calçada também é proibido. Como todo lugar do mundo, Vancouver também tem seus barbeiros sobre duas rodas, mas o número cada vez maior de ciclovias espalhadas pela cidade – a malha cicloviária está em constante extensão – inibe os motoristas de final de semana. Entre faixas exclusivas e compartilhadas, carros, bicicletas e pedestres coexistem em quase perfeita harmonia na cidade, uma utopia para a maioria dos ciclistas brasileiros.
Por maiores que sejam os esforços, obviamente não é uma realidade perfeita. Em maio desse ano, uma idosa que pedalava ladeando a estrada que liga a cidade de Vancouver à North Vancouver esbarrou com pedestres e caiu na via, onde foi atropelada por um ônibus. O acidente fatal chamou a atenção da cidade para a necessidade em conscientizar os pedestres tanto como os motoristas, pois estes também são responsáveis pela segurança do tráfego. O caminho é problemático porque obriga pedestres e ciclistas a dividirem o mesmo espaço, mas já estão sendo pensadas melhorias como erguer barreiras ou mesmo uma pista exclusiva para as bicicletas. Essa ação rápida para evitar problemas futuros é o que falta em cidades como São Paulo, onde só no ano de 2012, 52 ciclistas morreram. É preciso aprender lições com os irmãos do norte.
Numa rápida comparação com o Rio de Janeiro, cidade com maior malha de ciclovias do Brasil (160 km), e uma área territorial quase oito vezes maior que a de Vancouver, fica clara a diferença: apesar do tamanho, a cidade canadense tem mais que o triplo em quilômetros de ciclovias, com cerca de 527 quilômetros de extensão. O contraste evidencia o investimento da prefeitura de Vancouver, comprometida em se tornar a cidade mais verde do mundo em 2020. No plano de metas para alcançar esse posto, está fazer com que mais de 50% das viagens sejam feitas a pé, de bicicleta ou com transporte público. Esse último, por sinal, se integra a vida do ciclista. Além da possibilidade de levar sua bicicleta nos vagões do trem, a maioria dos ônibus que circulam contam com um mini bicicletário na frente (máximo de duas bicicletas), uma ideia simples e eficiente.
O governo investe nas ciclovias, nos bicicletários e na educação no trânsito; e em troca, a cidade ganha em qualidade de vida. Além de desafogar o trânsito, trocar o dirigir pelo pedalar é uma escolha ecológica que não gera emissão de carbono, diminui a poluição sonora e da água, e permite maior mobilidade. Com o número cada vez maior de bicicletas nas ruas, ambos a rede de transporte e o planeta, respiram aliviados. Em Vancouver, engarrafamentos são raríssimos e só acontecem em caso de acidentes ou obras, mesmo assim, nada comparado às filas homéricas de carros engarrafados na Marginal Pinheiros, em São Paulo. Hora do rush é sinônimo de bicicletas enfileiradas à espera do sinal verde para cruzar a rua. E graças a elas, o verde é cada vez mais verde.
*editado, 09/07 – às 13h45
Cidades para pessoas são feitas de “homens lentos”
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São Félix do Araguaia, uma cidade para pessoas
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em uma viagem como essa eu preferia andar de pé também e de bike claro, curtir mais a paisagem.