Reportagens

Corredor Llanganates-Sangay harmoniza proteção e produção

Área que liga dois parques nacionais conhecidos pela biodiversidade precisa integrar população local para ser restaurada com sucesso.

Gabriela Arévalo ·
7 de janeiro de 2014 · 11 anos atrás

O Parque Nacional Sangay fica na região andina equatoriana, nas partes altas e nas ladeiras da Cordilheira Oriental, nas províncias de Tungurahua, Chimborazo, Cañar e Morona Santiago. O clima e a diversidade deste parque vão desde clima cálido úmido da Amazônia até as frias e gélidas neves da parte andina dos vulcões Sangay, Tungurahua e Altar. Crédito: WWF
O Parque Nacional Sangay fica na região andina equatoriana, nas partes altas e nas ladeiras da Cordilheira Oriental, nas províncias de Tungurahua, Chimborazo, Cañar e Morona Santiago. O clima e a diversidade deste parque vão desde clima cálido úmido da Amazônia até as frias e gélidas neves da parte andina dos vulcões Sangay, Tungurahua e Altar. Crédito: WWF

Na Cordilheira Real, nos andes equatorianos, está uma superfície de 42 mil hectares que conecta o Parque Nacional Llanganates ao Parque Nacional Sangay, ambos considerados hotspots de biodiversidade. A alta concentração de espécies na região e a importância de manter a conexão entre os dois parques, em 2001, levou a criação do corredor ecológico chamado Llanganates-Sangay, o primeiro com reconhecimento do governo.

O Corredor Ecológico Llanganates-Sangay começa nos frios páramos (ecossistema andino, entre 2.800 e 4.000 metros de altitude,composto de arbusto e gramíneas), a 3.852 metros de altitude, se estende por vastas montanhas coloridas em cor de café e amarelo, e continua descendo por uma paisagem misturada de lagoas, páramos e rios, até os 958 metros. Desde o começo tudo é água. Estreitos caminhos de pedra e terra permitem adentrar essa região de montanhas, pântanos andinos e belas paisagens.

A 1.200 metros de altitude surge a beleza de lagoas escondidas na neblina e a paisagem verdeja. Seguindo as águas do rio Ana Tenório, no Parque Llanganates, os páramos se convertem em florestas com árvores de até 8 metros.

Os Parque Llanganates (219 mil hectares) e o Parque Sangay (502 mil há) não são contíguos, mas conectados por remanescentes de bosques.

A degradação da vegetação nativa e, portanto, a perda de fauna em regiões como esta, costuma ser causada pela intervenção do homem. Em áreas próximas a lugares com alta biodiversidade é comum encontrar fragmentos de floresta primária entre pastagens, áreas cultivadas, assentamentos humanos e infraestrutura como estradas e hidrelétricas.

Dificuldades legais

Mapa de 1999, da cobertura vegetal do corredor Llanganates-Sangay.De acordo com ele, 30 mil hectares correspondem à vegetação natural e 5.745 hectares são usados para plantações, pastagens e habitação. Cortesia: WWF. | Clique para ampliar
Mapa de 1999, da cobertura vegetal do corredor Llanganates-Sangay.De acordo com ele, 30 mil hectares correspondem à vegetação natural e 5.745 hectares são usados para plantações, pastagens e habitação. Cortesia: WWF. | Clique para ampliar

A Lei para a Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade reconhece os corredores biológicos como áreas de manejo especial. Porém, a lei florestal vigente no Equador não reconhece a figura de corredor e, por isso, não pode haver restrições ao uso da área.

“A gestão dos corredores está relacionada com acordos sociais e é essencial que o planejamento desta conectividade seja levado aos planos de ordenamento territorial, diz Veronica Quitigüiña, técnica do Ministério do Ambiente. “Só então, poderemos dizer que o corredor é sustentável ao longo do tempo”. Isso implica, continua Quitigüiña, na manutenção de áreas protegidas, a recuperação de áreas degradadas e a redução da pressão humana através de iniciativas produtivas que sejam sustentáveis.

O Corredor Ecológico Llanganates-Sangay é área protegida municipal e, por isso, o compromisso das partes locais é indispensável, já que elas são responsáveis pelo manejo. No caso, a gestão é responsabilidade dos municípios de Banhos, Mera e Palora, em coordenação com o Ministério do Ambiente.

Este corredor protege a biodiversidade e as fontes de água que lá existem. A fauna local pode trafegar entre os dois parques nacionais, um fator que ajuda na saúde e sobrevivência dessas populações. Além disso, abriga uma paisagem natural única que fomenta o turismo e gera renda aos habitantes da região.

Dentro dos 42.052 hectares do corredor existe uma variedade de ecossistemas, que vão desde o sopé de montanha até o páramo, passando por florestas nubladas e tropicais. “Essas manchas de floresta permitem a recuperação de áreas degradadas que também são parte do corredor, e a regeneração desta cobertura vegetal contribui para melhorar a conectividade”, diz Jorge Rivas, da World Wildlife Fund (WWF). Desde maio de 2013, a WWF trabalha com o Ministério de Ambiente do Equador (MAE), no programa Sócio Bosque, que dá incentivos econômicos a camponeses e comunidades indígenas que se comprometam a conservar e proteger suas florestas nativas e os páramos.

Restauração de áreas degradadas

O projeto da WWF e do Ministério do Ambiente busca incentivar a recuperação de zonas degradadas dentro do Corredor Ecológico Llanganates-Sangay através de atividades de restauração executadas pelos proprietários de terra, famílias indígenas das etnias kichwa e shuar, e pelos Governos Autônomos Descentralizados (equivalentes a municípios) que têm autonomia política, administrativa e financeira.

A intervenção no corredor propõe dois tipos de restauração florestal. O primeiro tipo é passivo, através da demarcação de zonas para a restauração natural. O segundo é ativo e está ligado ao reflorestamento, quando em viveiros são produzidas espécies nativas e logo plantadas “ao redor de fontes de água se o objetivo é recuperar bacias; em pastagens para formar sistemas silvipastoris (grama sob plantações de árvores, o que gera melhor qualidade de leite e torna a pecuária menos extensiva), ou no meio de plantações para formar sistemas agroflorestais (cultivos que combinam elementos agrícolas e florestais, dando um uso mais eficiente a terra). Tudo depende das necessidades e condições do lugar”, explica Rafael Yunda, coordenador do projeto.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

Este tipo de ações gerará adaptações dos sistemas naturais e humanos na área de maneira a prestar serviços ambientais e a gerar renda para os agricultores, afirma Yunda.

O objetivo ao final do projeto, dentro de 18 meses, é trabalhar pelo menos com 60 agricultores e cultivar 22 mil plantas nativas como o freijó, cedro-cheiroso, ipê-amarelo e bambu. Atualmente, de acordo com Yunda, a WWF assessora as partes interessadas para que definam as áreas de conservação e restauração dentro de suas propriedades e apresentem um plano de ação ao Programa Sócio Bosque.

Em 2012 foi acrescentado o componente de restauração, gerido pela Direção Nacional Florestal, que doa recursos a indivíduos ou grupos interessados em implementar uma restauração ativa dentro do Corredor Ecológico Llanganates-Sangay.

“É boa a ideia de restaurar a região, mas é importante pensar em médio e longo prazo”, diz Xavier Viteri, coordenador do projeto do Corredor Ecológico até 2006. Ele defende que é preciso uma restauração que conviva com o turismo racional e as produções locais, para que o processo gera renda para a população. Uma das propostas é difundir práticas agroecológicas, condizentes com a conservação e proteção dos recursos naturais.

Um corredor de biodiversidade

O Corredor Ecológico Llanganates-Sangay está localizado nas províncias de Tungurahua, Pastaza e Morona Santiago, e é atravessado de Este a Oeste pela estrada Banhos-Puyo. Cortesia: WWF | Clique para ampliar
O Corredor Ecológico Llanganates-Sangay está localizado nas províncias de Tungurahua, Pastaza e Morona Santiago, e é atravessado de Este a Oeste pela estrada Banhos-Puyo. Cortesia: WWF | Clique para ampliar

A criação do Corredor Ecológico Llanganates-Sangay começou no ano 2000 quando o projeto Ecorregiões dos Andes do Norte, da WWF, identificou espaços de alta biodiversidade. Ao analisar-se o mapa de cobertura vegetal do Equador, diz Xavier Viteri, detectou-se um espaço de vegetação entre os parques Llanganates e Sangay que os mantinha unidos, apesar da área ser dividida pela estrada que une as cidades de Banhos e Puyo.

Desde 2001, a Fundação Natura realizou estudos científicos para determinar se esta conexão natural facilitava a mobilidade de espécies ameaçadas, e para definir a localização geográfica, o desenho e o tamanho do corredor. Além disso, foram feitas coletas de campo para investigar a fauna local e entender a riqueza biológica da região, e para identificar quais áreas do corredor tinham semelhanças com os Andes e quais com as terras baixas.

De acordo como os dados de Lou Jost, botânico dedicado a estudar a área por mais de 15 anos, o corredor é habitado por 101 espécies de mamíferos e 242 espécies de aves (cinco delas são de categoria restrita compartilhadas com a Colômbia e Peru, e outras cinco são endêmicas para os Andes Orientais do Equador e do Peru). Também são encontradas 195 espécies de plantas, endêmicas nas margens do rio Pastaza, e 91 orquídeas que não existem em nenhuma outra parte do país, o que revela a riqueza biológica desta área, única por sua localização, geografia e relevo.

Há 13 mil pessoas que habitam a região do corredor Llanganates-Sangay, e o seu desenvolvimento tem ocorrido em harmonia com essa população. A receptividade da comunidade, acredita Viteri, começou com o prêmio “Presente para a Terra” que a WWF concedeu ao Corredor Ecológico Llanganates-Sangay em 2002. O prêmio reconhece o sucesso na conservação de áreas naturais de alta biodiversidade. “Depois do reconhecimento, as pessoas se preocuparam mais por manter esses espaços naturais”, diz Viteri.

 

Leia Também
Especial Andes Água Amazônia
Documentário Andes Água Amazônia

 

 

 

Leia também

Notícias
9 de dezembro de 2024

Diretor-presidente do Ipaam é afastado após envolvimento em suposto esquema de fraude ambiental no Amazonas

Além de Juliano Valente, outros membros da diretoria do órgão foram presos preventivamente pelos crimes contra o Meio Ambiente, Patrimônio Genética contra a Flora

Reportagens
9 de dezembro de 2024

Trabalho análogo à escravidão na pecuária do Pará chega a 31% nos últimos dois anos, revela pesquisa

Prevalência de trabalho forçado e tráfico de mão de obra identificada em todos os principais indicadores por estudo que ouviu 1.241 trabalhadores em Marabá, Ulianópolis e Itupiranga

Notícias
9 de dezembro de 2024

Agronegócio alega infração econômica e pede que Cade investigue Moratória da Soja

Senador bolsonarista autor da proposta alega que moratória fere direito à livre iniciativa e prejudica produtores. Políticos fortalecem ataque a normas protetivas

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.