Reportagens

32 alimentos do Brasil dependem essencialmente de polinizadores

No total, são 69 plantas com algum nível de dependência dos polinizadores. Os dados constam no primeiro relatório sobre o tema do Brasil

Fernanda Wenzel ·
6 de fevereiro de 2019 · 6 anos atrás
A produção de maças é altamente dependente de polinizadores. Foto: Pixabay.

O 1º Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimento no Brasil, lançado nesta quarta-feira (6) em São Paulo, mostra o quanto a agricultura brasileira é dependente dos polinizadores, sejam eles insetos, morcegos ou aves. O relatório foi elaborado por 12 especialistas, em uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP).

Os pesquisadores avaliaram um total de 289 plantas cultivadas e silvestres, utilizadas direta ou indiretamente na produção de alimentos. Em 91 delas foi possível avaliar o nível de dependência da polinização, de acordo com a seguinte classificação:

  1. Essencial: incremento de 90% a 100% na produção com a ação de polinizadores
  2. Alta: incremento de 40% a 90% na produção com a ação de polinizadores
  3. Modesta: incremento de 10% a 40% na produção com a ação de polinizadores
  4. Pouca: incremento de 0% a 10% na produção com a ação de polinizadores

Destes 91 cultivos, 69 têm algum grau de dependência da polinização para se reproduzirem. 32 (35% do total) têm a polinização como essencial (acerola, castanha-do-brasil, maçã, maracujá, melancia, melão, tangerina, etc), 22 (24%) têm alta dependência (entre elas abacate, ameixa, cebola e goiaba), 9 (10%) têm dependência modesta (entre eles a soja) e 6 (7%) estão na faixa de pouca dependência (como feijão, tomate e uva).

BPBES/REPPIB Sumário para Tomadores de Decisão do Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil.

A bióloga Marina Wolowski, que é professora da Universidade Federal de Alfenas (MG) e integrante da REBIPP, foi uma das coordenadoras da pesquisa. Ela explica que o nível de dependência da polinização depende das características morfológicas das plantas. Plantas com baixa dependência têm um tipo de pólen e uma estrutura de flor que permitem que o pólen seja levado pelo vento.

“Em outras flores, que dependem dos polinizadores, você tem estruturas mais complexas. O pólen acaba tendo uma umidade maior, o grão fica aderido à antera, então somente o contato com o polinizador para transferir de uma planta à outra”, explica Wolowski. As abelhas são as principais polinizadoras, responsáveis pela polinização de 78,9% dos cultivos.

BPBES/REPPIB Sumário para Tomadores de Decisão do Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil.

Polinizadores prestam serviço de R$ 43 bilhões

Com base nos níveis de dependência e nos preços dos produtos os pesquisadores concluíram que o valor do serviço ecossistêmico prestado pelos polinizadores em 2018 foi de R$ 43 bilhões. Segundo Wolowski, na realidade a cifra deve ser ainda maior, já que só havia dados disponíveis para fazer o cálculo para 67 das 289 plantas analisadas.

Chama atenção que apenas quatro cultivos respondem por 80% deste valor: a maçã ‒ que tem nível de dependência essencial – a soja, o café e a laranja. Segundo Wolowski, os três últimos são menos dependentes de polinizadores, mas acabam pesando nesta conta pelo espaço que ocupam na pauta da agricultura brasileira.

A bióloga ressalta que mesmo produtos menos dependentes têm ganhos de produtividade de até 30% com polinizadores. O aumento da qualidade também se traduz em maiores lucros: “Permite, por exemplo, colher um fruto de peso maior e mais doce. Quando você vê aquele morango perfeitinho, de prateleira de mercado, quer dizer que ele foi todo polinizado. Quando tem aquele morango meio tortinho quer dizer que ele não foi totalmente polinizado”, explica Wolowski.

Agrotóxicos ameaçam polinização

Segundo Wolowski, existem poucos dados sobre o possível declínio da população de polinizadores no Brasil. O relatório, no entanto, lista as principais ameaças: perda de habitat, mudanças climáticas, doenças e outros patógenos, espécies invasoras e agrotóxicos.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, os pesticidas são os principais suspeitos de estarem causando mortes de abelhas e quedas consecutivas na produção de mel. Na virada do ano pelo menos 108 colmeias morreram em São José das Missões, no norte gaúcho. Segundo o Grupo de Polícia Ambiental de Frederico Westphalen, os insetos começaram a morrer depois que um produtor da região aplicou o produto Mustang 350 CE em uma lavoura de soja.

 

Saiba Mais

1º Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimento no Brasil – BPBES/REBIPP.

Leia Também 

A dupla face do agronegócio para os polinizadores

Em tempo de declínio de abelhas, alugar colmeia virou negócio

Referência no exterior, Brasil não faz dever de casa na área ambiental

 

  • Fernanda Wenzel

    Fernanda Wenzel é jornalista freelancer especializada em Amazônia e meio ambiente.

Leia também

Reportagens
11 de novembro de 2018

Referência no exterior, Brasil não faz dever de casa na área ambiental

Protagonismo do país nos acordos internacionais não se reflete nas políticas ambientais internas, mostra relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos

Notícias
29 de junho de 2015

Em tempo de declínio de abelhas, alugar colmeia virou negócio

Produtores rurais alugam abelhas para garantir produção de frutas. Pagam por colméia e o preço varia de acordo com a região do país.

Notícias
11 de agosto de 2016

A dupla face do agronegócio para os polinizadores

Controle da agricultura por grandes corporações internacionais é apontado como ameaça a sobrevivência de polinizadores em escala global, mas elas podem ajudar a preservar esses agentes.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 5

  1. LENI RICHETTI diz:

    Aguém desses estudos todos, dessa agenda 2030 é agricultor? Já plantaram a própria comida? Ou já criam ou cuidaram de algum animal para ter proteína? Quero ver todos esses que só reclamam que a agropecuaria ou o cultivo de alimentos prejudica o meio ambiente , quando estiver com fome se alimentar de luz.


    1. Abide diz:

      E alguém falou que a agricultura deve acabar e ser extinta?!? O que está sendo levado em consideração é a FORMA CONSCIENTE de plantio, manutenção e colheita. Outro ponto, frutos que se desenvolvem com ajuda de insetos de forma natural, tem a se desenvolverem bem mais. Eu tenho em casa pés de coentro, salsinha, manjericão, tomilho e etc, são muito maiores que os de sacolão.Mais um ponto, por você estar falando assim deve ser algum agropecuarista que só quer saber de lucro a curto e médio prazo, a longo prazo foda-se o número e às plantas.


  2. antonio diz:

    eu gostei muito sobre que eles falam


  3. Solange diz:

    Todos os nossos alimentos dependem, direta ou indiretamente dos polinizadores. Mesmo as plantas que sao polinizadas por vento ou agua precisam do ecossistema para germinarem,. Sem os insetos polinizadores nao vai sobrar muita coisa no planeta. Nem a polinizacao manual ou mecanica vai adiantar.


  4. Laercio RPPN diz:

    Pena…., que ainda não conseguiram transformar isso numa realidade. Talvez quando não existirem mais abelhas, quem faz criação desses insetos/animais seja procurado e alugue por um preço ABSURDO para os RURALISTAS. #abelhadeALUGUEL!!!