Reportagens

Lição de baleia

Rio ganha núcleo do Projeto Baleia Franca ao fim de um vôo de helicóptero que durante 4 dias monitorou a presença dessa espécie de mamífero na costa brasileira

Manoel Francisco Brito ·
15 de setembro de 2004 · 20 anos atrás

Fotos: Ricardo Gomes


O aumento da frequência de francas no litoral fluminense encorajou Lodi e Ricardo Gomes, também biólogo de formação mas fotógrafo de profissão, a procurarem José Truda, fundador do
Projeto Baleia Franca, dedicado à preservação da espécie no litoral brasileiro. Propuseram a ele criar um núcleo para cuidar das francas que andam visitando a costa fluminense. Truda topou e na sexta-feira, dia 17 de setembro, no Rio de Janeiro, inaugura-se a primeira operação do Projeto fora de Santa Catarina, onde foi fundado em 1985. A expansão da sua área de atuação não será a única novidade do dia.


A razão para se estender o monitoramento aéreo das baleias é o mesmo que motivou a criação do núcleo fluminense do Projeto. “O número de francas na nossa costa está aumentando a cada ano e elas estão chegando até a região sudeste”, comemora Gomes. A estimativa de Groch é que o crescimento da sua população está se dando a uma média de 14% ao ano. Antes do início da caça, em 1600, sua presença por aqui estendia-se do Chuí até a Bahia. Há 30 anos, as francas tinham sido praticamente varridas do litoral brasileiro. Começaram a reaparecer em Santa Catarina nos anos 80, cujo litoral sempre foi a sua área de maior concentração no Brasil.


Um foi bárbaro. Em janeiro, um baleote veio brincar próximo da areia da praia de Itaúna, em Saquarema. Quando a maré subiu, ele retornou ao mar. Voltou no dia seguinte ao mesmo local. Avistado, foi trucidado a facadas por banhistas, que retalharam sua carne, imediatamente cozinhada em churrasqueiras improvisadas na areia. Os outros foram frutos de ótimas intenções, mas provocadas pela total falta de informação sobre o comportamento das francas. Serviram apenas para espantá-las mar adentro.

Essa espécie de baleia, ao contrário de outras, gosta de chegar até a arrebentação. “Faz parte de seu comportamento natural”, explica Groch. “Mas como a maioria das pessoas não sabe disso, tentam, a nado ou de barco, empurrá-las para longe da praia”, conta Lodi. Essa foi a principal característica do molestamento de baleias francas no litoral fluminense. Por essa razão, a primeira fase dos trabalhos do núcleo do Rio de Janeiro será a de divulgar informações à população sobre as francas.

“Vamos começar um programa de educação dirigido primeiramente às pessoas que têm mais chance de esbarrar em uma baleia no mar ou de serem chamadas a ajudar em caso de problema”, explica Ricardo Gomes, que será o coordenador do núcleo, que já tem 500 cartilhas prontas. Elas serão distribuídas para o grupamento marítimo do Corpo de Bombeiros no Rio, a Capitania dos Portos e nos principais Iate Clubes e Marinas do litoral do estado. Liliane Lodi estará à disposição dos interessados para dar palestras sobre as francas. “Existe uma clara necessidade de se fazer uma campanha de educação ambiental sobre as baleias no Rio, porque é uma costa densamente habitada”, afirma Truda. “Quando baleia aparece no Rio em geral é um frenesi. As pessoas precisam aprender a manter distância para que possam aproveitar o espetáculo”.

A segunda missão do novo núcleo do Projeto Baleia Franca será a de replicar pela costa da região Sudeste a rede de monitoramento de baleias franca que o Projeto instalou em Santa Catarina e nas praias do norte do Rio Grande do Sul. “Mas isso ainda vai demorar. A meta agora é educar”, diz Gomes, admitindo sua esperança de que a divulgação de informações sobre as francas ajude também a fazer com que o freqüentador das praias fluminenses cuide melhor de sua orla marítima. “O reaparecimento das baleias aumenta também a nossa responsabilidade em relação à preservação da nossa costa”, diz. “Se ela se deteriorar, as francas vão procurar outro lugar para nadar”.

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