Fotos: Carla Rodrigues
Recém-batizada de Rota 22, a estrada que liga Araras, distrito de Petrópolis (RJ) ao Vale das Videiras (foto) é uma serra de 10 quilômetros de asfalto ruim e visual deslumbrante. Para atravessá-la, não é preciso ter um jipe off-road 4×4, só um pouco de paciência: são 30 minutos de curvas acentuadas e ladeiras de inclinação idem. Se o objetivo for apenas chegar até o vale, a viagem pode ser curta. Mas se a intenção for conhecer as atrações turísticas que a propaganda promete, é preciso começar cedo. As paradas são muitas e o destino garante boas surpresas, todas na linha do eco-turismo-rural chique: artesanato e cerâmica, alta gastronomia, pousadas caras e um silêncio de fazer inveja a qualquer habitante de grande cidade. O roteiro pode ser mais radical para quem gosta de se aventurar em trilhas, mas a nova onda na região é essa combinação de turismo rural com pinceladas de ecologia e muita sofisticação e conforto. É um tipo de rural que, além de chique, é mais palatável.
O passeio pela Rota 22 começa na BR-040, a privatizada e bem-asfaltada estrada Rio-Juiz de Fora. Na altura da entrada para Araras faltam cerca de 20 quilômetros para chegar ao Vale das Videiras. É verdade que os moradores já fizeram mutirão para tirar lixo do rio que corre paralelo ao asfalto, e é também inevitável constatar o desmatamento provocado, logo na entrada, por uma comunidade carente que, como todas as outras do estado do Rio de Janeiro, não pára de crescer. Mas de qualquer maneira, o roteiro é ecológico: o visitante atravessará de carro uma das grandes APAs da cidade de Petrópolis. Até a chegada no vale, a estrada é pontilhada de opções de restaurantes e compras. Como a cerâmica Oryba (foto), cujas peças são produzidas à mão e pintadas ali, no mesmo ateliê onde são vendidas.
O caminho pode ser curtido a cada curva. Na chegada, o Vale das Videiras vai oferecer como recompensa o desfrute de um lugar preservado do burburinho que já caracteriza a estrada União-Indústria, em Itaipava, mas com oferta de pelo menos um bom restaurante – o Pirilampo –, uma pousada de padrão luxo – a Fazenda das Videiras, que recebe o hóspede num casarão recuperado do século 19 – e uma criativa loja de decoração, a Berrante. Do centro do vale partem caminhadas e trilhas que podem ser combinadas com os guias da região. Como, por exemplo, sair do Vale das Videiras e percorrer o Caminho do Imperador. Há quem se disponha a subir e descer a pé, e sobre rodas não é trajeto a ser cumprido por carro de passeio. Um jipe reforçado ajuda a encarar as três horas de estrada irregular que desemboca no Rocio, onde um trutário pode matar a fome de quem já fez tanto esforço.
A Rota 22 é um dos quatro roteiros turísticos de Petrópolis que oferece essa mistura. Os outros são a estrada do Taquaril, que liga Petrópolis a Teresópolis, o circuito Serra-Vale, que percorre o Vale do Cuiabá a partir de Itaipava, e onde o turista encontra uma seqüência de boas pousadas (Tambo de los Incas e Tankamana, essa última com trutário aberto a não-hóspedes), e o Caminho do Brejal. Muito semelhante a Rota 22, o o Caminho do Brejal também combina características rústicas com visitas a produtores artesanais e a uma fazenda produtora de hortaliças orgânicas. No roteiro que sai da Posse, também distrito de Petrópolis, e vai até o Brejal, existe o asfalto, acessível ao eco-turista chique, e há a opção fora de estrada.
Para a alternativa off-road, a concessionária Land Rover de Itaipava oferece, no próximo dia 25, um curso básico de direção para quem quiser tirar seu 4×4 da cidade. Os proprietários de Land Rover que tiverem comprado o carro na Landscape têm direito ao curso gratuitamente. Para o público em geral, o pré-requisito é ter um Land Rover, mesmo que não tenha sido adquirido na loja. A primeira parte do curso, teórica, ensina como lidar com situações difíceis como travessia de rios e solo instável (vulgo lama). Depois da breve introdução, o motorista está apto a percorrer o Caminho do Brejal acompanhado dos guias que ajudam em qualquer emergência. Depois do batismo, o motorista estará apto a se inscrever nas trilhas que a loja promove mensalmente. A próxima, em outubro, será uma viagem ao Parque da Bocaina (Sul Fluminense), e a expectativa é que em 2005 os adeptos do off-road venham a percorrer a cordilheira dos Andes de jipe.
Tudo para iniciantes
Ajudar iniciantes é a especialidade do guia turístico Luiz Antônio de Souza (foto), 46 anos, proprietário da pousada Cabanas do Açu, com privilegiada localização: abaixo de uma das entradas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. “O cliente iniciante é a base da programação”, garante ele. No final da estrada do Bonfim, em Corrêas, um dos distritos de Petrópolis mais afetados pela favelização do município, a pousada tem atrações que atendem desde o leigo que está disposto a fazer sua primeira trilha – esses Luiz Antônio batiza numa caminhada de apenas um quilômetro que começa a 30 metros da pousada e dura meia-hora – até uma viagem de três dias a pé. É a viagem Petrópolis-Teresópolis, que atravessa o parque e passa pelas montanhas mais altas da região (Pedra do Açu, 2.246 metros e Pedra do Sino, 2.263 metros). Para esses aventureiros, a pousada oferece toda a infra-estrutura: material para acampamento, transporte na volta (são três dias só de ida), alimentação e, luxo máximo, carregadores para todo este equipamento. Grupos a partir de quatro pessoas podem marcar a viagem na pousada.
Outra aventura para iniciados é a escalada a Pedra Comprida (foto), que o próprio Luiz Antônio, formado pela Embratur em guia de ecoturismo em 1988, quando pouco se ouvia falar disso, considera difícil. “São 28 linhas de subida, nenhuma fácil”, diz. Com o ecoturismo cada vez mais em moda, Luiz Antônio recebe aventureiros de fim de semana dispostos a se iniciar no ramo da aventura. Além das caminhadas leves ou moderadas, a pousada oferece muitas alternativas, todas com seguro Ecotrip, uma modalidade que o HSBC dispõe para praticantes de atividades como arvorismo, rapel, cabo aéreo, canyoing, tirolesa, rafting e o que mais houver a fazer entre rios, árvores e montanhas. Instalada no alto do Bonfim desde 1991, a pousada tem 10 chalés quem acomodam até quatro pessoas. Aos hóspedes oferece, além de contato com a natureza em trilhas de três quilômetros com desnível de 200 metros que desembocam em cachoeiras, pernoite, alimentação completa e uma opção radical pelo ecológico. Nada de compras, gastronomia ou badalação noturna. Menos chique, mais ecológica.
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