Além do brasileiro Laury Cullen Jr, outros 10 homens e mulheres levaram o The Rolex Awards for Enterprise de 2004. É gente que vem dos 4 cantos do mundo – há entre eles uma argentina especializada em fósseis e um japonês que sabe tudo sobre seda – e que passou boa parte de suas vidas descobrindo, preservando, recriando ou inventando coisas que a esmagadora maioria do seres humanos nem imagina existir ou muito menos um dia fazer. Como a suíça Claudia Feh, que há 30 anos estuda manadas de cavalos ‘selvagens’ em vários continentes. Seu grande feito foi criar 12 cavalos Przewalski – originários da Mongólia – na França e reintroduzí-los, em setembro deste ano, em seu habitat natural. Ou a americana Jo Thompson, que desde 1992 se dedica a preservar os macacos bonono no Congo, um país que viveu os últimos anos sob conflitos políticos violentos e enfrentou uma guerra civil. Abaixo, a lista dos vencedores do prêmio e o registro fotográfico de seus projetos, que chegaram à redação de O Eco em um CD. As imagens são lindas. Na verdade, são a principal razão pela qual estamos dando a lista dos outros vencedores do The Rolex Awards. Serviu como desculpa para que fossem publicadas.
Lonnie Dupre, 43 anos, americano
É um inveterado explorador do Ártico. Já fez 6 grandes expedições na região e em 2005 vai fazer a primeira travessia do Oceano Ártico no verão, sem qualquer apoio exterior e utilizando-se apenas de caiaques e esquis. Ao contrário do que possa parecer, a travessia de Dupre, que será feita em companhia de Eric Larsen, não tem nada de banal. O Oceano Ártico já foi atravessado diversas vezes, mas sempre no inverno. As águas geladas facilitam muito a tarefa. No verão, Dupre e Larsen enfrentarão situações bem mais traiçoeiras, provocadas pelo derretimento do gelo. O objetivo da viagem é duplo: querem medir e ao mesmo tempo dar publicidade aos efeitos do aquecimento da Terra sobre a calota polar.
Shekar Dattatri, 41 anos, indiano
É a quem pode se chamar de um cinegrafista de resultados. Usa sua câmera para ajudar na preservação do meio ambiente num dos países mais populosos do mundo, a Índia. Em 2001, produziu um curta de 12 minutos sobre uma mina de ferro que estava sendo explorada bem no meio da selva de Kudremukh, no sul da Índia. A apresentação do filme galvanizou a oposição contra a mineradora e ele serviu para embasar a decisão judicial da Suprema Corte da Índia que ordenou o fechamento de sua operação em Kudremuh no ano que vem.
Kikuo Morimoto, 56 anos, japonês
Está desde o início dos anos 90 no Cambodia, devolvendo ao país uma tradição perdida em trinta anos de guerra: a produção de seda. O conflito dizimou boa parte da geração que hoje deveria ter entre 30 e 60 anos de idade e ela não passou seu conhecimento sobre a confecção do fio e do tecido da seda aos mais jovens. Morimoto se propôs a ser este elo perdido entre gerações e ao mesmo tempo viabilizar uma atividade econômica entre os lavradores cambodianos.
Claudia Feh, 53 anos, suíça
O Takh, como é conhecido na Mongólia o cavalo Przewalski, é a única espécie de cavalo genuinamente selvagem que resta no mundo. Só que cheia de problemas. Apesar de sua ancestria, a maioria dos espécimes da raça já estava há muito domesticada e sua pureza ameaçada por cruzamentos com outros tipos de cavalo. Há 12 anos, Feh – a maior especialista mundial em cavalos livres – reuniu um grupo de 11 exemplares da raça ainda puros de zoológicos europeus e os levou para uma fazenda de 400 hectares no interior da França, com vegetação e terreno semelhantes ao da estepe mongoliana. Cruzou-os e treinou 12 de seus potros a se comportarem como cavalos selvagens. Em setembro, levou-os de volta à Mongólia e os reintroduziu na natureza. Na França, ela agora prepara a 2ª geração de Takhs para o mesmo destino.
Pisit Charnsnoh, 57 anos, tailandês
Em 1985, fundou uma Ong destinada a recuperar o meio ambiente próximo a aldeias de pescadores na costa da Tailândia. No seu trabalho, o ecologista descobriu que o dugong – um primo muito próximo do nosso peixe-boi – estava, como seu similar brasileiro, em franco processo de extinção. Charnsnoh não conseguiu reverter a situação. Mas pelo menos desacelerou seu desaparecimento. De quebra, tem usado habilmente a imagem do mamífero em favor da recuperação e preservação dos ecossistemas no litoral tailandês. Hoje, restam 200 exemplares de dugong nessa região.
Teresa Manera de Bianco, 59 anos, argentina
Paleontóloga e geóloga, ela se dedica desde 1986 a proteger um dos mais importantes sítios arqueológicos da América do Sul, localizado na costa argentina, próximo à cidade de Punta Alta. Conhecida como Pehun Co, é uma plataforma rochosa onde estão pegadas e fósseis de vários animais que habitaram o continente há 12 mil anos. A área está ameaçada pela proximidade com comunidades humanas e a elevação da maré na região. O trabalho de preservação de Bianco é considerado um dos mais difíceis do mundo. O sítio arqueológico está condenado no tempo. Preservar as pegadas fazendo moldes de gesso revelou-se inviável. O material as deixava completamente danificadas. Retirá-las do local também. Sua formação geológica é tão frágil que elas tendem a se desfazer.
Jo Thompson, 47 anos, americana
Enfrentou uma guerra civil e conflitos políticos no Congo, ex-Zaire, para proteger os bononos, macacos que têm atitudes que lembram muito os seres humanos. Andam em pé e usam expressões faciais para se comunicar. Em 1998, comprou 34 quilômetros quadrados de mata virgem no país e criou uma reserva onde vivem hoje 600 bononos. A estação científica que havia no local foi destruída por rebeldes um ano mais tarde e Thompson, uma das mais reconhecidas primatologistas do mundo, foi obrigada a deixar o país. Voltou há dois anos e está se propondo a reconstruí-la, aproveitando a tênue paz que vigora no país.
David Lordkipanidze, 41 anos, georgiano
Desde que achou em 1991 em Dmanisi, na República da Geórgia, os restos de fósseis de um hominídio que viveu há quase dois milhões de anos, tem enfrentado a instabilidade política na República da Georgia, ex-república da antiga União Soviética, para explorar e preservar este sítio arqueológico. Sua descoberta revolucionou o estudo das origens do homem.
Dora Nipp, canadense
Advogada e etnóloga, toca um projeto de história oral da imigração estrangeira para o Canadá. Tem mais de 8 mil horas de entrevistas gravadas com imigrantes. Todo este material vai para o Museu da Imigração, que será criado ano que vem em Toronto.
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