O Brasil entrou na edição comemorativa dos 50 anos do livro dos recordes, o Guinness Book, como o país com o maior índice de desmatamento do planeta. Infelizmente, não será a primeira vez que teremos uma participação desonrosa na sessão de Meio Ambiente da famosa publicação. Desde 2002, quando essa categoria apareceu pela primeira vez, somos campeões nesta prática.
O Guinness Book baseou-se no relatório World in Figures in 2002, publicado pela revista britânica The Economist, para dar o título ao Brasil. O documento diz que o país devastou o equivalente a um estado de Sergipe por ano durante toda a década de 90. Um total de 222.640 km2 de floresta. Na edição de 2002 do Guinness também está escrito que, em um ano, uma área do tamanho da Bélgica foi posta abaixo para dar lugar a pastos e plantações na Amazônia.
Segundo o diretor de florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, “enquanto a nossa fronteira agrícola não estiver consolidada, vai ser difícil controlar o desmatamento”. Atualmente, o índice anual é de 23.750 km2. João Paulo Ribeiro Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, vai mais longe. É a favor que se torne ilegal o fomento da expansão agropecuária em terra florestal. “A saída para o desmatamento é incentivar atividades econômicas compatíveis com a mata, fazer um melhor ordenamento territorial na Amazônia e ter uma fiscalização eficaz”, afirma.
No ano passado, 18 mil km2 de floresta foram derrubados no Mato Grosso. Destes, 13 mil foram destruídos ilegalmente. O Código Florestal brasileiro permite que os proprietários rurais desmatem uma determinada porcentagem de suas terras. No caso da Amazônia, eles são obrigados a preservar 80% da mata, mas é comum esse limite ser desrespeitado. Segundo o advogado André Lima, consultor jurídico do Instituto Sócio-Ambiental, leva em média 3 anos até um fazendeiro ser multado por desmatar mais do que o permitido. “Nesse período ele planta três safras e ganha dinheiro de sobra para pagar a multa. Desmatamento ilegal virou investimento”.
Uma das maiores armas para controlar o desmatamento, principalmente na Amazônia, tem sido o trabalho de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Desde 1988 ele desenvolve o projeto PRODES, que monitora a Floresta Amazônica brasileira via satélite. Anualmente, são divulgadas a taxa anual de desmatamento bruto e a extensão do estrago na região. Ao todo, a região conhecida como Amazônia Legal já perdeu 16% de sua cobertura vegetal original. Agora, o Inpe está testando, a pedido do Governo Federal, um sistema batizado de DETER (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real). O objetivo é conseguir detectar um foco de desmatamento ainda em fase inicial e avisar o Ibama a tempo de impedir o avanço da atividade. “Antes de entrar com as motosserras, os peões derrubam vegetações menores e essa primeira limpa é detectada pelos satélites”, explica Dalton Valeriano, pesquisador do Inpe e coordenador do Programa Amazônia. O DETER deve entrar em operação pra valer no ano que vem, mas alguns dados já estão sendo repassados para o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente.
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