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A hora de agir pelos oceanos é agora, um chamado de Sylvia Earle

“Ainda há tempo, mas não muito”, alerta a oceanógrafa que falou com ((o))eco sobre o declínio da vida marinha, a resiliência do oceano e os motivos para ter esperança

Duda Menegassi ·
5 de novembro de 2025

Com 90 anos completados em agosto, a oceanógrafa Sylvia Earle é uma das vozes mais importantes na defesa da vida marinha. Ainda criança, começou a testemunhar o impacto humano sobre os ambientes costeiros e marinhos no litoral da Flórida, nos Estados Unidos, onde cresceu. Em sua carreira, que começou oficialmente na década de 50, viu em primeira mão o declínio das populações de peixes movido por um mercado cada vez mais insaciável, ao mesmo tempo em que celebrou a recuperação das baleias a partir da década de 90, e participou de expedições pioneiras ao fundo do mar que expandiram a forma como entendemos o oceano. Nunca soubemos tanto sobre a natureza, mas todo esse conhecimento só servirá se agirmos de acordo. E a hora de agir é agora, reforça Sylvia Earle.  

“Agora, pela primeira vez em toda a nossa história, temos a melhor chance. Temos mais conhecimento, temos mais oportunidades. E ainda há tempo. Mas não muito”, resume a oceanógrafa e exploradora em conversa com ((o))eco.

A poucos dias do início da Conferência do Clima (COP30), em Belém, Sylvia reforça a importância do oceano na discussão climática, assim como para nossa própria sobrevivência. 

“O oceano governa o clima planetário, a temperatura, a química, tudo. Ele representa 97% da biosfera. Onde houver água na Terra, é provável que haja vida. Você pode ter água sem vida, mas não pode ter vida sem água, pelo menos a vida como a conhecemos. É um elemento fundamental que toda forma de vida requer. Então, explorar o oceano, compreendê-lo e protegê-lo deveria ser nossa prioridade máxima”, destaca.

Apelidada por alguns de “dama dos mares”, Sylvia foi a primeira mulher nomeada cientista chefe da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos) e a primeira heroína do planeta nomeada pela revista Time, em 1998.

Earle é fundadora do Mission Blue, em 2009, organização que atua em defesa dos oceanos no mundo, com iniciativas como os “Hope spots” ou, pontos de esperança, reconhecimento dado a locais que são cientificamente identificados como críticos para a saúde do oceano. No Brasil, estão três deles: os arquipélagos de Abrolhos (BA), Cagarras (RJ) e Alcatrazes (SP). Ao todo já foram reconhecidos mais de 160 pelo mundo.

((o))eco conversou com Sylvia Earle durante o Congresso Mundial de Conservação da IUCN, eventos que ocorrem a cada quatro anos e que Earle participa sempre que pode. “O primeiro [que eu fui] foi em 1978”, lembra. “É ótimo ver tantas pessoas se reunindo para falar pela natureza e a necessidade nunca foi tão grande”, comenta a oceanógrafa, que ganhou o título de membro honorário da IUCN.

Confira a entrevista completa de ((o))eco com a oceanógrafa Sylvia Earle:

((o))eco: A pauta dos oceanos vem crescendo nos últimos anos e na última década tornou-se um assunto primordial nos debates de conservação e de clima. Como você vê a evolução dessa agenda?

Sylvia Earle: Tudo se resume ao conhecimento. Aprendemos mais nos últimos anos do que em qualquer outro período da história humana, graças à tecnologia que nos permite medir o que antes era impossível, seja lá em cima no céu ou nas profundezas do mar. A primeira visita à parte mais profunda do oceano aconteceu apenas em 1960. E passaram-se 52 anos até que alguém voltasse lá novamente. Foi James Cameron, em 2012. E então houve outro intervalo, mas agora isso está começando a acelerar. Os Estados Unidos, a China e a Rússia estão conseguindo ir para as partes mais profundas do oceano. A tecnologia avançou a ponto de estar se tornando acessível a todos. E é assim que a civilização evoluiu, desde os primórdios até os dias de hoje. Alguém descobre algo e passa adiante. Mas foi apenas no século XX e agora no século XXI, que conseguimos fazer, ver e compreender coisas, observar padrões, relações e antecipar o futuro de maneiras que agora estão ao nosso alcance. Isso é positivo. O conhecimento é o nosso superpoder. Mas também devemos entender a magnitude do que ainda não sabemos.

Sylvia Earle durante uma de suas várias apresentações ao longo do Congresso Mundial de Conservação da IUCN. Foto: Tessa Thompson/Mission Blue

Você não estará na COP30, mas o que você espera ver dessa conferência?

Quero ver a realidade. De que o oceano governa o clima planetário, a temperatura, a química, tudo. Ele representa 97% da biosfera. Pense nisso. Há vida no mar, desde a superfície às maiores profundezas. E até abaixo do fundo do mar. Onde houver água na Terra, é provável que haja vida. Você pode ter água sem vida, mas não pode ter vida sem água, pelo menos a vida como a conhecemos. É um elemento fundamental que toda forma de vida requer. Então, explorar o oceano, compreendê-lo e protegê-lo deveria ser nossa prioridade máxima, porque até muito recentemente não víamos nem entendíamos isso. 

Temos travado uma guerra contra a natureza. Todas as criaturas usam o mundo ao seu redor. Até mesmo árvores, gramas, musgos e samambaias usam água, absorvem minerais… fazem parte de um sistema. É um sistema fortemente interligado, com troca constante, de cima a baixo. Mas nenhuma espécie, nenhuma única espécie, tomou tanto sem respeitar a regra básica da natureza. Onde não há desperdício, não há excesso. Tudo é consumido num ciclo contínuo de dar e receber. Nós temos sido muito bons em tomar, mas não tão bons em devolver.

Agora, pela primeira vez em toda a nossa história, temos a melhor chance. Temos mais conhecimento, temos mais oportunidades. E ainda há tempo. Mas não muito.

Os cientistas estão fazendo de tudo para descobrir o que mantém a Terra dentro de limites seguros de operação para nós. Quanta variação de temperatura podemos tolerar? Qual é o tecido da vida que torna nossa existência possível? Já eliminamos cerca de metade da vida que existia em terra e metade da vida que existia no mar até hoje. Será que metade do mundo é suficiente? Até agora parece que sim. Mas colocamos em movimento mudanças sobre as quais estamos rapidamente perdendo o controle e a capacidade de revertê-las para um espaço seguro. O ponto crucial agora é conseguir que pessoas suficientes, com poder e disposição suficientes, tomem decisões capazes de inverter essa trajetória rumo a circunstâncias inseguras, antes que seja tarde demais para voltar atrás.

Vista aérea do Monumento Natural das Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro. Foto: Athila Bertoncini/Projeto Ilhas do Rio

O que falta para esse conhecimento virar ação?

Nós temos o conhecimento. Ainda precisamos provar que temos a vontade. E é preciso os dois. Primeiro, é preciso saber para se importar. E agora está claro que, mesmo com o conhecimento em mãos, as escolhas das pessoas ainda são egoístas, voltadas para o seu próprio tempo de vida, sem pensar no futuro. Não só de seus filhos, mas de todas as crianças que ainda virão e de toda a vida na Terra que não pode se representar ou falar por si mesma. Temos que fazer o máximo para que o mundo entenda: este é o melhor momento de toda a nossa história para garantir um futuro promissor. Tudo começa com o conhecimento. E isso nós já temos. Ainda há muito mais a aprender, mas já sabemos o suficiente para ver as consequências inevitáveis se continuarmos no caminho atual. Não precisamos continuar extraindo vida selvagem do oceano. Podemos parar e ainda assim alimentar as pessoas. Temos comida suficiente para todos. O problema está na distribuição, no desperdício e na falta de entendimento sobre o que deveríamos ou não consumir.

A vida marinha está desaparecendo diante dos nossos olhos. Já matamos e levamos ao mercado mais de 80% dos tubarões, alguns dizem 90%. Seja qual for o número, quando eu era criança havia muito mais tubarões – e me diziam para ter medo deles. Agora, fico com medo quando mergulho e não vejo tubarões, porque restam tão poucos. O mesmo vale para o atum e para tantos outros peixes que colocamos no prato.

Havia focas no Golfo do México – ou como quer que você queira chamá-lo. Eram as chamadas focas-monge-caribenhas, que desapareceram quando eu ainda estava no Ensino Médio. Eu nem sabia que existiam. Elas habitavam o Atlântico Norte e agora estão extintas. E há outras espécies à beira de desaparecer e, se não mudarmos nosso comportamento, irão ser extintas também. E nós iremos junto.

Parente da extinta foca-monge-do-caribe, uma foca-monge-do-havaí é fotografada debaixo d’água. Foto: Credit: NOAA/PIFSC/HMSRP

Nós, humanos, não dependemos necessariamente da vida marinha, só recentemente tivemos acesso a grande parte do oceano. Algumas comunidades costeiras e povos navegadores, como os polinésios, têm uma longa história de dependência do mar. Mas agora a vida oceânica está sendo explorada não para garantir segurança alimentar dessas populações, e sim para alimentar um mercado global.

O peixe pescado no Atlântico pode acabar no mercado de Tóquio em poucas horas. Isso não é pesca tradicional. É um serviço de luxo, de alta tecnologia. E criamos um mercado para criaturas que, até o final do século XX, ninguém sequer considerava comer, porque viviam em águas profundas.

Pense no robalo-chileno ou no peixe-áspero-laranja [Hoplostethus atlanticus], este último conhecido pelos cientistas como “slimehead” [o equivalente a “cabeça gosmenta”]. Mas ganhou um nome comercial mais atraente, para incentivar o consumo. Ninguém comeria algo chamado “cabeça pegajosa”, mas, com outro nome [“peixe-relógio”] vendem bem. E assim é dada licença para matar, se alguém quiser comer. Qualquer criatura agora tem um preço, seja uma árvore, um caracol ou um atum.

Não é mais sobre segurança alimentar, é sobre dinheiro. Um tipo diferente de segurança, mas que está matando o oceano. Retiramos tanto quanto conseguimos encontrar, apenas por lucro. Criamos mercado para barbatanas de tubarão, para peles de serpentes marinhas usadas em roupas, assim como dizimamos mamíferos terrestres para obter peles. Mas, hoje, na maioria dos casos, é uma escolha, não uma necessidade.

Uma das principais produtoras de conhecimento sobre o oceano sempre foi historicamente a NOAA. E agora, sob a atual administração Trump, a NOAA vem enfrentando cortes…

Esse é um esforço deliberado para ser disruptivo. Basta observar os vários pilares valiosos de uma sociedade nos Estados Unidos, desenvolvidos ao longo da história do país: museus, universidades, ciência, arte, música… Instituições que as pessoas conhecem, amam e respeitam. A NOAA foi criada em 1970. Eu estava lá quando isso aconteceu. E, é claro, tenho estado associada à NOAA durante toda a sua história. Todos nós estamos, de certa forma. Se você verifica a previsão do tempo para saber se há um furacão se aproximando, ou se está quente demais, ou se deve colocar um suéter, ou se deve plantar em determinada época, tudo isso depende dessas informações. E não é só nos Estados Unidos, mas no mundo todo. É um serviço pelo qual os governos e os contribuintes estão dispostos a pagar, assim como pagam por estradas, por informação, por saúde pública. 

Muitas coisas resultam desse princípio de devolver à sociedade, de contribuir para que todos estejamos seguros. E o que parece estar acontecendo agora é o contrário. O plano [do governo Trump] parece comprometido em desfazer a rede de solidariedade, de convivência pacífica e produtiva, de respeito e boa vontade entre as pessoas. Ao enfraquecer ou dissolver as estruturas que sustentam uma sociedade estável e saudável.

Um coral de águas profundas. Foto: NOAA OKEANOS EXPLORER

Você acha que a ciência oceânica está em risco neste momento nos Estados Unidos?

A ciência oceânica continua acontecendo, mas sem o apoio necessário, especialmente se comparada à exploração espacial, que sempre teve mais prioridade, apesar da importância absoluta de compreender o oceano. A Marinha, como parte do Departamento de Defesa, tem financiado pesquisas e explorações oceanográficas, mas essas descobertas não são comunicadas ao público, como a NOAA é obrigada a fazer. Há ainda outra parte da NOAA [NOAA Fisheries], financiada pela Agência Nacional de Pesca Marinha, que oferece suporte à atividade pesqueira, para que seja feita de forma mais sustentável.

Pesca predatória, poluição plástica, mudanças climáticas, mineração em águas profundas… Na sua opinião, quais são as maiores ameaças aos oceanos hoje?

Ignorância e complacência. Todos esses outros fatores estão interligados. Pense no ciclo do carbono. Pense nas condições que tornam a Terra habitável. Podemos reduzir alguns desses fatores, como o dióxido de carbono em excesso, que aquece o planeta e acidifica os oceanos. Porque o excesso de CO2 dissolvido na água se transforma em ácido carbônico. E estamos vendo um nível de acidificação tal que as ostras juvenis já não conseguem formar suas conchas, porque elas se dissolvem em um oceano mais ácido. Tudo está conectado. Quando você reduz os mecanismos de captura de carbono, como as árvores em terra e o fitoplâncton no mar, isso afeta não apenas a produção de oxigênio, mas também a temperatura e toda a cadeia alimentar oceânica. 

É um sistema interativo, que levou quatro bilhões e meio de anos para se ajustar. Espécies surgiram e desapareceram. O planeta já foi mais quente e também mais frio. Nosso sucesso [como espécie] começou há apenas cerca de um milhão de anos, mas só prosperamos de fato há uns 10 mil. Desde então, passamos de milhares para milhões. Por volta de 1500, durante a era das grandes explorações marítimas e terrestres, éramos 500 milhões. Só atingimos 1 bilhão em 1892. Dois bilhões quando eu nasci, nos anos 1930. Em 1980, 4 bilhões. Agora, somos 8 bilhões. Nosso sucesso ocorreu nesse ponto ideal de temperatura estável. Mas estamos à beira de perder essa habitabilidade. E, sem ela, não há prosperidade. Podemos ir a Marte, mas não podemos morar lá sem transformar completamente sua atmosfera. O ar de Marte é composto basicamente de dióxido de carbono, um clima extremo, inóspito.

Quem quer ir para Marte, eu digo: vá! Mas lá não há oceano, e ele é essencial para manter a Terra habitável.

A Terra não é apenas rocha e água. É um sistema vivo, equilibrado por trocas constantes. Mas, nos últimos 200 anos, uma única espécie – nós – ultrapassou seus limites. Até cerca de 1800, quando nossa população era menor, a natureza ainda estava em equilíbrio. Mas, com a tecnologia, passamos a destruir em escala e velocidade nunca vistas. O que antes levava anos, hoje é feito em semanas. Podemos devastar uma floresta ou o oceano inteiro com redes sintéticas leves, baratas e duráveis, que não existiam quando eu era criança. Essas redes, quando descartadas, continuam matando e são responsáveis por cerca de 80% do plástico no mar, especialmente nas grandes manchas de lixo do Pacífico.

O lixo das cidades também chega ao mar. Garrafas, pratos, embalagens… mas muito vem do próprio oceano, arrastado pelas correntes. E, nesse caminho, mata centenas de milhares de aves, baleias, focas. É uma guerra de mão única. E esse tecido da vida que sustenta a nossa própria existência está sendo rasgado por nós.

Sobrepesca é uma das principais ameaças à vida marinha. Foto: Miller Freeman/NOAA Ship

Mesmo com tudo isso, você ainda fala sobre esperança…

Ei, ainda estamos aqui. E os tubarões também. Pode ser que 90% tenham desaparecido, mas ainda não todos. Temos sido guiados pela ideia de que a natureza – e a vida marinha – são “bens gratuitos” que só ganham valor quando transformados em dinheiro. Quando matamos, comercializamos e damos preço. É assim com o atum, o peixe-espada, os mariscos, o bacalhau… todos em declínio. Mas, quando paramos a matança e começamos a cuidar, a recuperação é possível.

Há boas notícias para o atum: quando medidas de proteção são aplicadas, eles começam a se recuperar, por mais que ainda estejam longe do que eram quando eu era criança. As baleias, por exemplo, com o acordo internacional que entrou em vigor em 1986, estão se recuperando significativamente: jubartes, baleias-cinzentas, baleias-azuis, e outras. Exceto a baleia-franca-do-Atlântico-Norte, que parece estagnada em cerca de 300 indivíduos e não consegue se recuperar porque, ao mesmo tempo em que há proteção, há perda crescente do que elas comem, aumento de casos de emaranhamento em redes de pesca e colisões com embarcações. São animais de movimento lento. Nada em sua história os preparou para estar alerta para mergulhar rapidamente e escapar. Não estão adaptadas à civilização moderna. Estamos fazendo algumas coisas, e é por isso que elas ainda não desapareceram. Mas isso não é verdade para muitas outras espécies. 

Estamos quase, mas ainda não perdemos a esperança pela vaquita [Phocoena sinus], um pequeno golfinho do México que nós estamos testemunhando declinar, por causa da pesca ilegal e do tráfico de bexigas natatórias de totoaba [Totoaba macdonaldi, peixe que vive apenas no Golfo da Califórnia, no México, território sobreposto ao habitat das vaquitas] que são vendidas ao mercado chinês. E esses pescadores acabam capturando as vaquitas acidentalmente e elas morrem nas redes de emalhe. 

É uma situação complexa, movida pelo dinheiro. E é só um exemplo. As árvores levam séculos, às vezes milênios, para crescer, mas damos mais valor à madeira morta e ao solo limpo para plantar soja, milho ou criar gado. Nosso sistema de suporte à vida está realmente em risco. Mas ainda estamos respirando. Ainda não cruzamos a linha final, mas todas as setas apontam: precisamos parar já. Temos que nos alimentar de forma mais eficiente, deliciosa e sustentável. Devemos parar de matar atuns, que são muito mais valiosos vivos, como parte do equilíbrio climático, capturadores de carbono e elos fundamentais da cadeia alimentar. Isso é ciência básica, que até uma criança de 10 anos pode entender e, espero, um senador ou ministro também. Precisamos entender que proteger a natureza é questão de sobrevivência.

No Brasil, boto-cinza (Sotalia guianensis) é uma das espécies de golfinho ameaçado de extinção. Foto: João D’Andretta/CC BY-SA 4.0

Jane Goodall dizia que esperança é ação, não apenas acreditar, mas agir.

Esperança é vazia se não leva à ação. Ela pode manter você motivado, mas, até se transformar em algo concreto, é apenas uma ideia. Então, estou com Jane.

Qual é sua maior fonte de esperança?

É saber o que sabemos. O que ninguém podia saber antes. Se tivesse de escolher um momento para estar aqui, na Terra, poderia pensar em voltar ao passado ou avançar e ver como tudo se desenrola, mas se você quiser fazer a diferença, tornar o mundo melhor, escolha agora. Porque vamos perder a chance se não fizermos algo agora para mudar a forma como tratamos a natureza. Se você tira, você deve devolver. E o oceano, se você tira vida do oceano, o que você pode fazer para compensar a natureza? Pense em como isso funciona. Quero dizer, é infinitamente complexo. Mas existem alguns princípios básicos. Faça o que puder para aprender sobre a natureza. Observe com atenção, registre com honestidade, mantenha-se atualizado com fontes confiáveis e novas descobertas. Compartilhe sua visão. Sempre compartilhe sua visão. E sempre faça perguntas e não tenha medo de ser o primeiro a falar se vir algo errado. Há muitas razões para ter esperança. E as pessoas se importam. Só precisam saber o que fazer, e sentir a urgência.

Quando nos encontramos pela última vez, em 2018, no Brasil, você estava em campanha para pressionar pela criação de uma grande área marinha protegida no arquipélago de Trindade. E ela foi criada. Você já teve a chance de ir lá?

Ainda não, mas irei. Não há data definida, mas tenho esse compromisso. Mas não devo receber crédito algum [pela criação]. Se posso lançar luz sobre algo e fazer com que as pessoas vejam o que antes não viam, ótimo. Mas elas é que precisam fazer. Eu não posso fazer sozinha.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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