Sessenta e sete metros de altura eram insuficientes para cobrir as dúvidas levantadas pelos cientistas. Esse era o tamanho máximo das torres usadas em estudos sobre a floresta amazônica. Era preciso subir mais. Agora, eles finalmente vão poder chegar onde queriam, pois após oito anos de negociações e obras, em agosto foi inaugurado o Observatório de Torre Alta da Amazônia (ATTO, em inglês), uma estrutura metálica que alcança bem acima da copa das árvores, com 325 metros de altura.
A Torre Alta da Amazônia é cerca de 20 metros mais alta do que a Torre Eiffel (301 metros de altura) e vai ajudar os cientistas a responder três perguntas importantes sobre a relação da Amazônia com o clima global: Quanto carbono entra e sai da atmosfera sobre a floresta ao longo do ano e durante eventos extremos? Na conta fechada, a floresta emite ou absorve carbono da atmosfera? E, qual o papel dessa floresta na formação das chuvas?
O cientista florestal Jochen Schongart, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e do Comitê Gestor do projeto, conta que as torres menores não ofereciam condições para responder a estas perguntas. Explica que durante a noite, o carbono, por ser mais pesado do que o ar, escorre por vales até os locais mais baixos da floresta. Esse carbono não é detectado pelas torres menores instaladas em diversas regiões da Amazônia, o que provocava distorções nos cálculos.
“Elas monitoram uma área pequena, que não é representativa, pois sabemos, há muita variedade na floresta”, diz Schongart. “Não conhecemos ao certo qual área poderemos monitorar com a Torre ATTO, mas acreditamos que será maior do que 2 mil quilômetros quadrados. Vai depender de fatores como os ventos”.
Inserida na floresta
Além do destaque pela altura, a Torre ATTO está em uma posição estratégica, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do rio Uatumã, que protege esse afluente da margem esquerda do Amazonas e está fora da mira de grandes projetos para a região. Modelos projetam que ela continuará preservada, sem desmatamentos em grande escala, pelo menos durante os próximos 30 anos.
Mas chegar lá não foi fácil. Ela fica a uma distância aproximada de 150 quilômetros em linha reta da Manaus, mas o caminho não é fácil. Hoje, já existe uma estrada de chão que chega perto. São três horas de viagem a partir de Manaus, quando então é preciso pegar mais uma hora de lancha. Só a abertura da estrada custou aproximadamente R$ 2 milhões. E se o acesso das pessoas já era difícil, levar toneladas de aço para o meio da floresta foi uma aventura à parte.
A torre ATTO foi construída em Curitiba e, desmontada, atravessou o país em carretas, até Porto Velho. Na capital de Rondônia, embarcou em uma balsa para ser levada ao Uatumã e montada. De acordo com informações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a torre custou R$ 26 milhões, divididos pelo governo brasileiro, via Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e o governo alemão.
A ideia de construi-la surgiu no final de 2007, quando o então ministro alemão de Formação e Pesquisa, Frieder Meyer-Krahmer, fez uma visita ao Inpa. Ele estava interessado em uma parceria para um grande projeto de cooperação. E apareceu então a ideia ousada de construir a maior torre de observação científica do mundo. O documento que formalizou a intenção dos dois países foi assinado em 2009.
A torre ainda vai receber os equipamentos e os primeiros dados validados devem começar a sair em 2017. Por enquanto, as informações científicas da região do Uatumã vêm de dados obtidos a partir de torres menores, com pouco mais de 80 metros de altura, construídas enquanto a maior não ficava pronta. A partir delas, já existem mais de 3 anos de medições contínuas, que ajudam a caracterizar a área onde fica a Torre Alta, como concentrações de gás carbônico, aerossóis, compostos orgânicos voláteis e direção dos ventos.
Essas informações estão preparando o caminho para as respostas buscadas pelos cientistas. E se as questões são complexas e importantes, eles acreditam que olhando lá do alto dos 325 metros possam trazer as respostas e revelar um pouco mais dos mistérios da floresta.
*Este texto é original do blog Observatório de UCs, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo. |
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