A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República reconfigura a correlação de forças entre os governadores da Amazônia Legal e o Palácio do Planalto. Hoje, a maioria dos governadores está aliada ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua política de enfraquecimento da preservação da floresta, priorizando suas agendas para o agronegócio.
Com a vitória de Lula, e sua sinalização de reconstruir a política ambiental brasileira, a tendência é de quase um alinhamento automático dos atuais governadores bolsonaristas com o governo petista. Essa aproximação se faz necessária ante a grande força que o governo federal exerce na região, com os estados sendo dependentes das transferências de recursos da União.
A tendência é a de que muitos destes governadores abandonem a canoa bolsonarista antes mesmo de 31 de dezembro. Os gestores do Acre, Gladson Cameli (PP), e de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), já realizaram acenos ao presidente eleito. Ambos fizeram campanha para Bolsonaro e são ligados ao agronegócio.
Se em 2018 Gladson Cameli fez uma campanha tendo como promessa regras ambientais mais frouxas para “destravar” o agronegócio, em 2022 o governador reeleito do Acre faz um discurso mais ambientalmente sustentável.
Ao gravar um vídeo para anunciar sua participação na conferência do clima do Egito, a COP-27, Cameli falou sobre compromissos em combate ao desmatamento ilegal. Durante o primeiro mandato, o Acre registrou níveis recordes de desmatamento e queimadas. Com sua reeleição e o retorno de Lula ao Planalto, Cameli tenta se apresentar com uma nova roupagem.
Já outros bolsonarismo mais radicais continuam irredutíveis. É o caso do governador reeleito de Rondônia, coronel Marcos Rocha (União Brasil). Mesmo com a derrota de Bolsonaro, um de seus primeiros gestos foi postar uma fotografia ao lado do atual presidente. Sua gestão na área ambiental seguiu a mesma implementada por Brasília desde 2019.
O silêncio também foi a atitude adotada por Antônio Denarium (PP), de Roraima. Em meio às manifestações golpistas que não aceitam o resultado das eleições presidenciais, Denarium apenas pediu o respeito à vontade dos eleitores expressa nas urnas, mas sem condenar os atos antidemocráticos. Reeleito no segundo turno, Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas, também se manteve mudo.
O comportamento dos três não se sabe até quando será mantido, mas o isolamento pode ser visto como um “suicídio político” numa região altamente dependente dos recursos liberados por Brasília. Ao ficarem em silêncio diante da vitória do PT, estes governadores tentam manter apoio político local diante da força no bolsonarismo no eleitorado. Em Roraima e Rondônia, por exemplo, Bolsonaro ficou com 70% dos votos válidos.
Indisposto a não ficar sozinho, Marcos Rocha decidiu participar da CO27 junto com outros governadores da Amazônia. Denarium preferiu ficar em Roraima para participar e organizar a feira agropecuária do estado, a Expoferr.
A volta do MDB e prestígio político
Quem chega com mais prestígio ao terceiro mandato de Lula é Helder Barbalho, do Pará. No governo Bolsonaro, ele seguiu uma linha oposta ao do desmonte da agenda ambiental, mas não tendo força suficiente para reduzir os crimes ambientais no estado, o que manteve o Pará no topo do ranking do desmatamento.
Chegando ao grupo de governadores da Amazônia Legal pela primeira vez, o governador eleito do Amapá, Clécio Luis, também terá certo prestígio diante do governo federal. Apesar de Bolsonaro ter virado votos no Amapá no segundo turno, Clécio fez campanha para Lula. O grande ativo ambiental do estado, com pouco desmatamento, também o gabarita para chegar com moral nas negociações ambientais.
Para o cientista político Israel Souza, do Instituto Federal do Acre (Ifac), a derrota de Jair Bolsonaro representa o fim da referência do bolsonarismo nos estados. “Os governos locais conquistados pelo bolsonarismo não vão ter vez com o governo federal se continuarem a radicalizar. Eles vão dispensar verbas, parcerias? Qual governo local consegue se sustentar sem o federal?”, aponta Souza.
Na análise do cientista político, a política ambiental brasileira já foi reconfigurada antes mesmo da posse de Lula. A sinalização da Noruega e Alemanha de voltarem a colocar verbas no Fundo Amazônia é um dos sinais disso. Dessa forma, completa ele, os governadores da região amazônica também precisam se adaptar.
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