Reportagens

Guanabara em foco no Museu do Amanhã

A recém-inaugurada exposição Baías de Todos Nós lança luz sobre a Baía de Guanabara e sua sonhada despoluição, enquanto traz exemplos de outras 4 baías do mundo

Duda Menegassi ·
14 de novembro de 2018 · 6 anos atrás
A Baía de Guanabara está no horizonte do Museu do Amanhã. Foto: Duda Menegassi.

Debruçado às margens da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã tem uma relação naturalmente íntima com a baía. Essa relação para além da vizinhança foi evidenciada com a recém-inaugurada exposição Baías de Todos Nós. A mostra convida os visitantes a aprenderem e se engajarem pela proteção do cartão-postal que há décadas desafia governo e sociedade com a pauta da despoluição. Além da Guanabara, as baías de Chesapeake (Estados Unidos), Jacarta (Indonésia), Tóquio (Japão) e Sydney (Austrália) completam a mostra interativa que ocupará de forma permanente as paredes do museu.

De acordo com o editor de conteúdo do Museu do Amanhã, Emanuel Alencar, a escolha das outras quatro baías para integrar a exposição teve como objetivo inspirar os futuros possíveis para Guanabara. “Nem todos aqui são cases de sucesso, como Jacarta, por exemplo, onde a percentagem de esgoto doméstico tratado é 4%, bem inferior ao da Baía de Guanabara. A ideia é mostrar os acertos e desacertos para que isso nos ajude a construir um caminho aqui”, pontua o jornalista.

Reunir e organizar todo o conteúdo em exibição levou cerca de um ano e os visitantes podem navegar pelas informações sobre as cinco baías em três telas interativas. Para coletar os dados sobre a Guanabara, a equipe do museu contou com o apoio da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e do Trata Brasil.

Uma quarta tela traz notícias e fotos, tanto do acervo do museu quanto enviadas pelos próprios usuários através da #baiadetodosnos no Instagram e pelo aplicativo Colab. A plataforma, disponível para download, é uma ferramenta de participação social que já foi adotada por alguns municípios brasileiros, como Recife (PE) e Teresina (PI), para fortalecer o diálogo entre população e gestão pública. No entorno da Baía de Guanabara, Niterói é o único município que utiliza oficialmente o Colab, “mas isso não impede das pessoas baixarem o aplicativo e, mesmo em outros municípios, publicarem fotos de denúncia com a #baiasdetodosnos”, explica Emanuel. A própria equipe do museu faz o filtro dos problemas denunciados pelos usuários e expõe no mural colaborativo.

A exposição Baía de Todos Nós, parte da mostra permanente do museu. Foto: Duda Menegassi.

O cofundador e diretor do Colab, Paulo Pandolf, reforçou a importância estratégica da parceria com a exposição para convocar as pessoas a serem fiscais da baía. “Ficamos muito felizes com essa parceria, porque precisamos fazer com que todos entendam que a preservação das nossas baías é de responsabilidade compartilhada. O Colab, então, vem como a ferramenta que empodera o cidadão e facilita o seu papel de fiscalizador e colaborador. Somos todos responsáveis pelo cuidado com nossos rios e oceanos”, pontua.

A localização da exposição é estratégica: no final de um dos corredores laterais, onde após passar pelos painéis o visitante se depara com uma ampla janela que dá vista exatamente para ela, a Guanabara. É um convite irrecusável pensar em como ela é parte central da vida – e da paisagem – da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Atualmente, apenas 35% do esgoto doméstico despejado na baía é tratado, um entrave para despoluição, uma meta que permeia o discurso dos candidatos ao governo do Rio há anos e que está incluída no plano do governador recém-eleito para o estado do Rio, Wilson Witzel. “Nenhum político irá ignorar a Baía de Guanabara, porque a sociedade não ignora. Além disso, a despoluição joga a favor da economia, a longo prazo os ganhos são maiores do que o investimento”, ressalta Emanuel Alencar.

Dois anos depois de lançar seu livro “Baía de Guanabara – Descaso e Resistência” (2016), onde fez um balanço dos projetos de despoluição da baía, Emanuel Alencar destaca que houve avanços desde então. “O que fica do legado olímpico é um discurso mais uniforme e transparente com a sociedade. Em 2017, por exemplo, a Secretaria Estadual do Ambiente lançou um portal chamado A Guanabara Em Suas Mãos onde é possível acompanhar as obras e dados da baía”, conta. Além disso, o jornalista destaca o fortalecimento dos seis subcomitês que atuam na bacia da Baía de Guanabara e uma atuação mais contundente do Ministério Público Estadual no tema.

Baía de Guanabara vista pelo Museu do Amanhã. Foto: Márcio Lázaro.

A própria exposição, de acordo com Alencar, tem o compromisso de ser um observatório para acompanhar o andamento das obras do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM). O programa tem duas frentes principais: o Sistema de Esgotamento Sanitário de Alcântara, atualmente com 48% das obras concluídas; e o Coletor Tronco Cidade Nova, com 74% (dados da Secretaria do Ambiente).

Jogo

Na mostra, os visitantes mirins também poderão aprender sobre a Guanabara de uma forma mais lúdica, através do Jogo do Boto Cinza. No game, o objetivo é levar o boto através da baía, enquanto desvia de lixo, plataformas de petróleo, perfurações e redes de pesca. Obstáculos bem reais na vida dos cerca de 20 botos-cinzas (Sotalia guianensis) que ainda resistem nas águas da Guanabara. Na década de 70, a população estimada do animal era de mais de mil indivíduos.

 

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  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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