Marrakesh — O presidente da França, François Hollande, pendurou o guizo no pescoço do gato em seu discurso de abertura do segmento de alto nível da COP22, a conferência do clima de Marrakesh, na tarde desta terça-feira (15). Sem citar o nome de Donald Trump, Hollande disse que o Acordo de Paris é “irreversível de fato e de direito” e que “não se trai uma promessa de esperança”.
A fala do presidente francês estava presa na garganta dos negociadores de 196 nações reunidos em Marrakesh desde a quarta-feira passada, quando o resultado da eleição americana saiu e sacudiu o mundo da luta contra o aquecimento global.
O republicano Trump, para quem a mudança climática é uma “fraude inventada pelos chineses”, elegeu-se sob a promessa de “cancelar” a participação dos EUA. Segundo relatos na imprensa, ele já está buscando a maneira mais rápida de retirar os Estados Unidos do acordo do clima.
Apesar de a eleição ter jogado uma sombra sobre as negociações e posto em questão aspectos importantes do acordo, como o financiamento climático, o tom em relação ao novo presidente americano tem sido de cautela por parte dos governos e das delegações reunidas em Marrakesh.
Hollande abandonou as luvas de pelica. Em parte por defesa do legado – foi sob sua presidência que o Acordo de Paris foi adotado, em 12 de dezembro de 2015. Mas em parte porque o clima virou um tema da eleição francesa de 2017, e seu rival, Nicolas Sarkozy, já deu declarações no fim de semana ameaçando Trump com uma “guerra comercial” caso ele abandonasse o tratado.
Após elogiar o papel de Barack Obama na negociação do acordo do clima, o presidente francês se voltou ao recém-eleito: “Os Estados Unidos, primeira potência econômica do mundo, segundo emissor mundial de gases de efeito estufa, devem respeitar os compromissos que foram assumidos”, disse Hollande na plenária em Marrakesh, sendo aplaudido em seguida. “Não é simplesmente seu dever; é seu interesse. O da população americana que é afetada pelas alterações climáticas que não poupam nenhum país. É igualmente interesse das empresas americanas que investiram na transição ecológica”, prosseguiu. “A França, eu lhes asseguro, dialogará com os EUA e seu novo presidente com abertura, respeito, mas com exigência e determinação e em nome de cem países que já ratificaram o Acordo de Paris.”
Segundo Hollande, Paris é irreversível pela lei, já que foi ratificado por mais de uma centena de países, que juntos respondem por dois terços das emissões globais de gases de efeito estufa; pelos fatos, já que 90% da energia nova no mundo hoje é produzida a partir de fontes renováveis; e “pela consciência”, já que hoje não há mais dúvidas sobre a ligação entre emissões e desastres climáticos. “A inação será desastrosa para o mundo, desesperadora para as gerações futuras e será perigosa para a paz”, afirmou o francês. “Não se trai uma promessa de esperança: cumpre-se-a.”
Ele defendeu, ainda, a aceleração do calendário de implementação do acordo, um dos temas principais de discussão da COP22; para Hollande, é preciso tornar Paris operacional “mais cedo que o previsto, antes mesmo de 2018”, e acelerar a implementação das metas nacionais.
Irrefreável
Em sua última conferência do clima, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse a jornalistas na terça-feira que está “otimista”. Ban afirma ter conversado com Trump sobre o tema e espera retomar o contato pessoalmente. “Tenho certeza que ele irá entender e ouvir as vozes de governos, cidadãos e comunidades ao redor do mundo.”
Segundo o secretário-geral, o acordo do clima é um gênio que saiu da garrafa. “O que antes era uma união impensável de países em torno do objetivo climático agora é algo irrefreável”, disse. Ban afirmou que priorizou a questão climática desde seu primeiro dia no cargo e que está confiante que a nova gestão de António Guterres avançará nos esforços junto à comunidade global. “Nenhum país, não importa o quão rico ou poderoso está imune aos efeitos das mudanças climáticas e é por isso que estamos vendo tanto apoio ao Acordo de Paris. As nações perceberam que participar é do interesse delas”.
Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo. |
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Apesar do entusiasmo dos enviados com as pós-verdades hehehehe, Hollande não "fustigou" o Trump porque não é maluco e nem fala em nome de todos so signatários do tratado, a menos que queira estabelecer no lugar da diplomacia, uma queda de braço para ver quem pode mais, o que decididamente não é o caso nem de Hollande e nem da UE e muito menos da ONU.
O grande problema é que a ONU é entendida como uma ameça globalista e a questão climática é apenas mais uma ferramenta de pressão e articulação contra os estados nação, a qual deve ser bastante enfraquecida pela administração do Trump e demais governos que surgirão nesta onda revisionista que varre o planeta…
A questão é se o clima continuará a servir a interesses geopolíticos e se estabelecerá como uma condição de governança local, dado aos efeitos meso e microclimáticas ampalmente percebidos pelas populações locais
Camaradas jornalistas… Mais jornalismo menos militancia… já está provado que o assunto Trump é tóxico para os desavisados 😀