Porto Jofre (MT) – Fogo pode voltar a regiões já devastadas do Pantanal. Situação só deve melhorar com o início das chuvas. Mas se chegarem com muita força, levarão poluentes aos rios e podem prejudicar a reprodução de peixes e outras espécies. Enquanto isso, segue o resgate de animais.
As chamas que já devoraram 23% do Pantanal avançam no Mato Grosso do Sul, seguem ativas em inúmeros pontos ao norte do bioma e podem ganhar força queimando folhas, galhos e árvores ressecados. As temperaturas passam dos 40 °C ao meio dia na região de Porto Jofre (MT).
O pantaneiro Ailton Lara (40) explica que após a passagem das chamas rasteiras, folhas e galhos caídos e até copas de árvores estão na mira de novos incêndios. Segundo ele, a seca implacável e o fogo que segue vivo debaixo do solo podem aumentar a destruição.
“Muitos acham que o fogo foi extinto, mas pode ficar queimando por meses. Lagoas e rios menores secam. Serão necessários muitos anos para se recuperar da destruição. Precisamos mudar nossa cultura, ter educação ambiental para contornar situações como essa, que devem se tornar cada vez mais frequentes como apontam as pesquisas (climáticas)”, disse o empresário de turismo.
Águas turvas
Chuvas persistentes são esperadas no Pantanal apenas no fim de outubro. Se chegarem com muita força, apagarão de vez os incêndios, mas também carregarão vegetação e solo queimados para os rios. Por isso equipes testam águas, cinzas e até lodo em vários pontos e cursos d’água regionais.
Conselheira da Fundação Ecotrópica, Luciana Calçada explica que saber o quanto foram prejudicados pelo fogo é fundamental até para o desenho de ações que acelerem a recuperação dos ambientes. A poluição também pode prejudicar a reprodução de peixes que sobem cursos d’água para desovar. A piracema ocorre de outubro a janeiro no Pantanal.
“Chuvas brandas farão grande quantidade desses materiais ser absorvida pelo solo. Se forem torrenciais, tudo escoará para os rios. Cinzas molhadas podem deixar as águas ácidas e prejudicar a vida aquática pois roubará oxigênio dos peixes e de outros animais”, disse a Química com mestrado em recursos hídricos. Os testes continuarão após a chegada das chuvas.
Esforço Coletivo
Animais queimados, exaustos e esfomeados ainda seguem sendo resgatados em regiões mesmo onde o fogo já passou. Uma anta adulta com pele e patas calcinadas foi encontrada às margens de rio pantaneiro nesta segunda (28). Depois de sedada, foi levada de barco até Porto Jofre (MT). Dali, seguiu à Universidade Federal do Mato Grosso, na capital Cuiabá.
A gravidade de seus ferimentos exigirá um longo tratamento. A possibilidade de que volte à natureza é baixa.
Resgates de animais prosseguem especialmente graças a equipes de veterinários e biólogos voluntários de instituições como Reprocon – Reprodução para Conservação e GRAD – Grupo de Resgate de Animais em Desastres. Equipamentos e medicamentos usados nas ações dependem de doações.
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