Em meio ao agravamento de fenômenos climáticos extremos no Rio Grande do Sul, um projeto no Estado vizinho Santa Catarina, que também sofre com furacões, completa o primeiro ano de existência mostrando que soluções baseadas na própria natureza, como o replantio de espécies de manguezal nativo, ajudam a diminuir enchentes e outras catástrofes provocadas ou agravadas pela ação humana.
Nos últimos 12 meses, membros do Projeto Raízes da Cooperação e quase 2000 voluntários, a maioria alunos de escolas públicas localizadas perto do manguezal, já cortaram e manejaram espécies invasoras chamadas de pinus em uma área de quase oito hectares, ou cerca de oito campos de futebol de dimensões médias no campeonato brasileiro. Essa foi a primeira etapa do Projeto.
“Minimizar e mitigar os fenômenos climáticos extremos passa por soluções baseadas em natureza. Quanto às inundações, uma dessas soluções é a proteção das áreas de recargas e dos ecossistemas que protegem o ambiente, e os manguezais estão entre o oceano e o continente, ou seja, em regiões sujeitas a inundações do oceano e dos rios”, explica Dilton de Castro, ecólogo e coordenador do Raízes da Cooperação. “Manguezais absorvem o gás carbônico – e as pesquisas indicam que eles absorvem no solo, no subsolo e na planta de cinco a 15 vezes mais do que as florestas amazônica e atlântica – e fazem a contenção da erosão provocada pelo avanço do mar. A conservação dos remanescentes e a restauração de áreas que foram transformadas em aterros e em carcinicultura são importantes para a sociedade, principalmente para as populações vulneráveis que vivem às margens desses ambientes”, completa Castro.
O censo realizado pelo IBGE e divulgado em 2022 mostrou como a pesquisa e ação sobre os manguezais é importante para um País como o Brasil. Segundo o levantamento, 111,28 milhões de pessoas, 54,8% da população brasileira (de 203,08 milhões), vivem em uma faixa de território nacional localizada a uma distância de até 150 quilômetros da costa e, portanto, em regiões impactadas por tudo o que acontece em manguezais e outros ecossistemas costeiros. Em relação a 2010, houve aumento de quase cinco milhões de pessoas habitando essa faixa territorial, embora tenha havido um recuo de 1% no número de pessoas vivendo no litoral.
A primeira fase do Raízes da Cooperação, que foi concebido e operado pela organização Ação Nascente Maquiné (Anama) e financiado pela Petrobras, é desenvolvida em duas ilhas litorâneas do município catarinense de Palhoça. Segundo a Anama, a área total que já foi invadida por espécies exóticas corresponde a mais de sete campos de futebol.
O objetivo do Projeto em 2024 é fazer 30 saídas aos manguezais, com os profissionais da educação e 900 alunos das escolas da rede pública, que vão atuar em 54 hectares de mangues, restingas, banhados e florestas do território. Eles vão plantar mais três mil mudas de espécies nativas em 10 hectares das ilhas e no entorno do Centro de Visitantes do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro – uma unidade de conservação localizada nos municípios catarinenses de Florianópolis, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, São Bonifácio, São Martinho, Imaruí e Paulo Lopes.
“A falta de conhecimento da importância desse ecossistema por parte da sociedade acaba sendo um risco. Aquilo que desconhecemos achamos que não serve para nada. Por isso a educação, a mobilização social e a promoção da ciência cidadã são importantes instrumentos de conservação”, diz o coordenador do projeto.
Segundo ele, os manguezais localizados em Santa Catarina retiram o carbono da atmosfera e o colocam nas estruturas subterrâneas, ou seja, estocam nos solos esse elemento químico presente nos Gases do Efeito Estufa, que causam o aquecimento e a mudança no clima do planeta. Os demais tipos de manguezal, como aqueles localizados do Amapá, Maranhão e Pará, também capturam carbono, mas o guardam em suas partes aéreas, ou seja, as folhas e os troncos, que chegam a alcançar até 30 metros de altura.
As principais ameaças aos manguezais, de acordo com Castro, vêm da urbanização, da introdução irregular de espécies exóticas invasoras, de incêndios, do aumento do nível do mar e do despejo irregular de esgoto. Em boa medida, lembra o ecólogo, esses impactos negativos surgem do desconhecimento social sobre a importância ambiental e desses ecossistemas.
“Os manguezais estão na zona tropical de todo o planeta, com as maiores manchas lá na Indonésia. Aqui no Brasil, são encontrados na faixa litorânea entre a Amazônia e Santa Catarina. Recife, Salvador, Rio de Janeiro cresceram aterrando manguezais, restingas e outros ecossistemas considerados lugares “fedidos” e que atraíam mosquitos”. A falta de saneamento básico e o depósito de resíduos sólidos (lixo), explica Dilton de Castro, que também lista outros inimigos perigosos dos mangues.
No Nordeste, ele exemplifica, os manguezais estão sendo ampla e rapidamente convertidos por grupos econômicos em fazendas de criação de camarão. “Em Santa Catarina, o problema principal é o aterro para construção de estradas, além da invasão por espécies exóticas, em especial, o pinus. Na região de Santos, em São Paulo, recentemente foi detectado uma espécie de mangue exótico originado no Oriente e encontrado dentro do manguezal nativo, que já começa a se espraiar na Baixada Santista”.
Castro lembra que a ocorrência de manguezais no litoral brasileiro termina no litoral de Santa Catarina. “Eles são encontrados aproximadamente entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio. A partir de Laguna, no extremo sul do Estado, o contato entre as águas doce e salgada dos rios com o mar é substituído por outros ecossistemas que cumprem função semelhante. Entre eles, os chamados marismas, que também fazem absorção, captação e fixação de carbono da atmosfera”.
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Vai planeta. As vezes eu acredito, mas sempre na juventude.
Parabéns pela iniciativa!
“(…) em uma área de quase oito hectares, ou cerca de um campo de futebol de dimensões médias no campeonato brasileiro”. Essa conta tá totalmente errada, com todo respeito ao jornalista. 8 hectares são 80.000 m². O maior campo de futebol tem 10.800 m²
Prezado Rafael, obrigado pelo olhar atento.
O texto foi corrigido: oito hectares corresponde a cerca de 8 campos de futebol e não 1, como estava originalmente publicado.
att