O que ontem eram apenas rumores, se confirmou na manhã deste sábado (2), em Dubai: o Brasil vai mesmo entrar para o grupo expandido da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, conhecido como OPEP+. A confirmação veio do próprio presidente Lula, durante encontro com membros da sociedade civil.
“Muita gente ficou assustada com a ideia de que o Brasil iria participar da OPEP. Mas ele não vai participar da OPEP, o Brasil vai participar de uma coisa chamada OPEP+. É que nem eu participar do G7 […], é como se fosse o G7+: eu vou lá, escuto, só falo depois que eles tomaram a decisão e venho embora. Não apito nada”, disse, em uma tentativa de minimizar o impacto da notícia.
O petróleo, junto com carvão mineral e gás, são os principais causadores do aquecimento global e seus consequentes eventos extremos. A eliminação da exploração de tais combustíveis tem sido uma das principais demandas trazidas à Conferência do Clima da ONU.
A OPEP, criada em 1960, reúne hoje 13 grandes países produtores de petróleo no mundo, como Arabia Saudita, Irã, Iraque, Emirados Árabes e Venezuela. A sigla OPEP+ também inclui os chamados “países aliados”, que não integram a organização, mas atuam de forma conjunta em algumas políticas internacionais ligadas ao comércio de petróleo e na mediação entre membros e não membros.
Desde que a possibilidade de adesão do Brasil à OPEP+ veio à tona, na última quinta-feira, diferentes organizações chamaram atenção para a contradição entre o discurso de Lula em prol da necessidade de transição energética e a notícia hoje anunciada.
“Festejar a entrada no clube do petróleo no meio de uma conferência do clima é um escárnio”, disse ontem o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.
“Anunciar a entrada no Brasil na organização em pleno ano de 2023, enquanto deveríamos estar preocupados em acelerar a transição energética do país e criar planos para eliminar os combustíveis fósseis progressivamente é uma decisão completamente equivocada e perigosa, além de ser uma maneira errada de começar a construir pontes para a COP 30”, disse Leandro Ramos, diretor de programas do Greenpeace Brasil.
A justificativa dada por Lula é de que o país tentará “convencer” o cartel dos maiores exportadores de petróleo do mundo a promover a transição energética para uma matriz limpa.
“Acho importante a gente participar da OPEP+ porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis. E se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles usam com petróleo e fazer investimentos para que continentes como o nosso possam produzir os combustíveis renováveis que eles precisam [para a transição]”, complementou.
O convite para que o Brasil entre na OPEP+ foi feito na quarta-feira (29), durante a passagem do presidente Lula por Riad, capital da Arabia Saudita, e formalizada por meio de uma carta que o ministro Alexandre Silver recebeu no dia seguinte. Até esta manhã, no entanto, não havia uma declaração formal de interesse do presidente Lula pela sua aceitação.
Colômbia reforça posição contra fósseis
Na direção contrária ao Brasil, a Colômbia anunciou neste sábado que quer se afastar cada vez mais dos combustíveis fósseis. Na data, o presidente Gustavo Petro informou que o país se unirá formalmente ao bloco de nações que buscam negociar um Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis.
A rede global por trás da proposta agora é formada por 2 mil organizações da sociedade civil, mais de 3 mil cientistas e acadêmicos, 101 ganhadores do Prêmio Nobel, a Organização Mundial da Saúde, centenas de profissionais da saúde, o Parlamento Europeu, entre outros.
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