O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso de chefe de estado na tarde desta quarta-feira (16), na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Combate ao desmatamento e à fome, reconstrução dos órgãos ambientais brasileiros e priorização da agenda climática no Brasil estiveram presentes em sua fala, celebrada pelos presentes no evento.
“Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida. Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030 […] quero aproveitar esta conferência para anunciar que o combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu próximo governo”.
Participando do evento a convite do presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, Lula também afirmou que vai recriar e fortalecer todas as organizações de fiscalização e os sistemas de monitoramento que foram afetados pela política de desmonte do governo Bolsonaro.
“Nos três primeiros anos do atual governo, o desmatamento na Amazônia teve um aumento de 73%. Somente em 2021, foram desmatados 13 mil km². Essa devastação ficará no passado, os crimes ambientais que cresceram de forma assustadora no governo que está chegando ao fim serão agora combatidos sem trégua”.
Lula também anunciou oficialmente o retorno do Fundo Amazônia, paralisado desde 2019 após o governo atual modificar sua estrutura e mecanismos de gestão. Em um discurso longo, de 30 minutos, o presidente eleito criticou ainda a falta de compromisso de financiamento para as mudanças climáticas e a limitação da ONU em resolver as questões climáticas.
“Em 2009, os países presentes à COP 15 em Copenhague comprometeram-se em mobilizar 100 bilhões de dólares por ano, a partir de 2020, para ajudar os países menos desenvolvidos a enfrentarem a mudança climática. Este compromisso não foi e não está sendo cumprido”, cobrou.
Ele ressaltou que, apesar de o país estar aberto à cooperação internacional para a proteção das florestas, isso não afetaria a soberania nacional.
“Estamos abertos à cooperação internacional para preservar nossos biomas, seja em forma de investimentos ou pesquisa científica, mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.”
O presidente eleito ainda falou das medidas que pretende tomar para a transição da matriz energética brasileira e afirmou que os esforços de combate às mudanças do clima virão associados à luta contra a pobreza e a fome no Brasil. Também disse que o Brasil vai ajudar a construir uma ordem mundial mais pacífica, acertada no diálogo, no multilateralismo e na multipluralidade, o que se aplicaria à política interna brasileira.
“No pronunciamento que fiz no fim da eleição no Brasil, em 30 de outubro, ressaltei a importância de unir o país que foi dividido ao meio pela propagação em massa de fake news e discurso de ódio. Naquela ocasião, eu disse que não existem dois brasis, agora eu quero dizer que não existem dois Planetas Terra. Somos uma única espécie chamada humanidade e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desigualdades entre ricos e pobres”, disse.
Havia a expectativa de que Lula pudesse anunciar o nome do titular do Ministério do Meio Ambiente no discurso, mas isso não ocorreu. Uma hora antes, no Brasil, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin anunciou, em Brasília, os nomes dos integrantes da equipe que será responsável pela parte de meio ambiente na transição.
Carlos Minc, Izabella Teixeira e Marina Silva, três ex-ministros do Meio Ambiente, estão no Grupo de Trabalho. Também farão parte do colegiado o ex-governador do Acre Jorge Viana, além de José Carlos da Lima Costa, Marilene Correia da Silva Freitas, Pedro Ivo e Silvana Vitorassi.
O discurso de Lula na 27ª Conferência do Clima da ONU pode ser acessado aqui.
Agenda no Egito
Lula chegou na terça-feira (15) no Egito, onde a Conferência do Clima está sendo realizada. Na noite do mesmo dia, teve um encontro com John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para questões climáticas.
O conteúdo do que foi discutido ainda não foi revelado, mas a reunião já é uma forte sinalização do governo americano sobre a disposição do país em retomar o diálogo com o Brasil em questões não só ambientais, mas também econômicas.
Representantes do governo eleito já confirmaram as intenções de Lula em criar uma posição no Brasil semelhante ao que hoje John Kerry ocupa, de enviado especial nas negociações bilaterais internacionais sobre o clima.
No seu primeiro dia no Egito, Lula também participou de encontro com o representante do governo da China, Xie Zhen Hua. Hoje ele se encontra com Frans Timmermans, comissário climático da União Europeia.
Amanhã, Lula deve se encontrar com representantes da sociedade civil brasileira, às 10h, no Brazil Hub, e, às 15h, com o Fórum Internacional dos Povos Indígenas e o Fórum dos Povos sobre Mudança Climática (horário local). Lula permanece no Egito até o dia 18.
Além do presidente eleito, estão presentes na COP 27 vários membros da equipe de transição – oficiais e não oficiais – do novo governo, além de governadores, senadores, deputados e prefeitos.
Esta reportagem foi produzida como parte do Climate Change Media Partnership 2022, uma bolsa de jornalismo promovida pela Internews´ Earth Journalism Network e pelo Stanley Center for Peace and Security.
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