Um ano depois do incêndio, ocorrido no dia 2 de setembro do ano passado e que destruiu grande parte do acervo do Museu Nacional, o trabalho de reconstrução do prédio e de resgate e recuperação das peças avança – embora lentamente. De acordo com a direção da instituição, 46% das coleções (17, em números absolutos) foram perdidas em parte ou totalmente, 35% (13) estão com peças sendo resgatadas ou recuperadas e apenas 19% (7) não foram atingidas pelo fogo.
Antes do incêndio, as 27 coleções continham em conjunto 20 milhões de itens. Até fevereiro deste ano, o balanço divulgado na ocasião indicava que apenas 2.700 dessas peças haviam sido recuperadas. Agora, a instituição não revelou o número absoluto das que foram resgatadas. Por meio de sua assessoria de imprensa, a direção do Museu disse o seguinte: “Não estamos mais divulgando números de peças recuperadas, porque não temos esses números exatos. Hoje, temos apenas uma estimativa. A coordenação do Núcleo de Resgate não sabe quando teremos esse balanço em números absolutos, devido à dificuldade deste trabalho.”
Segundo a paleontóloga Luciana Carvalho, vice coordenadora do Núcleo de Regaste do Museu, composto por 46 pesquisadores, disse que entre os itens perdidos estão esqueletos de vertebrados, que se encontravam na reserva técnica da Museologia para futuras exposições. “Eles foram resgatados, mas estavam extremamente danificados devido ao fogo e desabamento”, contou. “Além disso, animais taxidermizados (empalhados), que estavam nesta reserva técnica, foram totalmente perdidos ou só restaram seus ossos danificados.”
Também as réplicas dos dinossauros Maxakalisaurus topai e do Tyrannosaurus rex, que estavam em exposição, foram totalmente perdidas. “Mas nesse caso, elas poderão ser reproduzidas novamente”, comemora Luciana. “Não é uma perda definitiva, portanto.” Entre o material que já foi resgatado e identificado, estão coleções peruanas, egípcias, da imperatriz Tereza Cristina, do Japão e da Nova Zelândia, representando um país de cada continente. Apesar desse sucesso inicial, Luciana diz que não se sabe ainda quanto do Museu poderá ser recuperado.
Para realizar o trabalho de reconstrução dos prédios e resgate do acervo e aquisição de equipamentos para realização de pesquisas científicas, o Museu Nacional conta com verbas do governo federal, da Unesco, órgão das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, e de doações. Do Ministério da Educação (MEC), a instituição recebeu R$ 16 milhões, dos quais R$ 8,9 milhões “foram utilizados nas obras emergenciais (escoramento das paredes, cobertura provisória e instalação dos contêineres para receber as peças resgatadas)”. Outros R$ 908,8 mil “serão utilizados para a elaboração do projeto de reconstrução da fachada e do telhado definitivo”.
Além disso, de acordo com a assessoria de imprensa do Museu Nacional, R$ 5 milhões serão geridos pela Unesco, “para a elaboração de dois projetos, um para a reconstrução interna do Palácio e outro para as novas exposições”. A diferença, R$ 1,1 milhão, “será utilizada para a aquisição de mais contêineres”. Mais R$ 10 milhões virão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Os recursos serão usados para a aquisição de equipamentos para a pesquisa científica e em ações de infraestrutura.”
De doações, por meio da Associação de Amigos do Museu Nacional (SAMN), a instituição recebeu, entre 6 de setembro de 2018 e 6 de junho de 2019, de pessoas físicas e jurídicas, mais de R$ 323 mil. Ainda em 2018, a Alemanha doou 180,8 mil euros para a aquisição de equipamentos como câmeras fotográficas, computadores e lupas, e, no dia 8 de junho de 2019, mais 145 mil euros para a recuperação de toda a parte elétrica do Museu Nacional.
“No entanto, até o mês de agosto de 2019, o Museu Nacional recebeu apenas 50 mil euros desse total”, diz nota à imprensa do MN. “A Alemanha prometeu até 1 milhão de euros, a serem repassados de acordo com as necessidades da instituição.” Outros R$150 mil foram doados pela Agência Britânica Internacional British Council, para a realização de intercâmbios educacionais e relações culturais dos professores e alunos do Museu Nacional. Indagada pelo O Eco, Luciana disse, por meio da assessoria de imprensa da instituição, que ainda não sabe se esses recursos são suficientes para as obras e a recuperação acervo.
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