Os tratores são protagonistas corriqueiros nos capítulos de destruição da floresta, mas dessa vez, eles são os responsáveis por danificar outro tipo de patrimônio: o histórico-cultural. A denúncia foi feita por um pesquisador enquanto observava por satélite a Fazenda Crixá, no sul do Acre, onde está um dos sítios de geoglifos que contam parte da ocupação milenar da Amazônia. Lá, onde normalmente se viam marcas suaves no terreno de pequenas valas que formam desenhos geométricos feitos a cerca de 2 mil anos pelos povos pré-colombianos que ocuparam a região, as imagens de satélite revelaram um sítio violado pela brutalidade de um trator, usado para aplainar a terra para adequá-la ao plantio de milho e pastagem.
A denúncia foi enviada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ao Ministério Público Federal (MPF). Uma equipe do Iphan foi a campo apurar a denúncia no dia 27 de julho e confirmou o dano ao geoglifo. “Na vistoria foi verificado que o sítio foi impactado pelo plantio de milho, durante o arado de plantio foram destruídos e mutilados as muretas e valetas que compõem o sítio arqueológico do tipo geoglifos, denominado Fazenda Crixá. A área foi embargada e o Ministério Público Federal foi notificado”, confirmou ao ((o))eco a assessoria de comunicação do Iphan.
De acordo com a assessoria, a propriedade rural pertence ao atual presidente da Federação de Agricultura do Estado do Acre, Assuero Veronez, que já era dono da fazenda vizinha, Campo Grande, e nos últimos anos comprou e anexou o território da Fazenda Crixá.
“O Iphan não pode penalizar, ele notifica o crime, ele é um fiscal. O MPF vai abrir um processo e quem vai penalizar e impor a pena é o judiciário. O Iphan pode embargar e o embargo foi feito”, reforça a assessoria, que esclarece que a multa não cabe ao Iphan. O órgão explica ainda que serão questionados os órgãos ambientais para apurar se havia algum processo de licenciamento de plantio envolvendo a fazenda e confirma que dentro do Iphan não houve nenhum tipo de anuência para qualquer ação no sítio.
Dentro de 15 dias será feita uma nova vistoria e fiscalização, para verificar se há movimentação no solo.
A denúncia foi feita pelo pesquisador Alceu Ranzi, especialista no estudo dos geoglifos da Amazônia e que há 20 anos estuda os desenhos. “Esse geoglifo da Fazenda Crixá foi um dos primeiros que nós fotografamos, em 2001. E eu estou sempre revisando, anotando. Ao fazer esse trabalho na semana passada, eu fui ver as imagens históricas e estava lá o geoglifo Crixá totalmente arrasado. Essas valas dos geoglifos são valas de 10 – 11 metros de largura, de 2 – 3 metros de profundidade. Isso atrapalha o trânsito das máquinas pesadas. E possivelmente o proprietário tenha passado o trator pra deixar tudo lisinho, bonitinho, pra ele poder fazer o que ele quer fazer, agricultura ou pecuária. Vendo as imagens eu comuniquei ao Iphan que fosse a campo e averiguasse, e também fiz uma representação ao MPF”, conta o pesquisador.
“A imagem de satélite é muito clara. Ele [o geoglifo] foi arrasado, ele foi preenchido, todas essas valas foram preenchidas”, lamenta.
O Iphan realiza vistorias anuais aos bens tombados – e em processo de tombamento – e sítios históricos registrados em todo Brasil. De acordo com a assessoria do Iphan, entretanto, a visita feita a Fazenda Crixá, no 2º semestre de 2019, não obteve sucesso. “Não conseguimos acesso a propriedade, a fazenda estava fechada e não conseguimos contato com o proprietário”, relataram os fiscais à época. O Iphan só voltou a propriedade no final de julho (27), após receber a denúncia.
De acordo com imagens de satélites obtidas por ((o))eco com apoio do MapBiomas, em julho de 2019 já é possível identificar a degradação dos geoglifos. Ao comparar com imagens de julho de 2018, a diferença é nítida. A assessoria do Instituto não soube informar se foi realizada uma vistoria anual em 2018 na fazenda e tampouco se já foi apurado, através de imagens de satélite, precisamente quando teria ocorrido a infração.
O jornalista Altino Machado escutou o proprietário da fazenda, Assuero Veronez. Em entrevista ao repórter, Veronez reconheceu a danificação do sítio arqueológico, mas explicou que foi um “erro”.
“A propriedade é minha há mais ou menos três anos. Houve um erro cometido pelo tratorista, que havia sido avisado sobre o sítio arqueológico. Mas, ao executar o seu trabalho, findou não observando os cuidados necessários e aterrou as valas dos geoglifos. Eu, sinceramente, não sei como resolver isso. Vou aguardar as orientações do Iphan para ver o que pode ser feito para mitigar os danos. Além disso, o sítio arqueológico é semelhante a centenas de outros existentes na região. Se existem centenas de geoglifos semelhantes, no meu entendimento a gravidade do fato tem uma importância relativa. No local foi plantado milho e hoje é pasto. Sobre embargar minha atividade agrícola, não sei em que isso iria contribuir”, declarou ao jornalista. Veronez também é ex-vice-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O embargo significa que o proprietário não pode mexer na plantação, nem colher, nem passar a máquina.
Os geoglifos
O primeiro sobrevoo dos geoglifos da Fazenda Crixá foi feito em 2001. Assim como ele, há centenas de marcações milenares similares espalhadas pelo solo amazônico, algumas talvez ainda desconhecidas sob o dossel da floresta.
“Os geoglifos são desenhos monumentais no solo que começaram a aparecer depois que se desmatou a floresta. Tirou a floresta, que se imaginava totalmente virgem, revelou uma verdadeira civilização que existia ali. São desenhos imensos. São desenhos, por exemplo, um quadrado de 100 m², círculos perfeitos com 100 metros, 200 metros de diâmetro, octógonos, hexágonos”, descreve Alceu. “A ideia que se tem é que seriam sítios cerimoniais. São centenas, monumentais e geometricamente perfeitos”, acrescenta.
A assessoria do Iphan acrescenta que o geoglifo da Fazenda Crixá era um sítio bem íntegro. “Na época do estudo, foi constatado um grau de até 75% de integridade, era um sítio em ótimo estado de preservação”.
Para tentar minimizar as perdas, o Iphan solicitou ao Centro Nacional de Arqueologia que seja desenvolvido um plano de trabalho de resgate de material arqueológico do sítio. “Cabe ao Iphan tentar resgatar o máximo possível do que foi destruído. Por mais que tenha destruído os geoglifos ali tem muito material arqueológico”, explica a assessoria. Via de regra, os geoglifos não são escavados para preservar as estruturas e não descaracterizar o sítio arqueológico.
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Quanta ignorância demonstrada em vários comentários aqui, anônimos é claro. Como se fosse necessário destruir algo que está ali a 2000 anos pra "pagar contas" ou "produzir alimento".
Kkkkkkkk. Vergonha isso. De certo Os geoglifos vai pagar as contas do produtor mesmo. Então fala para o governo comprar a terra a qual está esse desenho escroto. Caso contrário não enche o saco do produtor.
DÁ UMA OLHADA NA CONSTITUIÇÃO.
minérios pertencem a União. O solo subterrâneo pertence a União. UMA VEZ QUE TOMBAMENTOS OCORREM, DEVE TER ALGO SOBRE ISTO TAMBÉM.
FAZ COMO OS FAZENDEIROS DE BONITO ( MATO GROSSO DO SUL). o TURISMO DA TANTA GRANA LA QUE eLES PARARAM DE PLANTAR. Vivem do turismo
Esse argumento de "ser preciso produzir alimento" é falso. Mas, se esse sítio era importante porque estava "solto" sem controle?
Mais uma dessa classe que se auto intitula "cidadão de bem". Classe que, na verdade, reúne características bem menos afortunadas do que o título tenta fazer parecer: desprezo pela cultura, negação da ciência, racismo, misoginia, individualismo exacerbado, meritocracismo, e por aí vai.
E vc que é da turma do "mais amor por favor" sempre partindo pros clichês de sempre, já que não tem inteligência pra discutir com ninguém…
Pera aí! Fotografou ? Sim já …blz tudo certo então… Pedrão pode mete os trator e bora produzir kkkkk
PRODUZIR PARA QUEM. QUAL FOI A METRAGEM ENVOLVIDA. pERGUNTA PARA O DONO DA FAZENDA SE OS FILHOS DELES 9 OU ELE MESMO) JÁ FORAM A eUROPA. fAZER O QUE
Kkkkkkkkkkkk! Ri demais dos comentários!
Bom o dono da fazendo podia mesmo ter deixado o tal desenho intacto, às fazendas do Norte do Brasil são bem grandes e essa não deve ser diferente, mas dizer que valas cavadas no meio da floresta a dois mil anos, fazem parte da cultura brasileira e que são parte de uma história que não se pode perder é um grande exagero, tem 20 anos que o especialista estuda essas valas e o que se sabe ao certo é que não melhoram em nada a vida do povo mais desassistido do Brasil, o pobre e esquecido povo do Norte, sou do Amazonas e digo que a maior parte das pessoas que ficam falando da floresta, nada sabem sobre nossas vidas e o nosso sofrer neste lugar esquecido. Nós precisamos de trabalho não de filosofia inútil de gente que viaja pra Europa e EUA. No país inteiro se retira vários tipos de minério e petróleo no litoral brasileiro, europeus, americanos e canadenses também, mas quando se fala em remover uma pedra aqui no bioma amazônico surgi um monte de gente neste país e lá fora pra ser contra, é nosso estado, nossas vidas , nossa sobrevivência
Quanta bobagem sai das escritas acima.
Bando de analfabeto teimoso.
Só mesmo neste Brasil, tem tanta gentalha.
Se forem destruídos, o que pode ocorrer com o mundo daqui a dois anos e ou a 2000 anos, só queria saber isso, então não podemos apagar as pichações, pois, daqui a 5000 anos, será extremamente útil para saber que tínhamos idiotas em 2020?
Excelente comentario……precisamos cuidar da humanidade e não cair na lábia desse pessoal de ong e demais classes que somente sugam dinheiro público que deveria ser aplicado em saúde educação saneamento básico infra estrutura e etc
Nada contra os pesquisadores acho muito bom oque fazem……mas não concordo com dinheiro público……deveriam fazer essa boa ação com seu próprio bolso
ONGS NÃO SÃO NECESSARIAMENTE FINANCIADAS PELO GOVERNO BRASILEIRO OU OUTRO. MUITAS SÃO FINANCIADAS POR EMPRESAS.
TENTE SE APROXIMAR DESTE POVO E VEJA POR VOCÊ MESMO SE ÊLES SÃO VAGABUNDOS OU DESPERDIÇAM DINHEIRO.
eU JÁ VISITEI ASSENTAMENTO DO mst E DESCOBRI QUE ÊLES TRABALAHM MUITO, SÃO MUITO, MAS MUITO POBRES E MILAGRE,,, NÃO SÃO LADRÕES.
fui visitar OcupaçÕES E MILAGRE… O POVO É ORGANIZADO E TRABALHA, ALÉM DE ESTUDAREM. vOCÊ NÃO IMAGINA O PODER DOS FOFOQUEIROS OU IRRESPONSÁVEIS, PORQUE É MUITO TRISTE UM BRASILEIRO CHAMAR O OUTRO DE VAGABUNDO PORQUE SEU COLEGA NASCEU MISERÁVEL. nINGUÉM E TROUXA. a GENTE RECONHECE UM ENCOSTADO HÁ 10 KMS. . mAS NO NOSSO PAIS A MISÉRIA AINDA É GRANDE ( MISÉRIA DE CULTURA, EDUCAÇÃO, SENTIMENTOS, COMIDA, SAÚDE, SANEAMENTO, MORADIA, ETC…
Hahaha não concordo contigo, mas adorei sua resposta kkkkkk
Esse cara que denunciou deveria era ir trabalhar e parar de incomodar….! Cambada de vagabundos que não tem o que fazer, ficam cuidando da propriedade dos outros….!! Quem trabalha tem mais e que produzir mesmo e não dar dinheiro ou mídia pra esses vagabundos e ONGs que não vazem nada, vivem do mamando no dinheiro do governo,…viviam né….por isso estão tudo apavorados agora.
Pablo, Você já leu a Constituição Brasileira.
As terras de pertencem ( além da documentação legal) se você for PRODUTIVO, o subsolo pertence a União, mesmo que tenha escritura, etc, etc
No Brasil ruralista destrói tudo . Primeiro a floresta , por ultimo a história.
Fácil postar os comentários que quiser no anonimato. Existem coisas que são propriedade da Humanidade e não de uma só pessoa, estes geólogos como tudo que vem do nosso passado mais remoto, do passado da Humanidade nos ajuda a entender o que aconteceu lá atraz, sem entender o passado não saberemos para onde estamos indo. Mas é pedir demais para que algumas pessoas entendam isso, sim precisamos de alimentos, sim precisamos doa agricultores, mas aquele que tem muito sempre quer mais e mais… E por isso que estão acabando com as árvores
Saber do passado .geólogo não sabe nem oque comeu ontem vai saber do passado bando de vagabundo que não presta pra nada .
O que esse sujeito tá procurando na terra do outro, o patrimonio é do dono da fazenda , com certeza tem escritura , é o fim da rosca mesmo
E só nó Brasil que ó agricultor destrói tudo, até a fome daquele que passan anos criticando os agricultores!
Alguém se alimenta de um geoglifo? Quer conserva-lo compre a área ou pague arrendamento bando de hipócritas!
Marcelo, você é humano, um ser inteligente, e comida – que hoje temos em abundância – não é só que você precisa para viver. Você quer cultura, quer conhecimento, quer saber das coisas. E é a cultura, o conhecimento e o eterno desejo de querer saber das coisas as características que separam os humanos do restante dos animais. Então, quando você fala que, a essa altura da nossa história, o que importa é comer, você está, na verdade, se comparando a um animal qualquer, desses que passa a vida em busca de comida. Uma pena.
Parabéns pelo comentário, também penso assim, terra é terra mato é mato , porque não vão atrás dos derramadores de sangue , que mataram por equitares de terra.
Marcelo, normalmente quem vai comer este milho serão os animais para abate. Grandes fazendas produzem para o abate e/ou China.
A grana pode vir de turismo. Conheço gente seria que trabalha com turismo comunitario na Amazonia. Ficam anos (2 ou 3 só para começar) ensinando o povo a trabalhar , se proteger do turismo predatório e então fazem as conexões com turistas (infelizmente, em grande maioria estrangeiros)O Piaui tem uma parcela grande de turismo que vão visitar os sites pré-historicos. PRECISA-SE QUE O DONO SEJA "EDUCADO" SOBRE O VALOR DOS HIEROGLIFOS, ATÉ ELE EMBARCAR EM TRABALHO PARALELO. ou se juntar aos profissionais do turismo comunitario > O SESC CFP (Centro de Formação e Pesquisa) em Sao Paulo conhece muito bem estes profissionais.
Os fazendeiros de Bonito , com seus rios para mergulhos e avistamento de animais largaram as plantações e vivem de turismo O trabalho deles é só turismo. mas é muito bem feito e LUCRATIVO.
o que esperar de um ácefalo. Não conhece a legislação vai levar uma multa… um monte de gente estuda e se beneficia do turismo. Inclusive tem plataformas para as pessoas conhecerem os geoglifos seu animal