Foi um golpe para a diplomacia brasileira. Em um discurso contundente de aproximadamente 4 minutos, Waek Hamidan, representante de mais de mil ONGs que participaram do processo negociador como observadores da sociedade civil nas negociações da Rio+20, leu uma carta aos chefes de Estados pedindo que retirem do texto do documento final a frase “com a participação plena da sociedade civil”. O discurso aconteceu ontem, durante o primeiro dia do segmento de Alto Nível da Rio+20, composta por chefes de Estado e de Governo.
Hamidan, que trabalha na Climate Action Network International, discursou em nome do “major group” de organizações sociais. “As ONGs não apoiam esse texto de maneira nenhuma”, afirmou.
“Em qualquer conferência das Nações Unidas, nunca houve esse nível de participação da Sociedade Civil. Nós estamos inovando cada vez mais para incluir a sociedade civil”, afirmou ontem o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, secretário executivo do Brasil na Rio+20, durante coletiva de imprensa. Figueiredo lembrou também que em 92, durante a Cúpula da Terra, a sociedade civil ficou isolada no Aterro do Flamengo.
De fato, essa é a primeira conferência das Nações Unidas com ampla participação da sociedade civil. Além de participarem de todo o processo de elaboração da conferência, o Brasil ainda criou os “Diálogos do Desenvolvimento Sustentável”, onde a sociedade civil podia trazer recomendações em 10 temas. As recomendações foram levadas aos chefes de Estado, o problema é que o texto já está pronto e fechado. Como fazer com que essas recomendações entrem no acordo? Não entram.
O jeito é dizer que não irão participar. O discurso de Hamidan terminou com um pedido para que os chefes de Estado mudem o documento: “mas não acreditamos que isso [a conferência] acabou. Vocês estão aqui por mais três dias. E vocês ainda podem inspirar a nós e ao mundo. Será uma vergonha se vocês vieram aqui apenas para assinar o documento. Nós pedimos que vocês tenham a vontade política de mudar essa posição e assim nós iremos aplaudi-los como nossos verdadeiros líderes”.
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