Após criticas de organizações ambientalistas por atrasar as divulgações dos dados de desmatamento, o governo publicou na sexta-feira (29) os dados do Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), ferramenta que auxilia o Ibama na fiscalização de desmatamento e mudança de solo na Amazônia. Pelos números, que não eram divulgados desde junho, o desmatamento na Amazônia continua aumentando.
Em junho foram verificados 535 km², um aumento de 155% em relação a junho de 2013, quando foram desmatados 210 km² na Amazônia. Já em julho houve o registro de 729 km2 de alerta de desmatamento, aumento de 236% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram registradas 217 km² de perda de florestas.
Porém, o dado mais significativo vem da análise dos acumulados do ano. De agosto de 2013, quando se começa a contar o ano no calendário do desmatamento, a julho de 2014, foram registrados aproximadamente 3035 km² de perda de floresta, contra 2765 km² de perda registrado no mesmo período do ano anterior (agosto/2012 a julho 2013), um aumento de 9,8% de um ano para o outro. Os dados do Deter não são usados para mensurar o desmatamento anual, pois têm uma precisão menor do que os usados no Prodes, o sistema oficial. Porém, servem para demonstrar a tendência de aumento e essa aponta para cima.
Atrasos
O que tem criado desconfiança entre os ambientalistas é a demora na divulgação de dados consolidados do Prodes, que mede o desmatamento anual na Amazônia Legal. Os dados preliminares foram divulgados em novembro do ano passado, durante a 19ª Conferência das Partes do Clima (COP – Polônia). Na ocasião, foi anunciado um aumento de 28% no corte raso (quando há retirada total de madeiras) na Amazônia, indo para o patamar de 5.843 km² de floresta derrubada, contra 4.571 km² registrado no ano anterior.
O esforço que o governo faz para publicar os dados preliminares do desmatamento anual durante a ocorrência de encontros do clima (COPs) acontece desde 2008, ainda durante a gestão da Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente. Porém, o governo atrasou a divulgação dos dados consolidados, que confirmam os números preliminares (feitos por amostragem) ou corrigem as diferenças que nunca passaram de 10% para cima ou para baixo o número. Esses números normalmente são divulgados em maio e junho. Esse ano, isso não aconteceu.
No dia 19 de agosto, o Instituto Socioambiental (ISA) protocolou um ofício requisitando aos ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação, Clélio Campolina Diniz, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, acesso aos dados consolidados do Prodes, referentes ao desmatamento de 2013, e aos dados do Degrad referentes a 2011, 2012 e 2013.
Em menos de uma semana os dados de Degrad saíram. Nessa segunda, o governo publicou os dados do Deter, falta saber quando os números consolidados do Prodes de 2013 será tornado público.
*A matéria foi editada para corrigir um erro na primeira versão que publicou um aumento de 168% na área de desmatamento detectada pelo Deter, quando, de fato, esse número foi de 9,8%.
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