Um trabalho conjunto que envolve a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e a população tem recuperado o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) ao longo de 30 anos. No entanto, a construção de um complexo industrial – que inclui um porto privado localizado em frente à Ilha do Mel, no município de Paranaguá (PR) –, poderá colocar todo trabalho de conservação a perder e empurrar a espécie novamente para a extinção.
Em 2014, o Ministério do Meio Ambiente alterou a classificação do papagaio-de-cara-roxa na lista brasileira de espécies ameaçadas para “quase ameaçada”. Em 2018, foi a vez da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em Inglês) mudar a categoria da espécie de Vulnerável para quase ameaçada de extinção.
Trabalho de recuperação
Nestas três décadas, o trabalho para a conservação da população da Amazona brasiliensis compreendeu a recuperação de ninhos naturais observando-se quais as áreas mais utilizadas pela espécie para dormitório. Os pesquisadores observaram que a partir de 2011, dois dormitórios localizados no município de Paranaguá que abrange a Ilha do Mel e a Ilha da Cotinga, começaram a abrigar um número maior de papagaios, chegando a 4 mil indivíduos em 2018 e 3.500 em 2019. A maioria dos papagaios-de-cara-roxa deslocam-se ao longo do dia para as planícies litorâneas de Pontal do Paraná e região do Guaraguaçu (em Paranaguá) em busca de alimento.
“[A espécie] está como “quase ameaçada” devido a dependência de ninhos artificiais para reprodução”, analisa Elenise Sipinski, oordenadora do censo que contabiliza a espécie.
Segundo Sipinski, o porto em Pontal do Paraná ficaria a menos de três quilômetros da Ilha do Mel, que é um Patrimônio da Humanidade reconhecido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). E para que o complexo industrial possa ser construído, quatro milhões de metros quadrados de Mata Atlântica deverão ser derrubados, comprometendo diretamente o habitat do papagaio-de-cara-roxa.
“Ao longo de quase 30 anos, muitos esforços foram feitos para a recuperação do papagaio-de-cara-roxa. Um trabalho que contou com um exército de profissionais, voluntários e moradores do litoral que diariamente, no período reprodutivo do papagaio, visitavam, cuidavam dos ninhos e realizavam inúmeras atividades educativas para que todos soubessem que essa espécie precisava da ajuda de cada um – morador e turista – para se manter na natureza”, disse.
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