A Advocacia-Geral da União (AGU) tornou público nesta terça-feira (22) um parecer feito a pedido do Ministério de Minas e Energia em que contesta a necessidade da realização da Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) para o licenciamento ambiental de empreendimentos de exploração e produção de petróleo. A ausência da avaliação foi um dos itens citados pelo presidente e área técnica do Ibama ao negar licença para a Petrobras perfurar na bacia da foz do Amazonas, em maio.
Segundo a AGU, a ausência da AAAS não é indispensável e não poderia travar a realização de empreendimentos de produção de petróleo e gás natural, como argumentou o Ibama ao negar a licença.
Em maio, o presidente do Ibama afirmou que a Petrobras não conseguiu sanar pontos críticos do projeto, que apresenta “inconsistências preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental”. Um dos pontos levantados foi a ausência de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), o que tornava difícil tomar uma decisão sobre futuras explorações petrolíferas na bacia. Para a AGU, do ponto de vista jurídico, o instrumento não é exigível no âmbito do licenciamento ambiental.
Conciliação
A AGU também encaminhou à Câmara de Mediação e de Conciliação da Administração Pública Federal (CCAF) uma solicitação de abertura de processo administrativo de conciliação entre o Ibama e o Ministério de Minas e Energia. Segundo a advocacia, “o objetivo da medida é buscar a resolução consensual dos demais pontos divergentes relativos ao caso, incluindo os levantados pelo Ibama na negativa do licenciamento sobre os impactos de sobrevoos para as comunidades indígenas e o plano de proteção à fauna”, outros pontos citados no parecer do Ibama ao negar a licença.
Para Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama, o mecanismo de conciliação é inadequado dentro do licenciamento ambiental. “Já se sabia que a AAAS não é uma obrigação legal. O STF já havia dito isso. Mas o Ibama não recomendou a AAAS porque é obrigatória; ele o fez, porque é importante tecnicamente. O pior é achar que o licenciamento ambiental é um espaço de conciliação de interesses ou de acordos políticos. O licenciamento tem de ser pautado por análises técnicas”, disse.
Do ponto de vista da legislação, o Ibama é soberano em negar ou conceder qualquer licença ambiental e ao órgão é dada a última palavra. Em entrevista aos jornalistas Giovana Girardi e Bruno Fonseca, de a Pública, realizada na noite desta terça-feira, Suely afirmou que o licenciamento é uma análise técnica que não deveria ser submetida a uma câmara de conciliação. “Não há uma divergência jurídica para a AGU conciliar. A questão não é jurídica, o que está pegando é uma decisão técnica, que não está sendo aceita, é isso. Poderia até haver divergências jurídicas, mas elas não existem”, disse.
Leia também
Ibama nega licença para Petrobras perfurar na bacia da foz do Amazonas
Alegando inconsistência no projeto, presidente do órgão acompanhou parecer da área técnica e negou licença para estatal realizar perfuração em área na bacia da Foz do Amazonas →
Ativistas do Amapá protestam contra exploração na Foz do Amazonas
Falsa esperança de prosperidade e o temor pela contaminação de recursos hídricos e pelo risco de impossibilidade da pesca figuram entre argumentos dos que fazem frente contra o projeto →
“Não adianta pressionar”, avisa presidente do IBAMA à Petrobras
Além de enfrentar o risco de esvaziamento de seu aparato por decisão do Congresso Nacional, o Ministério do Meio Ambiente enfrenta uma dura crise dentro do Poder Executivo →
O interessante é notar como a notícia foi apresentada aqui no ((o))eco e nos sites pró-governo, como o Brasil 247. Lá apresentaram o parecer da AGU como questão definitiva para a perfuração do petróleo, como se não houvessem mais questões técnicas a serem esclarecidas e resolvidas. É impressionante o que a ideologia faz, cega a todos.